Ranking destaca as cinco marcas com mais influenciadores nas redes (MStudioImages/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 2 de setembro de 2020 às 11h53.
Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 12h03.
Os influenciadores negros têm menor participação em campanhas publicitárias e recebem menos por essas ações. Esses são resultados da primeira pesquisa brasileira do mercado de influência com recorte racial, a "Um retrato sobre Creators Pretos no Brasil", apresentada na 6ª edição do YOUPIX Summit, maior evento sobre indústria e economia de creators da América Latina.
O painel Black Influence contou com a participação de Lara Lages, líder de projetos na SHARP, e Ricardo Silvestre, fundador da Black Influence, e apresentou pela primeira vez o estudo, que pretende apontar com dados os mecanismos do racismo estrutural no mercado de influência. A pesquisa, realizada pela parceria da SQUID, YOUPIX, SHARP, Black Influence e site Mundo Negro, ouviu mais de 760 creators e é a primeira fase de uma série de ações que o grupo de trabalho ao longo dos próximos meses.
Entre os respondentes da pesquisa, que utilizou os critérios de identificação utilizados pelo IBGE, mais de 22% se consideram pardos e mais de 17%, negros. Ao serem questionados se já haviam participado de alguma campanha de publicidade, cerca de 64% dos respondentes disseram que "Sim" e 60% consideram o marketing de influencia inclusivo, mas isto não é visto da mesma forma por pretos e indígenas.
Porém, no recorte racial, os influenciadores que se consideram pretos tem a menor participação entre as raças: pouco mais da metade já fez alguma campanha, taxa 17.2% menor que a média das respostas.
Outro resultado apontado pela pesquisa é a diferença de pagamentos entre criadores brancos e não-brancos. Ao comparar a média dos valores mínimos e máximos que os creators receberam em campanhas, existe disparidade entre os valores pagos entre as raças.
A média do valor máximo recebido por um creator preto é de R$ 1.626,83, enquanto a recebida por um influenciador branco é de R$ 4.181,01. A diferença é de mais de 50% inferior à média da pesquisa. Quando perguntados se já receberam menos em alguma campanha, mesmo tendo a mesma faixa de seguidores e engajamento semelhante com outro influenciador recrutado, 38% dos influenciadores pretos responderam que "sim", sendo 16% maior que a média de respostas "Sim" da pesquisa.
"O que mais surpreende no estudo inicialmente é a quantidade de respondentes em um curto espaço de tempo. Isso mostra que existe um grande interesse por parte dos creators pelo assunto abordado e pela possibilidade de contribuir com a mudança do mercado. Além disso, os dados que comprovam as discrepâncias nas contratações de criadores brancos e pretos chamam atenção e nos fazem refletir sobre a necessidade de criar mecanismos efetivos e que provoquem de fato a transformação do mercado de influência brasileiro", afirma Ricardo Silvestre, fundador da Black Influence, agência especializada em influenciadores pretos.
No painel "Vidas Negras Importam", com Gabi Oliveira (criadora de conteúdo do Canal de DePretas), Levi Kaique (Influenciador, colunista, palestrante e engenheiro civil) e Lilian Ribeiro (repórter da GloboNews) - mediados por Thiago Cerqueira (VIU Hub).
Mostrou a partir de um estudo da VIU Hub que a busca pelo termo "racismo" no Google cresceu mais de 400%, durante os meses de maio e junho deste ano, período após o assassinato do americano George Floyd.
Os criadores de conteúdo Levi Kaique e Gabi Oliveira afirmaram terem sentido uma pressão e cobrança por parte dos seguidores para oferecerem informações sobre questões raciais e racismo durante o período. No entanto, não concordam com a alteração do conteúdo, ou quando o mesmo é feito de forma rasa.
"As pessoas negras que trabalham com internet são plurais. Acho que é violento uma pessoa que fala sobre maquiagem e moda, ser cobrada para falar sobre racismo", disse Levi Kaique.
"Precisamos sair do raso ‘o racismo é ruim, o racismo é mau’. Lembro que no início do movimento, uma marca me chamou para uma ação. Eu falei que deveríamos falar sobre questões mais intensas sobre o assunto, como encarceramento da população preta, genocídio negro, falar sobre mães que estão lutando para que possam enterrar seus filhos e manter a dignidade deles. Não podemos reduzir o assunto a ‘negro é bonito’ ou ‘representatividade’. Precisamos falar sobre o nosso problema que é estrutural", concluiu Gabi Oliveira.