Jay Graber, CEO da Bluesky: o futuro das redes sociais será descentralizado (Reprodução/YouTube)
Publicado em 10 de março de 2025 às 21h26.
Última atualização em 10 de março de 2025 às 21h46.
AUSTIN, TEXAS -- Jay Graber, CEO da Bluesky, subiu ao palco do SXSW nesta segunda-feira, 10, com uma difícil missão: revelar ao público qual é o futuro das redes sociais. Para a executiva, embora esse seja um cenário difícil de prever, ele está atrelado ao conceito de descentralização e à maior autonomia dos usuários.
De acordo com ela – que usava uma camisa com a inscrição "Um mundo sem Césares", uma alfinetada clara a Mark Zuckerberg (veja abaixo) – a plataforma tem trabalhado para desenvolver uma estrutura na qual os usuários terão controle sobre como desejam que seus dados sejam utilizados pela inteligência artificial generativa.
O modelo é bem diferente do proposto por concorrentes como o X (antigo Twitter), de Elon Musk, que tem utilizado postagens dos usuários na rede social para treinar o chatbot de IA Grok. “O que queremos fazer é transferir o poder de volta para usuários e desenvolvedores", explicou.
Originalmente desenvolvido como um projeto interno do X, a BlueSky (céu azul, em tradução direta) tornou-se independente em 2021 e ganhou popularidade após a polêmica decisão de Musk, que adquiriu o X em 2022, de limitar o número de tuítes diários para usuários não verificados.
Inicialmente, o acesso ao BlueSky exigia um convite de um amigo para ingressar na plataforma. Mas, em fevereiro de 2024, essa restrição foi removida, facilitando a adesão de novos usuários.
No Brasil, a migração de usuários para a nova plataforma ocorreu com maior força durante a suspensão do X, após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), oconforme noticiou a EXAME, quando a plataforma atingiu 1 milhão de perfis em três dias.
De acordo com a plataforma de dados e estatísticas Statista, o Brasil é o sexto maior mercado do X no mundo, com 21,5 milhões de usuários, atrás dos Estados Unidos, Japão, Índia, Indonésia e Reino Unido.
Segundo Graber, em pouco mais de dois anos de operação, a Bluesky já atingiu mais de 32 milhões de usuários, e segue com apenas 21 funcionários.
“Espero que as pessoas não vejam as redes sociais apenas como tóxicas, porque há muitas coisas boas e sabemos que há muito a ser feito para melhorá-las. Se a inovação vier apenas de uma empresa, não há muito que possa ser feito. Mas, com protocolos abertos, se quiser ter uma experiência diferente, basta simplesmente construí-la”, disse.
Muitos entusiastas da tecnologia perceberam que Jay Graber mandou um recado silencioso para Mark Zuckerberg. Ela usou uma camisa preta estampada com a frase ‘Mundus sine Caesaribus ("Um mundo sem Césares", em latim).
O modelo é semelhante ao usado por Zuckerberg durante o Meta Connect 2024. Porém, a frase escolhida pelo CEO dizia: ‘Aut Zuck aut nihil ("Zuck ou nada”, um trocadilho com o ditado “Aut Caesar aut nihil”: “Ou César ou nada”).
A CEO da Bluesky também destacou que o modelo descentralizado proposto pela plataforma consegue, sem suas palavras, "limitar a atuação dos bilionários de big techs". E falou: "Se um bilionário tentasse arruinar as coisas, os usuários poderiam simplesmente sair da plataforma sem perder sua identidade ou dados".
Para a CEO, a moderação das redes sociais é uma escolha ativa sobre como um ambiente online deve ser regulamentado. Ela explicou que, no caso da Bluesky, a plataforma oferece um serviço de moderação em várias camadas, com os usuários podendo adicionar outros serviços de moderação.
Desenvolvedores e construtores de comunidades têm a capacidade de criar seus próprios serviços de moderação independentes e instalá-los no aplicativo. Esses serviços podem ter funções específicas, como "rotular imagens geradas por IA" ou filtrar conteúdo político.
"A moderação é governança. É escolher como você quer que seu espaço digital seja administrado e as regras que deseja que as pessoas sigam", finalizou.