Atacante francês Kylian Mbappé: futebol local espera lucros após Copa (Reuters/Reuters)
Guilherme Dearo
Publicado em 18 de julho de 2018 às 12h20.
São Paulo - Vinte anos depois do primeiro título, a França conquistou o bicampeonato da Copa do Mundo no último domingo (15), com quatro gols no tempo regulamentar e muita chuva após o apito final, para lavar o alma ao levantar a cobiçada taça dourada em Moscou.
A chuva que lavou a alma dos jogadores e encheu o povo francês de entusiasmo e sentimentos patrióticos também deve prenunciar tempos de vacas gordas para a federação francesa de futebol (FFF) e para o esporte local.
Segundo pesquisa inédita de Amir Somoggi, fundador da empresa de marketing esportivo Sports Value, a FFF e a liga nacional francesa devem ver, nos próximos anos, um aumento considerável em suas receitas e patrocínios, tudo graças ao sucesso na Rússia.
O estudo "Impacto no futebol francês do bicampeonato mundial" foi divulgado em primeira mão ao site EXAME.
Nos últimos anos, a saúde financeira da FFF e da Ligue 1 (a série A francesa) só aumentou, tornando o futebol local cada vez mais competitivo e chegando perto de outras ligas europeias de prestígio, como a italiana. Atualmente, a liga francesa é a quinta maior do continente.
Entre 2013 e 2017, por exemplo, a FFF viu sua receita com patrocínios saltar de 76,8 milhões de euros para 87,5 milhões de euros.
Segundo Somoggi, tal receita com patrocínios chegará perto dos 100 milhões de euros em poucos anos.
Outras fontes de dinheiro da federação incluem os direitos televisivos (52,7 milhões de euros em 2017) e a venda de ingressos (15,8 milhões de euros em 2017).
Já o faturamento da liga principal, de 1,64 bilhão de euros atualmente, pode chegar a 1,9 bilhão de euros nos próximos anos. Tal valor colocaria o futebol francês perto do italiano: a liga da Itália faturou 2,1 bilhões de euros no último ano.
A receita com transmissões televisivas não deve mudar em um primeiro momento, já que o contrato vigente é recente. Será preciso esperar pelo término e renovação para renegociar novos valores. Aí, sim, o aumento virá.
Outro crescimento previsto, segundo o estudo, será no faturamento da Ligue 1 com a transferência de jogadores franceses. A valorização dos jogadores alemães foi tremenda após o título de 2014, trazendo lucros para a Bundesliga. O mesmo deve acontecer com os jogadores dessa seleção: valorização dos passes, mais transferências e aumento de seus valores.
"A seleção se valorizará. Haverá mais interesse pela marca. A liga e os times se beneficiam, com mais audiência, público nos jogos, interesse dos patrocinadores e consumo de produtos", explica Somoggi.
Segundo o estudo, o modo como o futebol francês se estrutura permite uma organização e controle sérios nos quesitos financeiro e esportivo. Algo que a liga brasileira poderia copiar, sem dúvida.
O órgão DNCG (Direção Nacional de Controle de Gestão) fiscaliza esportes locais, como futebol, basquete e handebol, e verifica riscos financeiros na gestão dos times. Assim, está sempre de olho em problemas e fraudes de administração e chega a punir pesadamente times cujos administradores saem da linha.
Tal controle financeiro é essencial em um futebol que vê cada vez mais dinheiro rodando.
Desde que o PSG foi comprado pelo Qatar Sports Investment, em 2011, o grupo vem injetando recursos na liga e puxando o crescimento e interesse de adversários.
Os gastos salariais da liga da primeira divisão, por exemplo, saltaram de 862 milhões de euros em 2013 para 1,08 bilhão de euros em 2017.
O time de Paris tem, de longe, a maior receita da liga, 503 milhões de euros em 2017. O segundo colocado, o Lyon, só faturou 198,3 milhões de euros naquele ano.