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Sportainment: o futuro do esporte passa pelo entretenimento (e pela geração Z)

King’s League é a prova de que os hábitos de consumo dos fãs moldam as necessidades da indústria esportiva

Criador da King’s League, Gerard Piqué atrai marcas e influenciadores para um novo modelo de consumo esportivo (Harold Cunningham/Getty Images/Getty Images)

Criador da King’s League, Gerard Piqué atrai marcas e influenciadores para um novo modelo de consumo esportivo (Harold Cunningham/Getty Images/Getty Images)

Gilmar Junior
Gilmar Junior

Colunista

Publicado em 21 de julho de 2025 às 22h39.

Não sei você, caro leitor, mas eu, após o período da pandemia — em que não tínhamos os esportes tradicionais sendo disputados e transmitidos ao vivo —, me tornei mais crítico com o modo como gasto meu tempo. Com o entretenimento, não é diferente. Temos tantas opções que, por vezes, passamos mais tempo escolhendo o que fazer ou assistir do que consumindo a coisa em si.

E com isso, passamos a adquirir novos hábitos específicos. Por exemplo: para quem mora junto, geralmente há uma série que a família precisa assistir junta. E, se alguém se aventura a ver algum episódio sozinho, pode acabar gerando conflitos.

Em paralelo, há coisas que temos prazer em fazer sozinhos. Eu, por exemplo, tenho alguns tipos de entretenimento que quase sempre estão atrelados ao esporte. Um deles é acompanhar as transferências do futebol. Confesso que isso me faz mais feliz, além de me manter informado. Por exemplo, duvido que você saiba que o zagueiro nigeriano Jordan Torunarigha está deixando o Gent, da Bélgica, com destino ao Hamburgo, da Alemanha, sem custos de transferência.

Há um formato de conteúdo que sempre prende minha atenção: jogos antigos de futebol das plataformas de videogame com equipes clássicas customizadas pelos jogadores, os chamados patches. Seja o Brasfoot, Winning Eleven, Pro Evolution Soccer ou FIFA. Adoro relembrar escalações clássicas de times que marcaram minha infância enfrentando equipes igualmente boas de outras décadas. Onde mais eu conseguiria isso se não ali, no virtual?

Esses hábitos pessoais refletem uma transformação maior: a forma como o esporte é consumido. É aí que entra o conceito de sportainment.

Sportainment

O que escrevi até agora é para dizer que, ao longo da minha vida, fui dando meu jeito de reinventar o consumo de esporte. Neste caso específico, o futebol. Isso não quer dizer que parei de assistir aos jogos. Muito pelo contrário. Acredito que esse tipo de subterfúgio me ajudou a continuar consumindo os 90 minutos de muitas partidas que passam na TV, no streaming ou no rádio.

Quando me deparei com o termo “sportainment”, minha primeira reação foi de espanto, pois, para mim, é óbvio que o esporte é um tipo de entretenimento — olhando pela perspectiva do espectador. Mas, refletindo um pouco mais, o uso do termo carrega uma forma de respeito por quem entende o esporte como uma filosofia de vida. Ou até mesmo como um objeto de estudo, em uma plataforma isolada.

Não se sabe ao certo quem cunhou o termo, mas o mercado esportivo passou a utilizá-lo para explicar esse caminho entre a performance esportiva e o roteiro do entretenimento. Gosto de olhar para a WWE (World Wrestling Entertainment), a famosa luta livre, como um grande exemplo. No fim, o intuito é focar no show.

O fenômeno King’s League

Se você ainda não viu, provavelmente vai ouvir falar da King’s League. Resumidamente, é um produto típico do conceito de sportainment, que mistura futebol 7 com elementos do universo digital durante os jogos. A liga, criada pelo ex-zagueiro do Barcelona e da seleção espanhola, Gerard Piqué, tem um apelo ainda maior por reunir megainfluenciadores do mundo inteiro.

Entre eles, estão os futebolistas Neymar, Vinícius Júnior, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Casillas, Agüero, James Rodríguez e nomes conhecidos da internet como Jake Paul, Ludmilla, Gaulês, Nobru, Toguro, entre outros.

São muitos os fatores que indicam que a liga é um sucesso. O principal deles é a capacidade de prender a atenção. No online, a audiência chegou a 3,5 milhões de aparelhos conectados simultaneamente para assistir ao Brasil vencendo a Colômbia na King’s World Cup Nations. A final da King’s League Brasil foi disputada no Allianz Parque, em São Paulo, com mais de 40 mil pessoas presentes.

Com essa movimentação, marcas como Cimed, iFood, Adidas, YoPRO Brasil e Mondelez já apoiam a liga. Já no Mundial, estão presentes nomes globais como McDonald's, Red Bull, Spotify e AirAsia.

Isso tudo sem contar que a King’s League captou US$ 65 milhões para financiar a expansão global, com novas ligas na Europa, América do Norte e Brasil — e já com a sinalização de entrada na Ásia em 2026. Tudo isso serve ainda mais de atrativo para o público. Segundo a Deloitte, 85% de quem assiste tem menos de 34 anos.

Nem tudo cabe na TV

De acordo com o estudo Faces do Esporte, da MindMiners, realizado no segundo semestre de 2024, a TV ainda é o meio preferido do brasileiro para acompanhar esporte: 65%, contra 48% das redes sociais, 38% da TV fechada, 31% do streaming e 28% de sites e portais — a soma ultrapassa os 100% porque os respondentes podiam escolher mais de um meio de preferência.

Mas, quando olhamos para a geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), vemos que os jovens já usam mais as redes sociais (56%) do que a TV aberta (54%) para acompanhar conteúdos esportivos, em comparação com outras gerações. E, segundo o último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), essa geração já representa mais de 10% da população brasileira. A TV, por sua vez, tem uma limitação de 7 dias por 24 horas — o que não é um problema para o streaming, que pode operar com vários jogos ou campeonatos simultaneamente.

Não é uma ameaça. É um convite para repensar as estruturas

No esporte tradicional, inovações costumam ser recebidas com ceticismo. Foi assim com o modelo atual da Champions League, que acabou se tornando um atrativo a mais. A Copa do Mundo de Clubes de 2025 também reflete essa necessidade de mudança. Portanto, iniciativas como a da King’s League são louváveis, pois trazem uma nova opção ao cardápio de entretenimento — que, no caso, também é esportivo.

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