Adriano a caminho do Flamengo: contrato deve repetir o modelo criado por Ronaldo com o Corinthians
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2011 às 13h39.
A chegada de Ronaldo ao Corinthians não marca apenas o retorno do craque aos campos brasileiros, depois de 14 anos defendendo times europeus. O atacante traz, também, um modelo inédito de parceira, que dá ao craque parte das receitas obtidas pelo clube com a venda de patrocínios obtidos após sua chegada. "O que fizemos com o Corinthians nunca foi feito no mundo", afirma Fabiano Farah, diretor-executivo do grupo R9, a empresa criada por Ronaldo para gerenciar sua imagem, seus contratos e seus investimentos.
É compreensível que Farah comemore o acordo, por ser um dos responsáveis, mas a avaliação é compartilhada por outras pessoas. "Essa solução híbrida foi muito criativa, e tipicamente brasileira", afirma Carlos Perrone, sócio-presidente da agência Peppercom. “O modelo poderá ser utilizado para que, no futuro, algum clube brasileiro possa repatriar craques como Kaká ou Ronaldinho Gaúcho”, diz o advogado Ivandro Sanchez, especialista em contratos de futebol do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice.
Jogada inédita
O contrato de Ronaldo com o Corinthians – forjado em parceria por Farah, da R9, e por Luís Paulo Rosemberg, vice-presidente de marketing do Corinthians - traz uma série de novidades, segundo os especialistas. O primeiro é o uso deliberado de um superastro do futebol para atrair patrocínios para o clube. Para se ter uma ideia do peso de Ronaldo, o acordo com a Batavo prevê um corte substancial do patrocínio, se o atleta deixar o Parque São Jorge por qualquer motivo. De acordo com a Folha de S.Paulo, se isto acontecer, a Batavo cortará imediatamente de 18 milhões para 9 milhões de reais os gastos com o time.
Outra inovação é a divisão efetiva de receitas publicitárias entre o clube e o atacante. Tradicionalmente, as equipes brasileiras embolsam os recursos de quem banca seus uniformes e seu material esportivo. Os jogadores são liberados para faturarem com contratos individuais para as chuteiras. Fora de campo, os atletas também podem promover produtos e marcas com a cessão dos direitos de imagem. Assim, o campo se divide entre patrocinadores só do clube e os patrocínios de cada jogador - e ninguém invade a área alheia.
No caso de Ronaldo, a receita com a venda das mangas e dos calções será dividida entre o clube e o jogador - algo que nunca havia se visto. O craque ficará com 80% dos 11 milhões de reais que a Bozzano e o Banco Panamericano pagarão para ocupar esses espaços do uniforme alvinegro.
Por fim, o direito de o patrocinador usar a imagem de Ronaldo é outra novidade. "Esse é o pulo-do-gato do contrato", afirma Perrone, da Peppercom. Os patrocinadores usarão a imagem do jogador sem pagarem nada mais por isso.
Interesses comuns
É claro que esse acordo ocorreu porque beneficia todos os envolvidos. De um lado, permitiu que o Corinthians impulsionasse seu patrocínio e pudesse arcar com os milionários custos envolvidos na contratação de um superastro do futebol do porte de Ronaldo. De outro, possibilitou que o próprio atacante voltasse aos gramados, após um período de incerteza iniciado em fevereiro de 2008, quando o Milan não renovou seu contrato.
A próxima aposta é a contratação do atacante Adriano pelo Flamengo, dada como certa. O acordo deve seguir um modelo semelhante ao de Ronaldo. O presidente em exercício do clube carioca, Delair Dumbrosck, já declarou publicamente que encontrou um parceiro interessado em patrocinar parte do salário do ex-jogador do Inter de Milão. Estima-se que "O Imperador" vá receber cerca de 500.000 reais por mês no clube. A empresa não teria sua marca estampada no uniforme do time, mas ganharia o direito de usar a imagem do atleta em suas campanhas publicitárias. O contrato seria válido até 2010.
Estrelas de volta
Segundo Perrone, o modelo é acessível a pelo menos uma dúzia de clubes brasileiros - os quatro maiores de São Paulo, os quatro maiores do Rio de Janeiro, os dois principais de Minas e os dois mais importantes do Rio Grande do Sul. E o estoque de craques aptos a assinar um contrato semelhante também é razoável. Por não estar sendo muito aproveitado no Milan, Ronaldinho Gaúcho é sempre lembrado como uma possibilidade.
Outros bons nomes também enfrentaram uma geladeira em times estrangeiros no ano passado. No último campeonato inglês, por exemplo, o Arsenal aproveitou Gilberto Silva em apenas 12 dos 38 jogos. Na temporada alemã de 2007/2008, o volante Mineiro entrou em campo em 17 das 38 partidas disputadas pelo Hertha Berlin.
Lógico que, com a exceção de Kaká, nenhum jogador brasileiro hoje é tão querido por torcedores e patrocinadores quanto Ronaldo. Além da técnica apurada e do futebol decisivo, os dois possuem histórias de vida que cativam empresas e consumidores. Repatriar outras estrelas de porte, entretanto, também pode ser interessante.
Os clubes contariam com atletas de projeção mundial e engordariam seu caixa com um patrocínio mais polpudo; os torcedores poderiam ver um campeonato brasileiro de excelente nível, com craques acostumados a balançar as redes na Europa; e os patrocinadores, claro, veriam suas vendas crescer pela maior exposição de suas marcas na mídia - avalizadas por atletas que despertam devoção nacional.