O SXSW 2025, em Austin, Texas, traz uma programação diversificada, com destaque para a presença do Brasil, que continua a fortalecer sua representatividade no maior festival de inovação e criatividade (Divulgação/SXSW)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 6 de março de 2025 às 18h35.
Última atualização em 6 de março de 2025 às 20h11.
AUSTIN, TEXAS – Um dos maiores festivais de inovação e criatividade do mundo, o South by Southwest (SXSW), inicia nesta sexta-feira, 7, sua edição de 2025 em Austin, no Texas (EUA), com o Brasil figurando, pelo segundo ano consecutivo, entre as maiores delegações internacionais. A informação foi confirmada por Tracy Mann, responsável pelo Desenvolvimento de Negócios Internacionais do SXSW no Brasil, em entrevista à EXAME.
"O DNA do brasileiro tem tudo a ver com o SXSW", diz a executiva, destacando a convergência de temas como tecnologia, arte, cinema e música que o festival proporciona. Para ela, essa combinação ressoa diretamente com as características multifacetadas e criativas do país. "O brasileiro tem uma tendência a compartilhar novidades, o que impulsiona a promoção do evento", acrescenta.
Apesar de uma ligeira diminuição este ano, com aproximadamente 2.300 brasileiros esperados, em comparação aos 2.500 do ano passado, a representatividade do país se mantém expressiva em relação às demais delegações internacionais, tanto na audiência quanto na participação na programação oficial do festival, que reuniu um público com mais de 500 mil pessoas em 2024.
A 39ª edição do SXSW, que vai até o dia 15 de março, apresentará sua tradicional mistura de eventos, experiências e inovação, com uma programação repleta de atividades simultâneas, o que costuma gerar o famoso fear of missing out (FOMO). "Muitas atividades acontecem ao mesmo tempo. Em um determinado horário, pode ter até 40 opções, como oficinas e eventos nas ruas. Você escolhe uma e depois descobre que poderia ter ido a outra ainda mais interessante", explica Mann.
Ao todo, serão realizados mais de 1.500 painéis e palestras, além das programações de filmes e música, ao longo dos oito dias de evento, um pouco mais enxuto em relação a edição passada. Entre os nomes mais aguardados estão Jay Graber, CEO da Bluesky, Meredith Whittaker, presidente do aplicativo Signal, a renomada produtora Issa Rae, o CEO da IBM Arvind Krishna e o ícone do rock John Fogerty.
Nesta quarta-feira, 5, os organizadores anunciaram que a ex-primeira-dama Michelle Obama participará de uma sessão ao lado de seu irmão Craig Robinson, que é diretor executivo da National Association of Basketball Coaches e apresentador do podcast ‘Ways to Win’.
Amy Webb, Skyway Man e Brené Brown estão entre os palestrantes mais aguardados pelos brasileiros, segundo a executiva. “Já os principais temas que devem dominar as discussões em 2025 incluem a inteligência artificial e o futuro das mídias sociais, com foco nas fake news, refletindo o cenário global e a atual tensão política nos Estados Unidos”, afirma Mann.
Sobre isso, inclusive, ela comenta que alguns canadenses desistiram de participar do evento este ano em resposta às tarifas impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump — o chamado ‘tarifaço’, de 25% sobre as importações do Canadá — e que alguns europeus também têm evitado viajar aos EUA.
"Uma preocupação em relação aos brasileiros é que, segundo relatos, em outros eventos, após a posse de Trump, a imigração tem fiscalizado esses locais e congressos, exigindo documentos, passagens aéreas e outros requisitos", revela Mann, destacando que a organização do SXSW está atenta e preparada para oferecer suporte.
O clima político, no entanto, não impediu que a programação seguisse seu curso, preservando o espírito do 'Keep Austin Weird' (Mantenha Austin Estranha, na tradução), presente nas ruas e em itens de lojas de souvenir. Berço musical de Willie Nelson e lar do magnata Elon Musk, a cidade receberá Jay Graber, CEO do Bluesky, concorrente do X (antigo Twitter), no próximo dia 10, como uma das principais atrações do evento – reflexo dessa dualidade de Austin, onde a tradição cultural e a cena independente coexistem com a modernidade e o dinamismo impulsionados pela chegada das big techs.
