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IA generativa leva 6 mi ao e-commerce; veja os 10 sites mais impactados

Pesquisa da Cadastra e Similarweb, obtida com exclusividade pela EXAME, mostra domínio do ChatGPT, adoção do GEO e mudança na forma como consumidores buscam e compram online

Tiago Dada, da Cadastra: “Aumentar a conversão com o uso de IA é essencial para transformar a atenção em rentabilidade” (Divulgação)

Tiago Dada, da Cadastra: “Aumentar a conversão com o uso de IA é essencial para transformar a atenção em rentabilidade” (Divulgação)

Juliana Pio
Juliana Pio

Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais

Publicado em 13 de novembro de 2025 às 11h11.

Última atualização em 13 de novembro de 2025 às 11h36.

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A forma como consumidores descobrem produtos e realizam compras online no Brasil já começa a ser alterada por sistemas de inteligência artificial generativa. É o que aponta a pesquisa “O Futuro da busca: como a IA generativa está redefinindo o caminho até o consumidor”, realizada pela Cadastra em parceria com a Similarweb.

O estudo analisou tráfego e comportamento de busca no Brasil e no mundo entre janeiro de 2023 e agosto de 2025 e mediu o impacto da IA generativa no e-commerce e nas estratégias de marketing, identificando efeitos diretos sobre tráfego, conversão e comportamento digital.

Segundo o levantamento, o ChatGPT concentra 99% do mercado nacional de ferramentas generativas e gerou mais de 6,1 milhões de visitas de referência para os 10 maiores sites de e-commerce do país.

O Mercado Livre lidera o volume de tráfego de referral, com 1,8 milhão de acessos, seguido por OLX (914,1 mil) e Amazon (840,9 mil). Na sequência aparecem Magalu (803,5 mil), Shopee (634,3 mil) e Temu (406,8 mil). Entre os demais destinos estão Netshoes (276,7 mil), Americanas (201,8 mil), Casas Bahia (167,5 mil) e AliExpress.

A plataforma da Open AI, que cresce como novo canal de descoberta e conversão, registrou 310,67 milhões de acessos em agosto deste ano, avanço de 124,58% em 12 meses. O Perplexity, segundo colocado, contabilizou 2,01 milhões de visitas no período, alta de 131,03%.

Os dados apontam que o avanço acelerado da tecnologia está redesenhando o ambiente de pesquisa digital. O movimento exige das empresas uma migração do SEO tradicional para o chamado GEO (Generative Engine Optimization), um conjunto de práticas voltadas para a visibilidade em ambientes guiados por IA.

O Brasil no centro da transformação digital

O estudo confirma a ascensão das ferramentas de IA Generativa no país. O Brasil ocupa hoje a terceira posição global em tráfego para essas plataformas, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia.

Entre janeiro e agosto de 2025, o Google registrou queda de 0,88% no tráfego brasileiro, somando 38,57 bilhões de visitas. No mesmo período, o ChatGPT cresceu 71,9%, alcançando 1,97 bilhão de acessos e concentrando 67% do tráfego entre os principais chatbots do país.

Em 12 meses, o tráfego do ChatGPT aumentou 260,7%, com média de 252,9 milhões de visitas mensais e 24,1 milhões de visitantes únicos. A mudança de hábito também aparece em outros mercados. Nos Estados Unidos, após quatro meses de uso do ChatGPT, os usuários passaram a clicar 26% menos em links do Google.

Busca conversacional e a virada para o GEO

A expansão da IA generativa inaugura a fase da Busca Conversacional Preditiva. As consultas passam a funcionar como diálogos contínuos, com mais detalhes e contexto. Enquanto as buscas tradicionais no SEO têm, em média, quatro palavras, as interações com IA chegam a 23 palavras e envolvem sessões superiores a sete minutos.

Nesse ambiente, a relevância de palavras-chave perde força, enquanto prompts e contextos amplos ganham protagonismo.

O GEO surge para otimizar sites e conteúdos para respostas geradas por IA, aumentando a chance de aparecer como fonte citada, referência ou recomendação nos outputs dos modelos.

