Cena da paródia mostra a capivara no papel do urso polar das campanhas da Coca-Cola, em versão criada com IA e ambientada no universo da Dolly (Reprodução)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 16h44.
A recém-lançada campanha de Natal da Coca-Cola, novamente produzida com inteligência artificial, reacendeu o debate sobre o uso da tecnologia na comunicação da marca e gerou reações nas redes sociais. Entre as respostas, circula no X (antigo Twitter) uma paródia criada com IA e ambientada no universo do refrigerante brasileiro Dolly, sem qualquer ligação ou autorização oficial da marca.
A peça original da Coca segue a fórmula iniciada em 2024: ambientes nevados, animais antropomorfizados e o tradicional comboio iluminado da marca, tudo inteiramente gerado por IA. A repetição do formato, contudo, provocou comentários sobre autenticidade e coerência, especialmente porque a campanha anterior já havia sido alvo de críticas por seu visual artificial e pelo uso ostensivo de tecnologia em um território emocionalmente associado à tradição natalina.
A partir dessa discussão, uma paródia publicada no X no perfil @JefinhoMenes começou a ganhar tração. No post, aparece a frase: “Se a Coca Cola fez, a gente também pode fazer para o nosso maior refrigerante nacional”. O vídeo replica a estrutura do anúncio da Coca-Cola e transpõe cada elemento para um “Natal Dolly”, com tons de verde, closes da garrafa, caminhões iluminados e a presença do mascote Dollynho.
A narrativa satírica acompanha de perto o ritmo do filme da Coca. A ceia em família surge, mas com uma capivara ocupando o papel do urso polar. O comboio vermelho é substituído por caminhões verdes iluminados, cruzando paisagens nevadas e sendo observados por animais brasileiros como onça, mico-leão-dourado, tatu, tamanduá e tucano. Parte do vídeo também se passa em uma comunidade decorada, onde a chegada dos caminhões gera celebração entre adultos e crianças.
No encerramento, em vez da assinatura tradicional, aparece a frase “Mais refri, menos uva passa”, referência ao meme recorrente sobre as preferências das famílias brasileiras na ceia de Natal e reforçando o tom cômico da produção. Logo depois, aparece um aviso explícito de que o material é uma paródia feita com IA e não é autorizada pela Dolly.
Se a Coca Cola fez, a gente também pode fazer pro nosso maior refrigerante nacional: https://t.co/ji6WBE9ezI pic.twitter.com/Db0UHbYZsT
— Jéferfon Menezes (@JefinhoMenes) November 8, 2025
O vídeo, que já soma 113 mil visualizações, rapidamente gerou comentários no X. Usuários apontaram o contraste com a estética da Coca: “só faltou tirar a neve e fazer um Natal tropical”. Outros destacaram detalhes: “a onça do tamanho do mico-leão”, “amei a capivara”, “quando o publicitário é fã” e “se fosse da Dolly, te contrataria agora mesmo”. Houve até quem pedisse novas versões: “tinha que fazer uma com Guaraná Jesus”.
A paródia circula em meio aos debates sobre o uso de IA na publicidade. Para o estrategista de marketing Ulisses Zamboni, a discussão evidencia o limite entre inovação e coerência. Ele lembra que a Coca-Cola, historicamente associada à simplicidade e à emoção, vive uma tensão ao adotar IA de forma tão central em uma campanha construída sobre afeto e tradição.
Em análise publicada na EXAME, Zamboni observa que a marca sustentou por décadas uma narrativa baseada nesses dois pilares e que o uso de modelos artificiais pode deslocar essa lógica. Para ele, o caso amplia uma pergunta que tem desafiado grandes companhias: “qual é o equilíbrio entre consistência e adoção de novas tecnologias?”