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Mercado evangélico já gera R$ 21,5 bilhões por ano no Brasil

Estudo analisa a expansão da gospel economy no país e mostra como a fé orienta consumo, comunicação e influência nas plataformas digitais

Com 85% dos evangélicos consumindo conteúdo religioso online, influenciadores e microcriadores ganham força e moldam hábitos de fé e consumo nas redes (Reprodução/Instagram)

Com 85% dos evangélicos consumindo conteúdo religioso online, influenciadores e microcriadores ganham força e moldam hábitos de fé e consumo nas redes (Reprodução/Instagram)

Juliana Pio
Juliana Pio

Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais

Publicado em 26 de outubro de 2025 às 20h13.

Última atualização em 26 de outubro de 2025 às 20h17.

A fé evangélica já movimenta R$ 21,5 bilhões por ano no Brasil e influencia hábitos de consumo, representatividade e comunicação. O dado integra o estudo Gospel Power, que analisou o avanço da chamada gospel economy, um ecossistema econômico e cultural com cadeias próprias de produção, distribuição e influência.

Lançado pela Estúdio Eixo, consultoria de comportamento e cultura da B&Partners, em parceria com a adtech Zygon, o levantamento mostra que a fé deixou de atuar apenas como marcador religioso e passou a funcionar também como ativo econômico, orientando o que, de quem e por que comprar.

Segundo o estudo, o público evangélico é visto como um dos vetores de crescimento da economia criativa e do varejo nacional. Representando quase um terço da população brasileira, essa comunidade influencia setores que vão da moda à música, do turismo à tecnologia.

De acordo com o Censo de 2022, o Brasil tem 47,4 milhões de evangélicos (26,9% da população), o maior percentual já registrado. O avanço ocorre no mesmo período em que cai o número de católicos, que passou de 105,4 milhões em 2010 para 100,2 milhões em 2022, reduzindo sua participação de 65,1% para 56,7%, a menor da série histórica.

O Gospel Power aponta que 58% dos evangélicos afirmam ter suas escolhas de consumo diretamente influenciadas pela fé. Ao mesmo tempo, 52% não se sentem representados pela publicidade atual e 31% já boicotaram marcas que contrariaram seus princípios. Além disso, 58% declaram estar dispostos a pagar mais por produtos e serviços alinhados à sua visão de mundo.

“O mercado evangélico não é um nicho: é um ecossistema completo, com cadeias de produção, distribuição e consumo próprias. A fé é o driver que organiza decisões de compra e relacionamento, tanto quanto o preço ou a qualidade”, diz Kika Brandão, CEO da Eixo.

Oportunidades setoriais e o “Gospel Premium”

O Gospel Power mostra que a expansão do consumo evangélico tem impulsionado diferentes setores da economia. O estudo identifica oportunidades em três frentes principais:

Moda, beleza e lifestyle: as juventudes evangélicas estão redefinindo o mercado ao incorporar referências globais ao vestuário de inspiração religiosa. O relatório aponta o fortalecimento da chamada “moda modesta”, o crescimento de marcas autorais e o uso do streetwear como expressão de identidade. O movimento tem dado origem ao segmento classificado pelo estudo como “Gospel Premium”, que combina propósito, estética e pertencimento.

Turismo religioso: a pesquisa mostra aumento da demanda por experiências imersivas, incluindo retiros, festivais e viagens temáticas, que unem fé, comunidade e descanso. O estudo destaca o potencial do setor para criar novos produtos e serviços, especialmente para famílias e jovens.

Educação e tecnologia: o levantamento registra a ampliação de plataformas digitais de ensino bíblico, cursos EAD de teologia e formações voltadas à liderança cristã, com atenção especial ao público jovem e feminino.

Para os autores, esses movimentos evidenciam uma economia em transformação, na qual fé, consumo e inovação passam a caminhar de forma integrada, dando origem a um ecossistema com códigos culturais próprios e alto poder de mobilização.

Entretenimento e influência

No universo da influência, o comportamento também se transforma. O entretenimento evangélico vive uma transição, deixando o modelo institucional e ampliando sua presença no ecossistema digital. O conteúdo religioso, antes concentrado na música e em veículos tradicionais, passou a circular nas redes sociais, onde se mistura a formatos de entretenimento, humor e estilo de vida.

Os números refletem essa mudança de comportamento: 85% dos evangélicos consomem conteúdo religioso no YouTube; 78% utilizam o WhatsApp para estudos e grupos de fé; e 65% afirmam descobrir novas referências religiosas e de comportamento pelo TikTok e Instagram.

Influenciadores como Deive Leonardo, Bispo Bruno Leonardo e Isadora Pompeo figuram entre os nomes de maior alcance, mas o crescimento mais acelerado está nos microinfluenciadores evangélicos, que apostam em linguagens de humor, moda, skincare, rotina e produtividade com propósito.

O Gospel Power propõe que a fé seja tratada pelo mercado como um elemento estruturante da cultura de consumo no país. O estudo aponta que marcas que dialogam com autenticidade, empatia e coerência encontram espaço para se conectar com essa audiência de forma consistente.

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