Influenciadores digitais enfrentam novas demandas de profissionalismo e transparência, refletindo o amadurecimento do mercado de influência (Arte/Bússola)
Colunista
Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 12h28.
Nos últimos dias, um documento conhecido como o "Planilha dos Influenciadores" tomou conta da internet, expondo avaliações de diversos influenciadores digitais brasileiros. Trata-se de um documento anônimo que tem circulado em todas as redes sociais, contendo observações detalhadas sobre o comportamento, a postura profissional e até mesmo a personalidade de criadores de conteúdo.
Os registros incluem comentários sobre pontualidade, ética, facilidade de trabalho e a relação com marcas e equipes das figuras públicas. O material gerou controvérsia ao trazer à tona tanto elogios quanto críticas severas, levantando questionamentos sobre o impacto dessas informações na reputação dos envolvidos.
Entre os aspectos positivos, destacam-se comentários que elogiam influenciadores pela pontualidade, profissionalismo e boa relação com equipes e marcas parceiras. Esses profissionais são descritos como fáceis de trabalhar e confiáveis.
Por outro lado, as críticas negativas chamaram atenção ao expor influenciadores considerados “difíceis” em negociações, que não entregam os conteúdos conforme acordado ou demonstram comportamentos inapropriados nos bastidores.
Em alguns casos, há relatos sobre arrogância e falta de compromisso, muitas vezes acompanhados de exemplos detalhados das situações vividas. Isso traz à tona uma discussão entre liberdade de opinião e os limites éticos ao tratar da reputação de pessoas públicas. Mas podemos considerar o “Planilhão” algo justo? Em minha opinião, sim.
Vivemos em uma era de transparência, impulsionada pelas redes sociais e pela facilidade de troca de informações. Isso significa que todos nós, especialmente aqueles que utilizam a exposição como ferramenta de trabalho, estamos sujeitos a críticas abertas sobre nossas atitudes, seja no âmbito profissional ou pessoal.
Para os influenciadores digitais, que transformaram sua visibilidade em modelo de negócio, essa dinâmica é ainda mais intensa. Quem escolhe esse caminho precisa entender que será constantemente avaliado – de forma positiva ou negativa – por marcas, equipes e pelo próprio público. Faz parte do jogo, e é o ônus de ser um influenciador.
O “Planilhão dos Influencers”, embora tenha gerado polêmica ao incluir observações sobre questões pessoais, reflete, em grande parte, a visão de profissionais que atuam no mercado de influência. As avaliações não questionam o conteúdo que os influenciadores publicam organicamente, mas sim a forma como conduzem os trabalhos pagos. Trata-se de um ponto legítimo, já que essas relações envolvem diretamente ética, compromisso e atitude nos bastidores – fatores essenciais para o sucesso em qualquer mercado.
Com o crescimento do setor, essas expectativas são naturais. O mercado de influência não opera mais como um espaço amador. Segundo o Goldman Sachs, o mercado global de influência movimentou 250 bilhões de dólares em 2023 e deve alcançar 470 bilhões de dólares até 2027. No Brasil, com cerca de 13,5 milhões de influenciadores, de acordo com a YouPix e a Nielsen, a expectativa é que esse mercado movimente 21 bilhões de dólares em 2024, segundo a consultoria Statista. Com cifras tão expressivas, não há mais espaço para improviso.
As marcas estão compreendendo melhor a dinâmica do universo de influência, que tem passado por um processo de amadurecimento significativo nos últimos anos, impulsionado pela crescente profissionalização dos criadores de conteúdo e pela necessidade, por outro lado, de justificar o retorno sobre investimento (ROI) em campanhas digitais. Inicialmente marcado pela informalidade e pela busca por alcance e engajamento, o setor agora valoriza dados concretos e estratégias mais alinhadas aos objetivos das empresas.
Uma das principais transformações nesse cenário é a evolução das ferramentas de metrificação, que possibilitam a análise de informações mais avançadas, como taxa de conversão, impacto em vendas e valor do lifetime customer (tempo de retenção do cliente). Isso se tornou possível graças a plataformas de análise mais sofisticadas, integrações de sistemas e até mesmo o uso de inteligência artificial para medir com precisão o impacto das campanhas.
Além disso, o amadurecimento do mercado trouxe também maior transparência e exigência por parte das marcas e agências. Contratos mais detalhados, relatórios precisos e a definição de KPIs (indicadores-chave de desempenho) claros são práticas cada vez mais comuns.
Nessa nova dinâmica, as marcas passaram a tratar influenciadores como verdadeiros fornecedores. Isso não significa limitar a criatividade ou impor conteúdos rígidos, mas demandar uma postura mais profissional e estruturada. A relação ultrapassa o carisma e o número de seguidores, exigindo compromisso, entrega e a capacidade de gerenciar as operações como um negócio.
Nesse cenário, influenciadores que faturam cifras milionárias e ainda atuam sozinhos precisarão se adaptar, investindo em equipes qualificadas e profissionais especializados – o que representa custos maiores para manter as operações funcionando de forma eficiente.
Além disso, o comportamento fora das câmeras ganha peso. As marcas procuram parceiros confiáveis, fáceis de trabalhar e que entreguem resultados consistentes – sejam eles consultores, pesquisadores ou agências. E isso também agora parece se estender ao mercado de influência.
Com uma concorrência crescente entre os influenciadores, as escolhas das empresas não se limitam mais ao alcance ou ao engajamento, mas à capacidade de transformar a influência em um negócio de fato, com profissionalismo e consistência. O mercado de influência está mostrando que, para prosperar é preciso mais do que criatividade: é necessário amadurecer como profissional e como empresário.
A thal planilha dos influenciadores! pic.twitter.com/4zeXWzdOw5
— . (@ln4sx) January 24, 2025