Os Fuentes, Vice-presidente e líder global de aquisição de talentos do Nubank (Nubank/Divulgação)
O comportamento de uma empresa durante uma crise altera a forma como ela é vista pela sociedade — e isso fica mais evidente em uma situação tão delicada e singular como a que vivemos na atual pandemia do coronavírus.
Se algumas organizações tiveram suas imagens arranhadas nas últimas semanas, por optar por demissões ou até mesmo fazer ameaças, outras se destacaram pela promoção de ações positivas, com foco nos funcionários e clientes.
É o caso do Nubank. A fintech foi ágil em adotar o esquema de home office no fim de fevereiro, quando o Brasil registrou seus primeiros casos de covid-19. Para além disso, o unicórnio fechou parcerias com aplicativos de exercícios físicos e ofereceu treinamentos para equilíbrio das vidas profissional e pessoal, além da assistência de psicólogos, advogados e consultores financeiros.
Para os clientes, a organização montou um fundo de 20 milhões de reais destinados àqueles que precisassem de apoio para atendimentos de saúde, compras em supermercados e consumo em restaurantes. As condições de pagamento da fatura de cartão de crédito também foram renegociadas.
Como resultado, as ações tiveram impacto positivo na marca empregadora do Nubank, bem como em sua imagem enquanto empresa. Em entrevista à EXAME, o vice-presidente e líder de aquisição de talentos da fintech, o britânico Os Fuentes, abordou as respostas da organização à crise.
O Nubank tem feito diversas ações que mostram uma boa resposta à crise, principalmente no apoio a clientes e funcionários. Como foi o momento em que a fintech entendeu a crise que estaria por vir e o que envolveu a preparação das ações?
O Nubank foi uma das primeiras empresas no Brasil a decidir pelo trabalho 100% remoto. Da mesma forma, passamos a pensar em como facilitar a rotina de nossos clientes que também sofrem os impactos da pandemia do novo coronavírus.
Todos os nossos escritórios no Brasil, México, Argentina e Alemanha estão trabalhando remotamente. Essa tomada de decisão exigiu um grande esforço de colaboração e planejamento da área de Pessoas e Cultura e de Tecnologia e Segurança da Informação. Em 24 horas, o Nubank estava pronto para ter os seus mais de 2,5 mil funcionários naquela ocasião (hoje, temos mais de 2,7 mil) desempenhando suas funções e atividades remotamente.
Apesar do choque sentido pela economia global, temos o privilégio de nos sentirmos otimistas em sairmos desta crise em boa forma. Para isso, contratar talentos de todo o Brasil e do mundo se tornou mais importante do que nunca. Contratar líderes que sirvam como multiplicadores de nossa cultura e capacidade de solução de problemas é importantíssimo para nossos clientes.
Para facilitar ao máximo a adaptação a esta nova realidade, enviamos todo tipo de equipamento necessário para que os funcionários realizem suas atividades de forma adequada. Isso inclui, além dos computadores, o envio de monitores, teclados e até mesmo as cadeiras ergonômicas. Recentemente, por exemplo, enviamos cadeiras para as casas de cerca de mil funcionários do Nubank.
Ironicamente, apesar dos desafios, estamos mais conectados do que nunca. Manter essa, essa cultura de comunicação e feedback é um objetivo essencial para o futuro, e todos os Nubankers podem contribuir para essa discussão.
Já para os clientes, desenhamos um plano que pudesse ajudá-los tanto do ponto de vista financeiro, com o uso de nossos produtos, mas também vislumbramos um impacto social ainda maior. Nossa preocupação foi além da relação empresa-cliente para, assim como todo o suporte que temos dado aos funcionários, conseguirmos auxiliá-los em outras esferas que vão além da gestão de suas finanças.
Desde 20 de março, clientes que contraíram crédito pessoal podem renegociar seu empréstimo e prorrogamos o pagamento da próxima parcela para até 60 dias, com a mesma taxa de juros do empréstimo atual. Paralelamente a isso, tivemos a ideia da criação do fundo de R$ 20 milhões para a oferta de serviços de telemedicina, apoio psicológico, entre outros serviços.
Entre as ações, qual delas foi a mais desafiadora e por quê?
Essa pandemia mudará o mundo — e o Nubank mudará com ele. Há aprendizados valiosos desse período, principalmente por sermos uma empresa global, com escritórios em quatro países. Para o mercado de aquisição de talentos, mais do que nunca, como você traduz esse momento em ações que refletem os valores e pilares da sua empresa é como você será visto e avaliado pelos pools de talentos que está tentando alcançar.
No Nubank, estamos sempre procurando profissionais que possam atuar como multiplicadores — ou seja, líderes técnicos e especialistas em suas áreas, que não apenas irão expandir o conhecimento que já temos aqui, mas também trarão habilidades novas e únicas. Esta é uma verdade bastante particular quando encontramos um rico conjunto de talentos em comunidades sub-representadas no setor de tecnologia. A busca por essa diversidade se torna ainda mais importante quando você tem bem definido os seus esforços de contratação.
