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Congelamento de aluguéis pode piorar acesso à habitação, diz estudo

Medida, como a proposta pelo prefeito eleito de Nova York, diminui oferta de imóveis e leva a efeito rebote nos preços, aponta GRI

Nova York: os moradores gastam uma parte cada vez maior do salário com o aluguel (Gary Hershorn/Getty Images)

Nova York: os moradores gastam uma parte cada vez maior do salário com o aluguel (Gary Hershorn/Getty Images)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 19 de novembro de 2025 às 14h57.

Última atualização em 19 de novembro de 2025 às 15h06.

Acontece no Brasil e no mundo todo: quem compra um imóvel compromete uma boa parte da renda nessa aquisição. Em alguns países menos, em outros mais. O acesso ainda restrito à moradia própria está gerando uma "epidemia do aluguel", como define o CEO Global do Global Real Estate and Infrastructure Institute (GRI Institute), Gustavo Favaron.

O orçamento sofre menos, mas ainda apanha, já que a locação de um imóvel também está ficando mais cara — e a tendência é que os preços continuem subindo, afirma o executivo.

No Brasil, até outubro de 2025, o índice FipeZap registrou uma alta acumulada superior a 10% nos preços de locação nos últimos 12 meses, enquanto a inflação medida pelo IPCA ficou em 4,68% no mesmo período. O preço mediano de um apartamento de um quarto em Nova York, por exemplo, supera US$ 4,4 mil por mês, o dobro da média nacional dos Estados Unidos, segundo o índice da Zillow, empresa de pesquisa que acompanha a variação de preços de aluguéis em diferentes regiões do país.

“Os EUA acumulam um déficit habitacional de quatro milhões de unidades. A pressão pós-pandemia, somada à inflação dos últimos anos e à elevação das taxas de juros, empurrou famílias de classe média para a beira da inviabilidade financeira”, explica Favaron.

Congelamento de aluguéis

Congelar os aluguéis por quatro anos foi uma das promessas de campanha que ajudou a eleger o novo prefeito de Nova York, Zohran Mamdani. O discurso político focado no enfrentamento da crise habitacional não é novo e ganha força toda vez que a população perde poder aquisitivo.

Mas para o CEO do GRI Institute, congelar aluguéis é uma intervenção agressiva para um mercado como o imobiliário, um dos mais regulados e sensíveis do mundo.

Os aluguéis disparam porque a oferta de imóveis está em baixa. E se os preços são congelados, a tendência é que ela diminua mais ainda, fazendo o aluguel encarecer lá na frente. Essa é a conclusão é de um levantamento inédito do GRI que analisou mais de 40 pesquisas publicadas entre 2020 e 2025.

O estudo identificou esse mesmo padrão em diferentes países. Quando os preços são congelados por um tempo, os aluguéis novos recuam entre 3% e 10%. Mas a oferta de imóveis para locação também cai, e em maior intensidade, de 10%, até 50%. Em paralelo, lançamentos imobiliários encolhem de 6% a 8%.

Resultado: quando acaba o período de aluguéis congelados, os preços voltam a subir, e ficam de 6% a 8% mais altos do que estavam antes do congelamento.

Conclusão do estudo tem exemplos reais

Em Berlim, na Alemanha, a lei Mietendeckel, aprovada em 2020, derrubou os preços dos aluguéis, mas reduziu a oferta de imóveis em até 70%, segundo o Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW). A regra foi revogada no ano seguinte, e os preços não demoraram nada para voltar subir.

Na Catalunha, na Espanha, o controle adotado também em 2020 causou retração de 20% nos novos contratos de aluguel e encolhimento de 10% no estoque de moradias. Dois anos depois, quando o controle foi revogado, os valores retornaram ao patamar anterior. Em St. Paul, nos Estados Unidos, o reajuste do aluguel ficou limitado a 3% por seis meses e a consequência disso foi uma queda de nada menos que 80% nos lançamentos imobiliários.

“O padrão se repete: queda inicial dos preços, retração da oferta e novo aumento no médio prazo”, diz Gustavo Favaron.

Quem fica não quer sair, quem está fora não entra

O estudo também concluiu que o congelamento de preços altera a dinâmica do mercado como um todo. Quem já tem contrato de aluguel vigente, quando o preço é congelado, tende a permanecer mais tempo no imóvel, protegido pelos preços travados. Por outro lado, famílias que buscam um novo contrato enfrentam escassez de opções e exigências mais rígidas por parte dos proprietários.

“Cria-se um mercado segmentado: de um lado, inquilinos protegidos; do outro, uma disputa crescente por imóveis disponíveis”, afirma Favaron. A consequência é o agravamento da desigualdade de acesso à moradia, sobretudo para famílias de baixa renda.

No longo prazo, a rentabilidade limitado dos contratos de aluguel também compromete a qualidade do estoque habitacional. Muitos proprietários reduzem investimentos em manutenção, o que contribui para a deterioração urbana, principalmente em áreas mais vulneráveis.

Nesses locais, aumentam os aluguéis informais, o que contribuiu com uma alta rotatividade e até o esvaziamento de bairros centrais.

Problema real, solução nem tão eficiente

“O debate sobre moradia acessível é urgente”, diz Favaron. “Mas congelar preços não resolve o problema, apenas o transfere no tempo e para outros grupos sociais".

A pesquisa conclui que políticas mais eficazes passam por estímulos à oferta e à diversidade habitacional. Entre as alternativas sustentáveis estão a revisão de zoneamentos urbanos, incentivos para a construção de habitações acessíveis para aluguel e parcerias público-privadas.

“A resposta está no planejamento urbano e no investimento coordenado entre o setor público e privado”, afirma Favaron. “Quando se estimula o investimento — e não se impõe barreiras — o mercado tende a responder com mais diversidade, qualidade e equilíbrio", opina.

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