Segundo o relatório, além da ascensão de mulheres e negros no consumo, existem também públicos como o evangélico e o GLS ganhando evidência (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2011 às 11h01.
São Paulo - Especialista no estudo do comportamento da Classe C – ou melhor, da Nova Classe Média brasileira, termo mais amplo e atual quando se trata desse público – o publicitário André Torretta, fundador e sócio-diretor da consultoria de marketing A Ponte Estratégia, lança o Relatório de Futurismo 2014 – 2021. O estudo prevê cenários próximos e tem como objetivo orientar o planejamento das empresas pelos próximos 10 anos. A data 2014, segundo o executivo, é o marco inicial porque, para uma empresa, leva cerca de três anos para mudar sua estrutura.
Para se chegar às projeções socioeconômicas, foi utilizada uma metodologia proprietária, Highways and Avenues and StreetsR, e consultadas opiniões de 25 personalidades das mais diversas áreas, como os empresários Michel Klein (Casas Bahia) e Constantino de Oliveira Jr. (Gol Linhas Aéreas), o publisher Paulo Lima (Trip), a consultora de moda Gloria Kalil e o cantor Falcão, entre outros. Também foram ouvidos adolescentes de 14 a 16 anos de diferentes classes sociais, jovens executivos, mulheres e negros de todas as camadas da população, além de outra metodologia que envolveu como fonte a leitura de jornais e revistas.
“Esse estudo pode mudar até o comportamento de algumas gerações, como esses adolescentes que foram ouvidos, por exemplo. Aqueles das classes mais altas passavam mais tempo com empregados do que com os pais. Enquanto os de rendas menores começaram a trabalhar desde cedo. Provavelmente, no futuro, eles dediquem mais tempo aos seus filhos”, explica Torretta, falando que o brasileiro, com o desenvolvimento econômico, também está formando “uma nova identidade”. “Estamos em uma era em que, pela primeira vez, o consumo de cerveja cresce mais do que o de cachaça, pois o povo está com mais dinheiro. Hoje é comum ver o morador da periferia em um happy hour no mesmo bar que o morador do bairro nobre”, completa.
Falando de futuro, além da ascensão de mulheres e negros, existem também públicos como o evangélico e o GLS com maior evidência. “Falando especificamente sobre os evangélicos, não sabemos qual será o número deles em 2021. Mas isso mexe com o consumo. Com mercados como o de bebidas alcoólicas, que acaba perdendo com o crescimento desse povo. Já pegando o caso dos negros, quanto maior for o poder aquisitivo, mais algumas indústrias, como a de cosméticos, terão que ter produtos e ações mais específicos a eles. As mulheres, elas estão trabalhando mais fora de casa e virando chefes de suas famílias, o que aumenta o consumo de eletrodomésticos, para facilitar suas vidas”, afirma o publicitário, que diz que estamos formando uma segunda geração de Classe C.
“E a atual geração, que está migrando para classes acima, é vista como uma classe mais solidária. O que também pode fazer do Brasil um país mais solidário no futuro, coisa que nunca fomos. Aqui, a ‘Casa Grande nunca olhou para a Senzala’. Hoje, até a TV Globo – que nunca deu tanta atenção a essa Nova Classe Média como nos últimos três anos –, que ainda é uma das maiores formadoras de opinião do país, vê essas características. É só olhar para a Griselda (personagem de Lília Cabral na novela ‘Fina Estampa’, da Rede Globo)”.
Um dos trechos do sumário que abre o Relatório do Futurismo traz que “o Brasil irá mudar velozmente, com o ambiente dos negócios sendo impactado pelo bônus demográfico, pelo upgrade educacional, pela desconcentração regional, pela ascensão da Nova Classe Média brasileira, pela alta dos commodities, Copa do Mundo, Olimpíadas, gargalos de recursos humanos, gargalos da infraestrutura brasileira, com os limites dos recursos naturais e os erros e acertos da gestão pública”.
Torreta, porém, fala que além dos bônus, existem alguns pontos que ainda são prejudiciais ao futuro do país, como a baixa qualidade da educação brasileira, a falta de planejamento em diversos setores e a corrupção. Esse, segundo ele, problema que demora mais para ser corrigido. “Pelo menos 20 anos”, diz.
O publicitário também destaca a tecnologia, que fará com que, nos próximos 10 anos, “o mundo do mobile” seja efetivado. “Isso fará também com que as interfaces sejam mais precisas. E a linguagem também. As empresas terão que achar cada vez mais uma linguagem universal, porque os consumidores que ontem eram de Classe C e vão virar Classe B não pensam igual aos atuais da B. As redes sociais, por exemplo, hoje já influenciam no comportamento rapidamente. No futuro teremos as passeatas digitais. Não será mais preciso ir às ruas para protestar”, ressalta.
Segundo Torretta, nos Estados Unidos e Europa é muito comum a produção de relatórios futuros em todas as áreas. “Aqui, temos diversos relatórios para as áreas de finanças, petrolífera, agricultura e energia, mas um pensando no Brasil e nos brasileiros, ainda não”, afirma, resumindo que todos os prós e contras estabelecidos nesse estudo e a percepção do empresariado para a nova geração de consumidores, é que irá definir “se vamos ou não construir o sonho brasileiro”.