“Se analisar a programação, há muitos assuntos que agora são proibidos pelo presidente dos Estados Unidos. Estou apenas esperando para ver como as coisas vão se desenrolar”, diz a executiva.
De acordo com estudo da Greyhill Advisors, no último ano, o impacto do SXSW na economia local foi de US$ 377,3 milhões para empresas e residentes, uma leve queda em relação aos US$ 380,9 milhões registrados em 2023, quando o evento registrou um retorno aos níveis de movimentação econômica observados pela última vez na edição de 2019, antes da pandemia de covid-19.
A participação do Brasil está confirmada com nomes como Ronaldo Lemos, CSO do ITS, que discutirá a tecnologia para a participação cidadã, e Rodrigo Montesano, head de brand experience do Itaú, que abordará as ativações de marca no exterior.
O festival também contará com a presença de mentores brasileiros, como a atriz Maria Paula Fidalgo e Renata Borges, gerente de contas na Effect Sport/NFL Brasil, além de representantes de grandes empresas, como Renata Gomide, VP de marketing de O Boticário, e Cesar Augusto Souto Pereira, chefe de estratégia e sustentabilidade da Embraer.
“É um desafio meu conseguir mais espaço para os brasileiros a cada edição”, ressalta Mann. Ela explica que a curadoria é feita principalmente por duas vias: o PanelPicker, que recebe propostas enviadas em junho e julho do ano anterior, e é avaliado por uma equipe de 15 curadores, com apoio de conselhos de áreas como inteligência artificial. As ideias passam por uma análise crítica e, depois, por votação pública.
A segunda via consiste na escolha de keynotes (palestrantes principais) e featured speakers (palestrantes convidados), selecionados diretamente pela equipe do SXSW. Além disso, uma pequena parte da programação inclui conteúdos patrocinados, por meio dos quais Mann consegue trazer mais representatividade brasileira.
"Essas sessões também passam pela curadoria para garantir que não sejam apenas publicidade de marca. Este ano, estamos no mesmo patamar do ano passado, sem grandes expansões. No entanto, alguns painéis organizados por estrangeiros, com brasileiros como palestrantes, são muito interessantes e têm grande valor", complementa.
Além da programação oficial, o evento contará com atividades paralelas promovidas por marcas, empresas e entidades parceiras. Nas ruas de Austin, já é possível ver grandes pinturas e cartazes em vinil produzidos pela KAP Media Group, para marcas como Rivian, Paramount e FX (Disney). Esses painéis se tornaram ferramentas de marketing de grande visibilidade, orientando visitantes para as ativações do evento.
A SP House, organizada pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, InvestSP e Prefeitura de São Paulo, ganhou um espaço maior que a edição anterior. Com 1.200 m², o local reunirá uma série de painéis e agenda focada em tecnologia, cultura e sustentabilidade, além de música e oportunidades comerciais. A iniciativa, que conta com o apoio de empresas como Ambev e Toyota, gerou um impacto econômico superior a US$ 102 milhões em negócios fechados em 2024.
Outros patrocinadores brasileiros do festival deste ano incluem o Itaú, que mantém o status de 'super sponsor' pelo terceiro ano consecutivo, além de O Boticário, Embraer, Latam, Hospital Albert Einstein e Único. Segundo Mann, o número de empresas caiu de dez para oito em relação ao ano anterior. Ela atribui essa redução, em parte, à alta do dólar, aos custos elevados de passagens e hospedagem, e à proximidade do festival com o Carnaval.
Apesar da redução, Tracy destaca a qualidade da participação brasileira como um dos principais pontos positivos. Ela observa que o Brasil se sobressai ao "compartilhar os aprendizados do evento antes e depois", com agências, entidades e consultorias, como a oclb, se dedicando a analisar e disseminar os conteúdos do festival, criando um engajamento contínuo ao longo do ano. Essa é uma característica que, segundo ela, poucas delegações internacionais têm na mesma intensidade.
“Acho que o Brasil traz um brilho para o evento; sem ele, seria muito mais pobre”, diz Mann. “Gostaria que mais brasileiros viessem, mas não no sentido de apenas fazer turismo. Quero que tragam conteúdo, ideias e provocações. Isso enriquece muito a experiência”, finaliza.