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A Selic tem um impacto importante em outras taxas de juros no mercado, o que inclui as de financiamento imobiliário. (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Mercados
Publicado em 8 de maio de 2025 às 06h03.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu, na noite de quarta-feira, 7, elevar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, atingindo o patamar de 14,75%. Com isso, a taxa de juros acumula uma série de aumentos que iniciou em setembro de 2024.
A taxa anterior, de 14,25%, já era o maior patamar do índice desde 2016. Com a elevação atual, a taxa chegou em seu maior nível desde 2006.O ciclo de altas é motivado pelo objetivo do Banco Central de controlar a inflação, que tem se mantido acima da meta oficial, e ocorre em um cenário de economia aquecida e incertezas internacionais. Mas, além da inflação, a Selic tem um impacto importante em outras taxas de juros no mercado, o que inclui as de financiamento imobiliário.
Com juros mais altos, a capacidade de pagamento do consumidor diminui, o que naturalmente reduz o número de novos financiamentos e desaquece o mercado. Além disso, a elevação da Selic tende a tornar aplicações de renda fixa mais atrativas do que a poupança e o investimento em imóveis, levando parte dos investidores a realocar seus recursos.
Como a Caixa quer ampliar o crédito habitacional no paísOutro impacto importante está no funding do sistema imobiliário, afirma Peixoto Accyoli, CEO da rede de franquias RE/MAX Brasil.
“Como os financiamentos habitacionais no Brasil, especialmente os do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos), são sustentados majoritariamente por recursos da caderneta de poupança, a migração de capital para ativos mais rentáveis reduz a base de captação dos bancos. Isso limita a oferta de crédito e pode pressionar as taxas para cima, mesmo que a demanda esteja contida”, explica.
Segundo o especialista, no fim das contas, o principal impacto indireto da Selic alta para quem já tem um financiamento é a pressão sobre o orçamento familiar. Com a elevação geral do custo do crédito e possíveis efeitos sobre a inflação de serviços, aumenta o risco de inadimplência — sobretudo em famílias mais expostas ao endividamento.
"Nesses casos, vale a pena acompanhar o mercado e avaliar, se for possível, a portabilidade do financiamento para uma instituição com melhores condições", aconselha.
Para quem está planejando financiar um imóvel, a alta da Selic impacta diretamente o custo total do crédito. As taxas oferecidas pelos bancos tendem a subir, reduzindo o valor do imóvel que o comprador consegue financiar ou tornando as parcelas mensais menos acessíveis. Isso pode adiar decisões de compra, especialmente entre famílias da classe média.
"Desde 2016, houve uma expansão relevante no crédito imobiliário, mas os dados mais recentes já indicam desaceleração. A expectativa para 2025 é de um ambiente mais restritivo, devido a três fatores principais: a elevação dos juros, a redução dos recursos da poupança disponíveis para crédito e o cenário de instabilidade fiscal e política no país', afirma Accyoli.
Mas, embora a Selic influencie as taxas, ela não é o único determinante.
O custo do funding, especialmente da poupança, e a concorrência entre bancos também impactam as condições oferecidas. Por isso o financiamento pode continuar sendo uma boa alternativa, principalmente para quem quer comprar o primeiro imóvel. No entanto, o consumidor precisa avaliar com cautela sua capacidade de pagamento e o perfil do contrato.
O programa Minha Casa, Minha Vida é menos sensível à Selic porque utiliza recursos do FGTS e conta com subsídios públicos. Isso faz com que os contratos consigam manter taxas de juros mais baixas e estáveis, mesmo em contextos de alta na taxa básica de juros.
No entanto, os efeitos indiretos da Selic elevada não podem ser ignorados. "O rendimento do FGTS tende a ficar defasado em relação a outros investimentos, o que pode aumentar a pressão por saques e comprometer a sustentabilidade do fundo no longo prazo", lembra o CEO da RE/MAX Brasil.
Os custos de produção dos empreendimentos — como financiamento para incorporadoras, materiais e mão de obra — também tendem a subir em ambientes de juros altos. Isso pode afetar a viabilidade de novos projetos, especialmente nas faixas de menor renda, cujas margens são mais apertadas.
"Para contratos com taxa de juros fixa, que são a maioria no Brasil, a alta da Selic não altera as condições pactuadas. O mutuário continuará pagando o mesmo valor de parcelas até o fim do contrato", afirma Accyoli.
Nos casos de financiamentos com taxas pós-fixadas ou indexadas à TR (Taxa Referencial), pode haver alguma variação nos encargos.