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Pesquisa mostra que brasileiro está confuso em relação à pandemia

Falta de clareza nas mensagens transmitidas à população sobre a covid-19 gera diferentes perfis comportamentais, com impacto no consumo

Comportamento na pandemia: desembargador Eduardo Siqueira humilhou um guarda municipal que tentava aplicar uma multa por falta de uso de máscara na praia (youtube/Reprodução)

Comportamento na pandemia: desembargador Eduardo Siqueira humilhou um guarda municipal que tentava aplicar uma multa por falta de uso de máscara na praia (youtube/Reprodução)

Durante a pandemia, ir às ruas das grandes cidades do Brasil é uma experiência, no mínimo, interessante. Em São Paulo, por exemplo, é possível ver comportamentos de todo o tipo. Há aqueles que colocam a máscara e se esforçam para ficar distantes de outras pessoas. Há os que estão de máscara, mas conversam de perto com os outros. Há até mesmo quem deixe a máscara no queixo.

Essa diversidade comportamental tem explicação. “Há uma peculiaridade do Brasil em relação ao resto do mundo na tratativa da pandemia”, diz Michel Alcoforado, antropólogo e sócio-diretor da consultoria Consumoteca. “Como não tivemos uma clareza forte nas mensagens transmitidas à população sobre a pandemia, cada um acaba tendo uma crença e um comportamento diferente, tanto no início da crise, como neste momento de retomada.”

A variedade de posicionamentos foi detectada em uma pesquisa realizada pelo Grupo Consumoteca e obtida com exclusividade pela EXAME. Com uma base de 2.000 respondentes de todas as regiões do país, pertencentes às classes A, B e C, o estudo divide a população brasileira em quatro diferentes perfis.

Perfis comportamentais na pandemia

O perfil mais comum, que define 36% dos participantes, é o dos preocupados. São pessoas que acreditam que a vida nunca mais será como antes, e que, apesar do movimento de reabertura, tudo deve voltar a fechar até o fim do ano, e que o distanciamento social terá formato intermitente.

Na sequência, os cansados (32%), que têm em mente que o pior já passou. Entra nesta categoria um público mais jovem, de 18 a 39 anos, que já não aguenta mais a quarentena, tem esperança de que tudo estará resolvido até o final do ano, mas com hábitos e processos diferentes.

Um terceiro perfil é o dos cautelosos (26%). O grupo tem mais representantes da classe C — são aqueles que reconhecem a ameaça da pandemia, mas não tiveram como fazer a quarentena por trabalharem em serviços essenciais ou pela necessidade de manter o sustento. No entendimento destes, atividades que geram aglomeração só poderão ser praticadas no próximo ano.

Por fim, há um grupo menor: o dos negligentes (apenas 6%). Para estes, a vida não pode parar. “É aquele tio que está velho, tem diversas comorbidades e acha que nada vai acontecer com ele, pois ele tem um histórico de atleta que data de 50 anos atrás”, brinca Alcoforado. Eles não fizeram grandes alterações na rotina, se sentem seguros ao sair de casa e acreditam que o Brasil vai à normalidade de antes até o fim do ano.

Caminho sem volta

Uma tendência levantada pela pesquisa é aquela que já temos vivenciado: a digitalização do consumo foi acelerada – e o fenômeno veio para ficar. Alcoforado explica que a epidemia de SARS na China, em 2003, resultou em um aumento no consumo de mídia digital e pacote de dados, o que levou a vida social para a internet.

O mesmo deve acontecer por aqui, com pesquisas evidenciando que 40% das transações realizadas pela internet durante a pandemia foram feitas por marinheiros de primeira viagem. São pessoas que, por alguma razão, ainda não tinham arriscado fazer compras online, mas que se renderam à experiência e, provavelmente, aprovaram a praticidade.

“Isso muda toda a lógica dos pontos de venda físicos”, diz Alcoforado. “Com as compras concentradas na internet, este espaço deve virar o lugar do imperdível, da experiência, onde o cliente deve encontrar artigos que estão disponíveis apenas ali.”

Neste sentido, é como se as lojas físicas passassem a se destinar à estratégia de construção da marca, a exemplo das já existentes lojas-conceito.

O antropólogo destaca outro ponto importante do ambiente digital: a democratização do consumo. “Poucas marcas têm bala na agulha para ter um espaço de 800m² no shopping de luxo Cidade Jardim, por exemplo. Mas o preço para construir um site é o mesmo para todos”, diz. “Assim, teremos cada vez mais um universo onde marcas de tamanhos diferentes estarão no mesmo patamar.”

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