Desde o início nossa preocupação era ir além e fazer diferente. O maior desafio sempre esteve no fato de pensar em ações que gerassem real impacto na vida das pessoas, sejam elas nossos funcionários ou clientes. Este é um momento sem precedentes na história e, no futuro, as pessoas vão se lembrar do comportamento das empresas e marcas durante essa crise.
Que mensagem o Nubank passa com essas ações?
Esta é uma situação sem precedentes. Como empresa, quando superarmos isso, o que importa mais é como cuidamos uns dos outros — nossa equipe, nossos clientes, nossos parceiros e outras empresas da mesma categoria no mercado. Tudo o que foi feito para seguirmos adiante neste cenário é importante.
Desde o primeiro dia, o Nubank sempre procurou estabelecer uma relação humana e de confiança com seus clientes e funcionários. Para facilitar a travessia deste momento histórico, reforçamos os nossos valores ouvindo as necessidades de cada um e buscando oferecer soluções e alternativas que os auxiliem nessa caminhada e é isso que estamos nos esforçando ao máximo para fazer. Como disse anteriormente, o que fizermos pela sociedade, pelos clientes e pelos colaboradores neste momento será lembrado no futuro.
Como a pandemia pode ser uma crise e como pode ser uma oportunidade para a marca empregadora?
Ainda que a pandemia tenha nos feito rever algumas prioridades, a cultura e os valores muito bem definidos têm se revelado como importantes fortalezas para o nosso negócio. Além de termos solidez financeira para enfrentar o momento difícil, um de nossos valores como empresa é de construir times fortes e diversos. Isso passa pelo carinho, atenção e suporte que temos dado aos nossos funcionários, pela constante busca por talentos e também em como tratamos nossos candidatos num momento como este.
Com toda a incerteza ao nosso redor, essa também é uma oportunidade única para alcançar a comunidade global de talentos e líderes de diferentes grupos que estão animados em embarcar em uma jornada com uma empresa que está tendo um impacto socioeconômico único nas regiões em que atua. Percebemos cada vez mais interesse de líderes globais em se juntarem ao Nubank e isso não poderia ser mais animador. Há poucas semanas, por exemplo, anunciamos a chegada de dois executivos de ponta.
Para ser o nosso Líder Global de Segurança da Informação, trouxemos o australiano David Currie, que tem ampla experiência em passagens por empresas como Barclays, VISA e, mais recentemente, na Bolsa de Valores de Hong Kong. Junto com o David, anunciamos o brasileiro Marco Araújo, nosso novo Líder Global do Jurídico, que já trabalhou no Itaú, no Santander e, pelos últimos seis anos, atuou como diretor jurídico global do HSBC, em Londres.
Quando começamos a trabalhar remotamente, fizemos o onboarding - como chamamos a integração dos novos Nubankers — de mais de 155 pessoas ao redor do mundo, incluindo Hong Kong, Dubai e Vale do Silício (EUA), além de talentos espalhados por diversos estados brasileiros, de modo 100% online. Continuar contratando neste momento é garantir que estamos olhando para o presente tanto quanto estamos olhando para o futuro da nossa empresa.
Como você analisa o desempenho da marca empregadora do Nubank antes e durante a pandemia? Existe um aumento do interesse profissional em trabalhar na fintech? O que, em geral, um novo funcionário espera da empresa?
Num geral, o "nuvinho" (como chamamos os Nubankers recém-contratados) sabe bem o que esperar da empresa e o que o Nubank espera dele. Para garantir a integração dos novos funcionários, foram organizadas palestras por vídeo em horários que atendam ao fuso de todos os escritórios: Brasil, México, Argentina e Alemanha.
Embora não possamos convidar os "nuvinhos" para conhecer nossos escritórios no momento, mudamos nosso palco físico para um ambiente virtual. Nossa equipe de Employer Branding (marca empregadora) se adaptou rapidamente a essa realidade, enviando conteúdo e informações que dão uma visão e experiência a todos os interessados em entender um pouco mais da cultura e organização do Nubank.
Durante o processo de contratação, também existe a oportunidade de o candidato ter uma interação significativa com um de nossos líderes para verificar como suas experiências passadas podem se traduzir na cultura, no trabalho e na organização do Nubank. Todo candidato é atendido por um especialista em Experiência do Candidato especialmente designado que navega em cada etapa da jornada de avaliação ao lado dele. Nossa equipe de Experiência do Candidato é a guardiã da nossa cultura e seu principal ponto de contato.
Neste período da pandemia, inclusive, temos identificado não apenas a oportunidade de acessar uma ampla gama de talentos globais — a partir da normalização e disseminação em torno do recrutamento remoto —, mas um maior apetite dos candidatos pelo Nubank. Isso é fruto do direcionamento de esforços de aquisição de talentos para funções que gerem impacto estratégico no presente e também no futuro do Nubank.
Apesar da onda de choque sentida pela economia global, nós estamos otimistas de que vamos sair dessa pandemia ainda mais fortes. Por isso, nosso time de Aquisição de Talentos Global é mais importante do que nunca nesse momento.