Faria Lima: Diogo Castro e Silva, sócio da Finvest Climate, defende transição como oportunidade para mercado imobiliário
Repórter de Invest
Publicado em 25 de outubro de 2023 às 07h50.
Última atualização em 25 de outubro de 2023 às 16h26.
No Brasil, o desmatamento é o principal entrave para a agenda de descarbonização e, por consequência, acaba sendo o foco do debate, em especial quando o assunto é a Amazônia. Existe, no entanto, um outro setor que pode ganhar protagonismo na agenda: o mercado imobiliário.
“Cerca de 40% da pegada de carbono global vem do setor imobiliário. É uma questão incontornável, mas que tem um enorme potencial ganha-ganha: não existe oposição entre sustentabilidade e retorno nesse mercado”, afirmou Diogo Castro e Silva, sócio da Finvest Climate. A gestora, focada 100% na questão climática, promove nesta quarta-feira, 25, a 1ª edição da Conference on Climate Change and Real Estate Decarbonization, encontro para pensar em estratégias de descarbonização dentro do setor imobiliário.
Os impactos do segmento no meio ambiente ocorrem em duas frentes. A primeira vem dos materiais de construção, com destaque para o cimento que representa em torno de 8% das emissões de carbono globais segundo cálculos do instituto de pesquisa britânico Chatham House. E a segunda, vem da energia empregada nas operações imobiliárias, como as fontes de iluminação e refrigeração dos prédios.
“Existem prédios envidraçados, por exemplo, onde o sistema de refrigeração está voltado para o vidro – o que traz uma alta ineficiência. Isso mostra que não é uma questão apenas de renovar os equipamentos, mas de repensar a própria construção”, avaliou.
Para os edifícios já construídos, a atualização e modernização terá um custo alto. Por outro lado, pode funcionar como garantia da continuidade do valor do imóvel. “Um edifício que não se moderniza e não é eficiente do ponto de vista energético vai se desvalorizar ao longo do tempo. É um problema para o proprietário do imóvel e também para o investidor que tem o ativo na carteira”, disse Castro e Silva.
A discussão está mais madura no exterior, em especial na Europa, onde reguladores já começaram a exigir eficiência energética dos edifícios comerciais. Aqui no Brasil, a pressão começou pelas multinacionais estrangeiras, mas, na avaliação do gestor, já encontra adesão também entre as principais companhias abertas nacionais – e tem potencial para avançar ainda mais.
“O setor imobiliário tem tudo para ser protagonista na agenda de descarbonização. Os sistemas já estão muito bem estabelecidos, não precisaram ser criados agora como foi o caso das florestas. Então é uma oportunidade concreta que pode, inclusive, se realizar a curto prazo”, defendeu.
De olho nesse mercado, a Finvest Climate lançou neste ano um fundo de venture capital que pretende captar até US$ 40 milhões para descarbonizar o mercado imobiliário. Serão de 15 a 20 projetos investidos que busquem soluções transformadoras em materiais, formas de construção e eficiência energética.
O fundo firmou ainda uma parceria com o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) para a criação uma base de dados que possa traduzir a descarbonização como métrica financeira. Vale lembrar que a falta de padronização nos dados ainda é um dos principais entraves para a aplicação da agenda ESG.
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