Raquel Virgínia, fundadora da Nhaí!: posts de oportunidades engajam mais do que os de transfobia e mostram a importância da inclusão de pessoas trans (Thiago Bruno/Reprodução)
Marina Filippe
Publicado em 29 de setembro de 2021 às 07h00.
Última atualização em 30 de setembro de 2021 às 17h22.
Com a intenção de mapear e compreender as narrativas protagonizadas por pessoas trans nas redes sociais, as empresas de marketing Zygon e Nhaí e agência de conteúdo Casé Fala coletaram 164,93 mil publicações e 5,5 milhões de interações no Twitter em cinco meses.
O resultado está na pesquisa Universo Trans, que aponta um recorte social e mostra que 70% das pessoas trans ou travestis pretas e periféricas falam mais sobre racismo associado a temas como corpo e transição, oportunidade e identidade, do que sobre os demais assuntos que permeiam seus estilos de vida.
Além deste dado, a pauta mais debatida é a transfobia com 88,6% das menções, seguido de identidade 4,78%, luta e aceitação 4,03%, oportunidade 1,51% e corpo e transição 1,07%. “Com estes dados, foi possível ver as diferentes nuances sobre o que se fala online a respeito do universo trans. Há predominância, ainda, de relatos de transfobia, mas vemos como outras pautas estão em crescimento”, duz Lucas Reis, CEO da Zygon.
Já identidadefoi o segundo assunto mais debatido e teve um aumento de 133% no período da pesquisa. Só o termo “pronome” aparece em mais de 25% de todos os conteúdos relacionados à identidade.
“Além de existir uma imposição de padrão estético no corpo trans, tem também a sua objetificação e exigência de servir como um marcador social. O processo de aceitação e de assumir-se perante a sociedade é algo mais difícil para pessoas negras e periféricas”, afirma Raquel Virgínia, fundadora da Nhaí!
Ainda de acordo com dados da pesquisa, o tema oportunidade teve maior número de tweets realizados no dia 29 de janeiro de 2021, dia da Visibilidade Trans e Travesti. E ao longo do tempo ganhou força, apresentando uma taxa de engajamento 22% superior em média. Entre as publicações, 31% está em busca de oportunidade e 47% busca visibilidade, os demais abordam assuntos como empreendedorismo.
Visibilidade
Há também um pico, com 33 mil tweets, em 17 de maio, Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, com exigências de igualdade, respeito, contra a discriminação e violência. Outra questão muito comentada foi a participação da esteticista Ariadna Arantes, uma mulher trans, no reality No Limite, levantando menções sobre a importância da representatividade na mídia.
A pesquisa mostrou ainda que posts sobre oportunidades engajam 22% a mais que posts sobre casos de transfobia. “Isso mostra a importância da inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho, o quanto querem, procuram e engajam no assunto”, afirma Raquel Virgínia.
A interseccção também importante para a visibilidade positiva das pessoas trans. “Atualmente se fala sobre a importância da diversidade, mas para evoluir é necessário ter um olhar atento e mais profundo para questões de raça e gênero. A pesquisa colabora para avançar com a pauta para além do mês do Orgulho LGBTQIA+, ao incentivar a evolução e inclusão de pessoas trans estrategicamente nos negócios”, dizem Patrícia Casé e Fabiana Oliva, cofundadores da Casé Fala.