Marketing

Uma segunda vida para o crocodilo

A Lacoste viveu o pesadelo de ver seus consumidores envelhecerem. A conquista de um público mais jovem parece ser a senha para seu crescimento - sobretudo em mercados como o Brasil

Palmari, da Lacoste: lojas com ar descolado para atrair a moçada (.)

Palmari, da Lacoste: lojas com ar descolado para atrair a moçada (.)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Num mundo marcado pela efemeridade como é o da moda, poucas empresas podem se orgulhar de ter uma marca tão longeva quanto a francesa Lacoste. Fundada em 1933, a empresa está hoje presente em 112 países e fatura quase 1,5 bilhão de euros. Seu logotipo, um inconfundível crocodilo verde, é imediatamente associado a roupas esportivas voltadas para um público de alto poder aquisitivo, na maioria praticante (ou apenas amante) de tênis e golfe. Com o passar dos anos, o pesadelo de muitas empresas tornou-se realidade para a Lacoste. Seus consumidores envelheceram - e, junto com eles, a percepção que os jovens consumidores têm da marca. (Segundo a própria empresa, a Lacoste é tida como uma marca voltada para homens de 40 a 55 anos.) As vendas mostraram o que isso podia significar.

No início desta década, o crescimento mundial médio da companhia não passava de 4% ao ano. Para combater a estagnação e a perspectiva de decréscimo ainda maior no número de consumidores com o passar dos anos, em 2000 a Lacoste iniciou o trabalho de renovação de sua marca, de modo a torná-la popular entre consumidores de 25 a 35 anos - faixa etária ávida por consumir produtos de moda e tecnologia. "Esse esforço vem gerando bons resultados na Europa e nos Estados Unidos", disse a EXAME o espanhol José Luis Durán, ex-presidente mundial do Carrefour, contratado em julho para ocupar o cargo de principal executivo do grupo francês Devanley, que detém 35% da Lacoste e é responsável pela gestão da marca no mundo. "Agora chegou a vez do Brasil. É daqui que virá boa parte do nosso crescimento nos próximos anos."

Para atrair o público jovem, a Lacoste manteve seu logotipo intacto em produtos completamente novos - processo que começou lá fora e agora ganha força no Brasil. As linhas de roupas, antes limitadas a algumas peças esportivas e às tradicionais camisas tipo polo, cresceram cerca de 40%, alcançando 350 modelos diferentes. Entre os novos produtos estão bolsas, tênis, óculos e até um celular, que a companhia pretende lançar no início de 2010. A abrangência do público foi ampliada. Crianças e mulheres jovens, normalmente consumidoras mais entusiasmadas, entraram no foco da empresa.

A intenção é atrair famílias inteiras para dentro das lojas. Isso mostra como a Lacoste, normalmente associada à qualidade e ao conservadorismo, precisou rever alguns de seus conceitos - mais especificamente sua elegância discreta baseada em tons como preto, branco e azul-marinho. Cerca de 60 tonalidades vibrantes, como laranja, verde, lilás e amarelo, ganharam força nas coleções. "No setor de vestuário, quanto maior o sortimento de produtos de uma marca, mais ela é percebida como moderna e jovial", diz Ruy Santiago, da consultoria Bain&Co., especializado no setor de consumo. "É assim que as empresas mostram que estão antenadas."


Neste ano, estima-se que o público jovem responderá por quase 15% do faturamento da Lacoste no Brasil - ante 7% em 2008. Mundialmente, há indicadores ainda mais expressivos. A taxa média de crescimento anual é cerca de 15% - quase quatro vezes a do início da década.

Além de renovar o portfólio de produtos, a operação brasileira da Lacoste vem reformando sua rede de lojas. Até o fim do ano, cerca de 85% de suas 60 franquias terá os móveis em tons sóbrios substituídos por prateleiras brancas e algumas araras. A ideia é deixar o ambiente com um ar mais despojado - além de permitir que o cliente manuseie com mais facilidade as peças. "Os consumidores jovens são autossuficientes e informais", diz Ricardo Palmari, presidente da Lacoste no Brasil. "Não fazia sentido mantermos vendedores monopolizando o acesso às roupas." Ao mesmo tempo, a Lacoste vai reforçar sua atuação em lojas multimarcas. A empresa pretende dobrar a presença nesses pontos nos próximos três anos, alcançando 700 lojas no país."Com tudo isso, o Brasil deixará de ser uma operação irrelevante para se tornar a quarta maior do grupo", diz Durán.

A busca pelo público jovem -  e pela própria juventude - é quase um imperativo no mundo da moda. Marcas como Ralph Lauren, Hugo Boss e Tommy Hilfiger vêm investindo há pelo menos dez anos nesse público para acelerar o crescimento, sobretudo por meio da venda de acessórios como bolsas, óculos e sapatos. "Para não colocar em risco a reputação da grife, essas empresas criaram subcategorias de produtos", diz Markus Stricker, sócio da consultoria AT Kearney especializado em varejo e bens de consumo. "Dessa forma, elas conseguem atrair novos consumidores sem abrir mão da aura de nobreza que permeia sua história." Na alemã Hugo Boss, estima-se que menos de 50% do faturamento mundial de 1,6 bilhão de euros em 2008 veio de seus prestigiados paletós -  no ano 2000, essa linha respondia por 70% da receita total. Ganhará o jogo quem convencer a moçada de que é possível ser cool e quase aristocrático ao mesmo tempo.

Banho de loja

Como a Lacoste quer rejuvenescer sua marca no Brasil:

Mais modelos: O mix de roupas, antes limitado a peças esportivas para tênis e golfe e camisas tipo polo, foi aumentado em cerca de 40%, para 350 modelos

Cores vibrantes: Além das tradicionais tonalidades sóbrias, como preto, branco e azul-marinho, passou a oferecer peças em cores vibrantes, como laranja, verde e lilás

Apelo feminino: As roupas para mulheres e crianças ganharam mais espaço nas lojas. Além disso, a empresa investiu na fabricação de acessórios como bolsas e tênis

Ambiente despojado: Nas lojas, os móveis em tons escuros estão sendo substituídos por prateleiras na cor branca e por araras. Com isso, o ambiente ganhou ar mais despojado

Acompanhe tudo sobre:MarcasModaestrategias-de-marketing

Mais de Marketing

'Esqueceram de Mim': Macaulay Culkin revive Kevin em campanha de Natal

SXSW 2026 detalha programação com mais de 250 sessões temáticas

CMOs ganham protagonismo na agenda de sustentabilidade corporativa

Ser 'esquisito' está em alta — e a Vans trouxe o Felca pra provar