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Aqui não tem haole: a Mormaii surfa na onda do surfe e do skate olímpicos

A empresa, criada pelo surfista Morongo, aposta em um marketing “tribal” para desenvolver produtos e ganhar a confiança da galera

O skatista Marcos Gabriel, da equipe Mormaii, demonstra seu talento: empresa aposta na parceria com atletas para crescer no segmento (Jovani Prochnov/Divulgação)

O skatista Marcos Gabriel, da equipe Mormaii, demonstra seu talento: empresa aposta na parceria com atletas para crescer no segmento (Jovani Prochnov/Divulgação)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 28 de julho de 2021 às 11h09.

Última atualização em 28 de julho de 2021 às 11h58.

“O skate sempre foi legal, vocês que só descobriram ontem”, escreveu, em seu Twitter, a tetracampeã mundial Karen Jonz, lenda do skate vertical que conquistou a audiência do canal esportivo Sportv com seu carisma e comentários sem filtro. Contratada para comentar as provas olímpicas da categoria, estreante nos jogos, Jonz levou para a TV a linguagem das praças e rampas onde a galera do skate se encontra.

“Xerecou no campeonato”, afirmou a comentarista, após uma queda da skatista belga Lore Bruggeman, que se desequilibrou no corrimão e caiu, de perna aberta, bem em cima do obstáculo.

Essa linguagem coloquial (para dizer o mínimo) conquistou o público leigo, que também se emocionou com a medalha de prata da Fadinha, a skatista Rayssa Leal, de apenas 13 anos. Para além da torcida, o interesse na modalidade emocionou, ainda, as empresas de equipamentos esportivos, que estão de olho em um mercado que já movimenta 1 bilhão de reais, contando apenas roupas e acessórios, segundo a Confederação Brasileira de Skate.

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Conquistar a confiança dessa “tribo”, no entanto, exige certa dose de conhecimento e trabalho. Mais do que roupas descoladas, geralmente um ou dois números acima do indicado, o skatista deseja uma boa performance dos seus equipamentos esportivos. “Não importa se você é profissional ou não, quem anda de skate sempre está focado em conquistar aquela manobra”, afirma Fabiano Tissot, team manager dos atletas da Mormaii, fabricante de equipamentos esportivos de Garopaba, Santa Catarina.

No ano passado, a Mormaii quadruplicou suas vendas graças a uma forte estratégia digital – em 2019, seu faturamento estimado foi de 350 milhões de reais. A empresa adotou uma estratégia chamada de omnichannel para ampliar sua presença online. A maioria de suas lojas físicas (são mais de 20) se transformou em centros de distribuição para as compras pelo site, com o faturamento realizado por proximidade entre cliente e loja, o que agradou os franqueados.

A companhia também entrou para os principais marketplaces brasileiros, como o Magazine Luiza e a NetShoes.

Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, fundador da empresa, explicou esse processo a partir de uma analogia biológica. “A tecnologia é como a mitocôndria, um corpo estranho ao nosso, com DNA próprio, que vive em simbiose conosco”, afirmou Morongo, que é médico por formação e surfista por paixão, em entrevista à EXAME no início do ano passado.

A ideia é de uma simbiose entre homem e máquina. O canal digital se conecta com a loja física, ou com um galpão no quintal da casa de um surfista de Garopaba, construído para atender à demanda das compras online em pequenas cidades – modelo que a Mormaii já está explorando.

Skate na alma

Mas, como salienta Tissot, a galera do skate não é a galera do videogame. Não que o pessoal não curta uma tarde de Tony Hawk’s Pro Skater, famoso game de skate dos anos 90 relançado no ano passado para Xbox One, PS4 e PC. O ponto é que o skate é um esporte ao ar livre. “Crescemos durante a pandemia porque a galera não via a hora de sair pra andar”, afirma Tissot. “O skate, o surfe, funcionaram como pontos de equilíbrio.”

Esse detalhe, que pode passar despercebido por marcas se aventurando no mercado dos esportes radicais, é crucial se a intenção é construir uma marca forte no segmento. Para a Mormaii, a questão não é falar a língua do skatista, mas capturar a essência do esporte a partir de quem o pratica. Essa tem sido a estratégia da companhia desde o início.

Morongo fundou a Mormaii após deixar a vida de doutor na grande cidade e se estabelecer em Garopaba, nos anos 70. O start se deu no inverno frio de Santa Catarina, época em que o mar fica muito gelado para surfar. Sem aguentar ficar enfurnado em casa, e sem videogame, o surfista decidiu costurar uma roupa de Neoprene, material térmico que permite aguentar baixas temperaturas por um período prolongado. Ao verem Morongo dropando as ondas sem congelar, outros surfistas começaram as encomendas. E o negócio foi crescendo.

O método de desenvolvimento segue o mesmo até hoje. Mas, como Morongo não pratica todos os esportes, o jeito foi contratar atletas para darem os insgiths necessários para a criação dos produtos. A Mormaii conta, atualmente, com mais de 30 linhas, em esportes que vão do surfe ao beach tênis, passando pelo skate, pela natação e até pelo jiu jitsu.

“Quando você está no mar, ou numa pista, pode ser que encontre o [Gustavo] Medina, ou a Rayssa [Leal], e eles vão te cumprimentar”, afirma Tissot. “Podem parecer esportes individuais mas, no fundo, são coletivos. Todo mundo se ajuda e torce um para o outro.” Como a linha que divide profissionais e amadores é mais tênue do que em outros esportes, o skatista, no final das contas, não quer apenas parecer com o ídolo, ele almeja um desempenho parecido. Daí a importância de ter gente do ramo desenvolvendo equipamentos para uso em campeonatos que serão vendidos nas lojas sem nenhuma adaptação.

Atualmente, a Mormaii possui mais de 80 atletas patrocinados. Entre os nomes mais conhecidos estão os dos surfistas de ondas grandes Lucas Chumbo e Carlos Burle. Mas há garotos e garotas como Laura Mandelli, surfista de 14 anos, e Tuco Arruda, skatista de 16 anos (patrocinado desde os 11). Todos participam e contribuem para o desenvolvimento dos produtos.

No mundo do surfe, os iniciantes ou aventureiros, que ainda não conhecem a etiqueta do esporte, são chamados de haole, palavra havaiana que significa “homem branco estrangeiro”. “Aqui não tem haole”, diz Tissot.  “Pode ser um clichê, mas se a motivação do surfista é a busca pela onda perfeita, a do skatista é conseguir realizar uma manobra nova. Começamos a ganhar espaço no skate quando montamos uma equipe de seis atletas para nos ajudar a desenvolver tênis resistentes para um profissional, e foi esse mesmo tênis que colocamos no mercado. O produto precisa ser verdadeiro.”

Apesar de ainda não ter números que comprovem o movimento, Tissot garante que a audiência do skate olímpico está aumentando o interesse pelo esporte e pelos produtos da Mormaii. É como diz a lenda Karen Jonz, o skate sempre foi legal, você que só descobriu agora.

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