Uma apresentação vencedora desponta do compromisso irrestrito com a mensagem e o alinhamento com o público, e não com a tela (andreswd/iStockphoto)
Estrategista de Comunicação
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 12h22.
Existem dois tipos de profissionais quando o assunto é apresentação: os que usam slides e os que juram nunca usar. Os primeiros acreditam que o apoio visual ajuda a conduzir o raciocínio, estruturar ideias e reforçar argumentos. Os segundos preferem confiar na força da palavra, na presença e no improviso.
Alguns, raríssimos, dominam a arte de falar de forma espontânea. Outros se perdem no próprio raciocínio ou, pior, flertam com o stand-up. O resultado você já pode imaginar...
Nenhum dos dois está necessariamente certo ou errado. Aliás, o problema não está no PowerPoint em si, e sim no uso que se faz dele.
Antes, é importante dizer: eu faço parte do Time 1, o dos profissionais que usam slides ou essas “telas deslizantes” que podem ser ponte ou muro, a depender de como são usadas. Elas tanto ajudam a transmitir uma mensagem quanto podem servir de escudo para quem teme se expor.
Um levantamento da Prezi em parceria com a Harris Poll revelou que, quando os slides dominam o palco, as apresentações se tornam mais cansativas – 28% do público passa o tempo trocando mensagens, 27% checam e-mails e 17% acabam dormindo.
Também há ciência por trás da conexão. Estudos de neurociência mostram acoplamento neural entre quem fala e quem escuta: quando a história engaja, os cérebros “entram em sintonia”. Quando a comunicação falha, isso já não acontece.
Criar vínculo em vez de projetar dados
A reflexão sobre o uso ou não dos slides no palco me acompanha há tempos. Mas foi palestrando aqui em Miami, Flórida, para empreendedores e executivos brasileiros no Hub BR Nation, ecossistema de internacionalização, conexões e negócios, que isso ficou mais evidente.
Na plateia, ao menos 30 líderes de Real Estate, finanças, mineração, marketing, direito, apoio a imigrantes, inteligência artificial e móveis de luxo. Um público tão diverso quanto exigente. Ali percebi, mais uma vez, que para falar com tanta diversidade de repertórios, apenas slides não bastam.
Era preciso ter outro tipo de vínculo: aquele que nasce da escuta, da presença e da autenticidade.
Hoje, o que mais se vê são profissionais escondidos atrás da tela. Gráficos que saltam, tabelas que confundem.
Muitos acreditam que projetar mais dados e “frases instagramáveis” é projetar mais autoridade. Só que não é.
Uma apresentação vencedora desponta do compromisso irrestrito com a mensagem e o alinhamento com o público, e não com a tela.
Troquei o modo “enciclopédia” por telas leves: uma ideia por slide, espaço em branco, títulos que já explicam o assunto. Mais sinal, menos ruído – regra básica de design de apresentação, popularizada por Garr Reynolds.
Minha tese é simples: a comunicação que atravessa países, setores e gerações é híbrida – humana na entrega, digital no suporte. E tenho lugar de fala, pois vi o mesmo erro se repetir em São Paulo, Luanda, Manaus, Austin e Tel-Aviv: slides indigestos, cheios de texto e design ultrapassado, tentando compensar a ausência de mensagem.
A solução não é abolir o PowerPoint? Jamais! A solução é dar propósito a cada página. Conduzir uma sala exige algo que a tecnologia não entrega: vulnerabilidade, presença, escuta real.
Aqui vão três ajustes que valem ouro para o seu próximo talk:
O primeiro é abrir com uma mensagem única. Diga o que o público deve lembrar logo no início e retome essa ideia no final. Isso ajuda a fixar o conteúdo, especialmente entre plateias que absorvem rápido e dispersam fácil.
O segundo é conversar, não narrar slides. Fazer perguntas, observar reações e convidar à participação transforma a fala em experiência e cria o que a neurociência chama de sintonia entre quem fala e quem escuta.
Por fim, corte o ruído visual: uma ideia por tela, menos bullets, mais contraste e clareza. O objetivo não é impressionar pelo design, mas guiar o olhar de quem está ali. Sem distrações.
Ajuste o ritmo. Use pausas. Leia os sinais. Isso convence mais do que qualquer gráfico reluzente.
No palco, como na vida, não vence quem exibe mais telas. Vence quem move pessoas.