Marketing

Marcas não entendem os consumidores infantis

Segundo pesquisa “Infância Influente”, falta às empresas compreensão de que as crianças nasceram em plena era tecnológica. Estratégia errada afeta diálogo e fidelização

Relação com tecnologia: marcas esquecem que as crianças nasceram em um mundo mais moderno  (Getty Images)

Relação com tecnologia: marcas esquecem que as crianças nasceram em um mundo mais moderno (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2012 às 12h32.

Rio de Janeiro - Filhas da tecnologia, as crianças de hoje nascem inseridas em um mundo recheado por telas touchscreen, celulares com comando de voz, videogames sem joystick e multi-aparelhos com multi-tarefas. Nesse contexto mutável, as marcas passam por dificuldade por não entenderem quem são e o que querem os consumidores infantis.

Segundo a pesquisa “Infância Influente”, realizada pela TNS Global, com foco em crianças de seis a 11 anos, o objetivo das empresas têm de ser na geração de experiências para criação de vínculos afetivos.

Ainda que os pequenos não entendam as mensagens com a mesma propriedade que os adultos, mesmo porque não desenvolveram o raciocínio abstrato totalmente, podem referenciar as marcas por meio de seriados, personagens e ídolos.

Nesse cenário, as empresas devem definitivamente entender que as crianças de hoje definirão os tipos de consumidores do futuro. As mudanças não serão rápidas, mas é preciso correr contra o tempo.

“A infância está mais tecnológica, mas crianças continuam sendo crianças: elas querem explorar, brincar, saciar curiosidades, experimentar. Ávidas, abertas e destemidas frente a novas possibilidades, absorvem informações mais rápido”, diz Alexandre Momma, responsável pela pesquisa.

Cinco tendências de consumo infantil

O entendimento das marcas em relação a quem são e o que desejam os consumidores infantis e que tipo de consumidores eles se tornarão, aponta para cinco tendências do mercado, segundo o estudo. A primeira delas é a compreensão que os pequenos têm do domínio da tecnologia: eles utilizarão cada vez mais, com mais facilidade, e absorverão mais rápido os aparatos tecnológicos naturalmente.


O segundo ponto é que as empresas precisam entender que as crianças não atuam apenas como receptoras de informação, mas também como emissores. “O poder social já é forte e será potencializado pelas redes sociais. Os pequenos opinam, repassam, influenciam e são influenciados”, explica.

Em terceiro lugar está a autosuficiência, quando buscam informações e elas devem estar disponíveis onde e como quiserem. “Dessa forma, os processos de compra e pontos de venda precisarão de um update quanto a preços, produtos e vendedores, por exemplo”.

A quarta tendência é o conteúdo espontâneo, que cresce não só em presença, mas em importância. Segundo o estudo, a mensagem da marca não pode entrar em dissonância com a mensagem sobre a marca.

A última tendência é quanto à participação. Em um cenário bastante ativo, os consumidores buscarão adequar o que consomem às suas necessidades e valorizarem produtos em que tenham voz, desde que o objetivo não seja apenas comercial.

Diálogo certo, vínculo criado

De forma quase natural, marcas como a Fiat e a Estrela são exemplos de sucesso quanto à tendência de diálogo com as crianças. A montadora lançou o Uno Passeio e o Uno Elétrico, versões infantis do Uno. Já a Estrela relançou o jogo “Banco Imobiliário” trazendo como opção a forma de pagamento em cartão de crédito com a bandeira Mastercard. Outras marcas também entraram no universo infantil: os jogadores podem comprar ações de mentirinha da Vivo, Itaú, TAM Viagens, Nivea e Ipiranga.


“As marcas têm de oferecer formas de desenvolvimento e quem fizer parte desse momento começará a criar vínculos. É natural. Não é empurrar para o consumo, mas gerar experiências e benefícios para essas crianças. As marcas têm de ser preparar hoje para o que esse consumidor pode ser no futuro”, afirma Alexandre Momma.

A presença das marcas no dia a dia das crianças cria uma relação duradoura, por meio da geração de experiência. A partir de ações que criem uma espécie de parceria entre público infantil e a empresa, os resultados poderão ser positivos para ambos os lados. “A criança se diverte e futuramente resgatará as memórias, com uma origem no afeto pela marca”, completa Momma.

Depois de adultos, as memórias da infância também ganham continuidade e passam de geração para geração. Um case de sucesso é o seriado Chaves. Há 31 anos no ar pelo SBT, o programa mexicano é relembrado por pais, que compartilham com os filhos as trapalhadas dos personagens. A criação do desenho do Chaves, em 2006, e a ativação do mesmo por meio do McLanche Feliz, do McDonald’s, em que as crianças ganhavam bonequinhos no kit, são exemplos de um sucesso que sempre se renova.

Outro exemplo é a Lego. Criada nos anos 1950 e febre nos anos 1980, a empresa caiu no esquecimento nos anos 2000,Infância Influente,TNS Global,pesquisa,consumidores infantis,crianças chegando a fechar fábricas e demitir mais de 3.500 funcionários. No Brasil, a marca fechou as portas em 2004 e voltou em 2006, após reestruturação mundial. Entre as iniciativas que resgataram o sucesso da marca, estão ações de licenciamento que permitiram lançar peças temáticas, como do filme Star Wars e de super heróis, fazendo com que o brinquedo agradasse crianças e adultos.

“Conheço adultos com mais de 30 anos que colecionam Lego e vi esses dias uma cena que chamou atenção: uma criança com os ‘óculos canudo’ do Chaves na rua. Obviamente ela gosta do desenho, mas deve ter o fator influenciador dos pais. Nem sempre o seriado ou desenho são ótimos, mas se ele consegue resgatar experiências e sentimentos é o importante. Esse tipo de transporte que precisa acontecer e não está acontecendo”, pontua Momma.

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