Mercado imobiliário

Como a crise causada pela Braskem em Maceió afeta o mercado imobiliário

Preocupação é com áreas adjacentes às que já foram interditadas pelo afundamento do solo

Prédios desocupados pela Defesa Civil no bairro do Pinheiro, em Maceió (Leo Caldas/Exame)

Prédios desocupados pela Defesa Civil no bairro do Pinheiro, em Maceió (Leo Caldas/Exame)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 23 de dezembro de 2023 às 08h21.

Última atualização em 26 de dezembro de 2023 às 20h57.

Mais de cinco anos se passaram desde que a população de Maceió começou a sentir os efeitos das atividades da Braskem. O afundamento do solo causado pela exploração das minas de sal-gema da petroquímica afetou 2,5% da área urbana de Maceió, e levou ao deslocamento forçado de mais de 60 mil pessoas. 

Em um primeiro momento, houve um boom no mercado imobiliário residencial da cidade. O aluguel recebeu o primeiro impacto, mas as vendas vieram logo atrás: houve uma alta de 76% no preço do imóvel de 2019 para cá, segundo dados do Fipezap. Apenas este ano, o preço do imóvel em Maceió subiu para R$ 8,2 mil por metro quadrado, uma alta anual de 15,44% – a maior entre as capitais brasileiras.

“As indenizações pagas pela Braskem [para aqueles que tiveram de deixar suas casas] migraram para o mercado imobiliário. Houve sim um impulso nos preços, mas nunca é bom avançar através do sofrimento de uma área”, afirmou Nilo Zampieri, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais de Alagoas (Secovi-AL).

A região onde o afundamento aconteceu fica fora do circuito turístico e não estava no foco de crescimento do mercado imobiliário de Maceió. “Ainda assim, era uma região tradicional de residências e comércio. O colapso das minas matou o crescimento desses bairros.”

Agora, a grande preocupação é com as áreas adjacentes ao que já foi interditado pela Defesa Civil. O tema voltou aos holofotes este mês, após o rompimento da mina 18 da Braskem, em Mutange, no início de dezembro. Não houve feridos e a Defesa Civil fala em processo de estabilização. Ainda assim, as áreas próximas aos bairros afetados estão em alerta.

Na avaliação de Zampieri, um dos principais pontos de atenção é a Avenida Fernandes Lima, coração do mercado imobiliário corporativo de Maceió. Endereço de grandes empresas, bancos e concessionárias, a avenida está muito próxima da área hoje interditada (veja imagem abaixo). Diante do abalo na mina 18, existe o temor de que a área de interdição seja expandida. “A Defesa Civil está fazendo visitas de inspeção aos imóveis, o que pode aumentar a área de bloqueio e, assim, atingir artérias importantes da cidade.”

Mapa da Defesa Civil com área afetada pelo afundamento do solo em Maceió. Em vermelho, a Avenida Fernandes Lima (destaque do Secovi). Foto: Divulgação

As áreas adjacentes são afetadas também no setor residencial. O principal problema é a incerteza sobre a inclusão de novas áreas no setor interditado. “Existem ruas em que um lado da calçada está bloqueado e outro, atravessando a rua, não está. A área de bloqueio deveria ter sido ampliada”, avaliou Alfredo Brêda, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Alagoas (Sinduscon-AL).

Brêda reforça que, na prática, o raio afetado pela tragédia já é maior que o bloqueio. “Seguradoras não oferecem seguro para os imóveis no entorno da região interditada, o crédito imobiliário é negado e os negócios quase não são feitos. Não há quem queira comprar.”

A situação gerou um deslocamento geográfico na cidade que, segundo o Sinduscon, favoreceu os bairros da parte alta da capital, como Benedito Bentes e Santa Lúcia. Já o Secovi destaca ainda o desenvolvimento do mercado do litoral sul, com foco na classe média.   

Entenda o caso

Em fevereiro de 2018 começaram as rachaduras nas paredes e, em março do mesmo ano, um tremor de terra apavorou os moradores de Maceió. No ano seguinte, o Serviço Geológico do Brasil confirmou que a causa do tremor de terra e de afundamentos observados em bairros da capital alagoana vinha da exploração das 35 minas de sal-gema da Braskem.

A empresa explorou durante mais de 40 anos o minério em áreas urbanas de Maceió, que geraram cavernas subterrâneas e causaram o afundamento do solo.

Desde 2019, mais de 60 mil pessoas tiveram de deixar suas casas, que ficaram para trás formando bairros fantasmas. Foram cinco os principais atingidos: Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol. 

As minas foram completamente desativadas, mas seguem trazendo preocupações: no último dia 11 de dezembro, a mina 18 da Braskem, localizada no bairro Mutange, sofreu um rompimento. Não houve feridos.

Sal-gema e o histórico de exploração em Maceió

O sal-gema é usado pela indústria química para a fabricação de PVC, um dos materiais produzidos pela Braskem.

A atividade de extração de sal-gema em Maceió teve início em 1976 pela empresa Salgema, que mudou posteriormente de nome para Trikem. A Trikem foi uma das cinco empresas que fizeram parte da fusão, em 2002, que deu origem à Braskem. 

Dada a importância da região, em 2012, a Braskem inaugurou sua fábrica de PVC no polo industrial de Marechal Deodoro, cidade próxima de Maceió. A produção foi paralisada em 2019, e posteriormente retomada em 2021, utilizando minério importado do Chile.

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