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O maior desafio das empresas não é tecnológico. É geracional

Neste mundo em que ‘inovação’ e ‘disrupção’ viraram mantras corporativos, o ouro está na capacidade de promover diálogos reais entre gerações que quase já não se escutam

Marc Tawil em talk no TEDxCuiabá, na capital do Mato Grosso (Divulgação)

Marc Tawil em talk no TEDxCuiabá, na capital do Mato Grosso (Divulgação)

Marc Tawil
Marc Tawil

Estrategista de Comunicação

Publicado em 25 de agosto de 2025 às 16h48.

Última atualização em 25 de agosto de 2025 às 16h55.

Na última sexta, apresentei meu talk no TEDxCuiabá, na fervilhante capital do Mato Grosso (38 ºC às 9h). Foi a minha sétima experiência TEDx, quinta como palestrante (e duas vezes como mestre de cerimônias). Essa, contudo, me trouxe algo de diferente.

Dessa vez, o que levei ao palco não foi apenas uma ideia. Foi uma inquietação que carrego há anos e que, cada vez mais, percebo nos bastidores das empresas.

Falei sobre o desafio de fazer diferentes gerações “conversarem de verdade”.

Costumo dizer que o silêncio mais perigoso não é o da ausência de som. É o da ausência de escuta. Justamente esse ruído invisível que vem se impondo em muitas organizações.

Vivemos um momento raro na história: sete gerações compartilham o mesmo ambiente profissional: Silenciosos, Baby Boomers, X, Y, Millenials, Z e Alphas.

Pessoas que nasceram com o rádio, com a TV, com o smartphone e com o TikTok trabalham lado a lado. E, acredite, isso é muito. Só que convivem, boa parte do tempo, sem se escutar.

De um lado, os mais jovens falam sobre “propósito”, “liberdade financeira”, “impacto”. Do outro, os mais experientes valorizam “consistência”, “lealdade”, “profundidade”.

Nenhum está errado. Ambos, porém, têm dificuldade de se encontrar no meio do caminho.

No palco, fiz questão de trazer a minha própria história. Cresci em uma casa onde escutar era quase ritual. Ninguém almoçava ou jantava sozinho; e ninguém saía da mesa sem ser escutado. Pois era ali, na mesa, que as histórias ganhavam corpo.

Na mesa, o tempo não corre em linha reta. Corre em círculos, pois conecta.

E talvez seja justamente isso que esteja faltando nas empresas: uma nova mesa de conversa entre gerações.

O silêncio que separa

A falta de escuta não é apenas uma questão de convivência. Ela impacta diretamente a inovação, a cultura, a colaboração e a capacidade de atrair (e reter) talentos.

Já presenciei reuniões em que um Gen Z foi silenciado com um “isso é coisa de quem está começando” e líderes experientes descartados com um “isso é papo de boomer”.

Quando isso acontece, todos nós perdemos palavras, feto, presença, tempo.

Não se trata de forçar concessões, mas de reconhecer que cada geração carrega um repertório único feito de vivências, traumas, tecnologias e visões de mundo. É justamente nesse cruzamento que mora a potência.

O que está em jogo não é “quem tem razão”, e sim o que conseguimos construir juntos a partir do que cada geração tem de melhor.

É possível transformar esse desafio em vantagem competitiva. Isso exige, entretanto, intenção, estrutura e humildade.
Algumas práticas já fazem a diferença em empresas que estão à frente do seu tempo:

  • Criar espaços reais de troca entre gerações: e não falo de eventos formais, mas de rituais informais de escuta, bastidores compartilhados e curiosidade ativa
  • Incentivar o mentoring reverso: permitir que os mais jovens compartilhem seus códigos e referências com lideranças seniores. O aprendizado é mútuo
  • Revisar políticas com olhar mais inclusivo à idade: benefícios, formatos de trabalho, gestão de carreira e até a linguagem podem carregar vieses invisíveis
  • Trabalhar escuta como habilidade estratégica: a escuta não é “soft”. É uma das competências mais duras — e valiosas — da liderança contemporânea
  • Incluir a diversidade etária nas pautas de DE&I: ainda negligenciada, ela precisa ter espaço ao lado de gênero, raça, orientação e neurodiversidade
  • Reconhecer a escuta como Tecnologia Social: não basta ouvir. É preciso escutar com presença e transformar escuta em decisão compartilhada

Lembre-se: escutar não é concordar. Escutar é reconhecer a existência do outro. Validar um ponto de vista que pode ser diferente e legítimo.

Quando uma geração escuta a outra, nós ativamos sabedoria coletiva, ampliamos o repertório estratégico e criamos culturas mais humanas, adaptáveis e inovadoras.

Não por acaso, saí de Mato Grosso com uma convicção: o grande diferencial das empresas nos próximos anos não será a tecnologia, e sim a maturidade relacional.

A pergunta que me moveu na construção do TEDxCuiabá foi: “O que perdemos quando as gerações param de conversar?”

Talvez a mais urgente, agora, seja: “O que ainda pode ser reconstruído se a gente decidir voltar a se escutar?”

Porque toda geração tem algo a ensinar e algo a aprender. E, quando a escuta acontece, o tempo não separa. Ele costura. Constrói. E permanece.

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