Segundo Adilson Batista, CIO da Cadastra, “a inteligência artificial tem o potencial de transformar jornadas em sistemas adaptativos, capazes de decidir, aprender e criar conteúdo em tempo real.“

Com o GEO, o foco das métricas também muda. A taxa de cliques deixa de ser central e dá lugar à taxa de referência (referrals) e à densidade de menções, que mede a frequência com que um conteúdo ou marca é citada pelos LLMs.

E-commerce: da busca à conversão direta

A influência da IA generativa sobre compras já está estabelecida. Nos Estados Unidos, quase 60% dos consumidores recorreram à tecnologia para decisões de compra online. No Brasil, entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, os 10 maiores e-commerces receberam mais de 6,1 milhões de visitas originadas em links do ChatGPT.

O estudo aponta que a IA generativa comprime a jornada do usuário, reduzindo o intervalo entre descoberta e decisão. O lançamento do Instant Checkout pelo ChatGPT nos Estados Unidos deve reforçar essa tendência ao permitir compras dentro da própria plataforma.

“Aumentar a conversão com o uso de IA é essencial para transformar a atenção em rentabilidade e consolidar a presença das marcas neste novo ambiente digital", diz Tiago Dada, SEO e CRO Manager da Cadastra.

Para o varejo, conteúdos pensados para GEO devem ser estruturados, fáceis de interpretar e capazes de responder a dúvidas específicas. Como afirma Dada, o conteúdo deixou de ser apenas um complemento. Quando está bem posicionado e pensado para responder à dúvida do consumidor, ele impulsiona vendas de forma orgânica.

Perfil do consumidor e insights setoriais

O público que usa plataformas generativas no Brasil é majoritariamente jovem. No ChatGPT, 60% dos usuários têm entre 18 e 34 anos e 54,9% são homens. No Perplexity, o perfil é semelhante, com participação masculina de 56,8% e uso mais técnico. A sobreposição entre as plataformas é baixa: apenas 1,04% dos usuários do ChatGPT também utilizam o Perplexity.

A pesquisa também identifica padrões por setor:

Beleza

Segundo o levantamento, esse mercado apresenta tráfego moderado nas ferramentas de IA generativa, o que indica menor concentração na comparação de preços em relação a outros segmentos analisados.

Os consumidores desse nicho procuram principalmente informações sobre produtos específicos, além de detalhes sobre disponibilidade de marcas e políticas de sustentabilidade. Trata-se de um público que considera fatores ESG no processo de decisão e que chega às plataformas com maior nível de informação.

As consultas também mostram interesse equilibrado entre a experiência online e a localização de lojas físicas, reforçando o peso das jornadas híbridas de compra.

Entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, os principais destinos de tráfego de referral gerado pela IA incluem belezanaweb.com.br (92,6 mil visitas), sephora.com.br (80 mil) e natura.com.br (71 mil). Na sequência aparecem boticario.com.br (53,5 mil), avon.com.br (49,5 mil), epocacosmeticos.com.br (40,7 mil), principiaskin.com (23,6 mil), eudora.com.br (20,3 mil), fragrantica.com.br (9,9 mil) e ouiparis.com.

Farmácia

No segmento de farmácias, a pesquisa identifica um padrão distinto de comportamento. Segundo o levantamento, os três maiores e-commerces do setor concentram 70% das visitas geradas pela IA generativa, o que evidencia um alto grau de consolidação do varejo online da categoria.

O principal uso da IA nesse mercado é a comparação de preços, indicando um consumidor que realiza pesquisas intensas antes da decisão de compra. Outro uso relevante é a busca por informações sobre medicamentos, o que mostra a atratividade da categoria para consultas rápidas, detalhadas e facilmente localizáveis.

Entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, os principais destinos de tráfego de referência gerado pela IA foram consultaremedios.com.br (315,4 mil visitas), drogasil.com.br (250,8 mil) e drogaria.com.br (155,5 mil). Na sequência aparecem paguemenos.com.br (92,3 mil), drogariasaopaulo.com.br (79,6 mil), oficialfarma.com.br (64,2 mil), panvel.com (27,9 mil), ultrafarma.com.br (19,3 mil), araujo.com.br (18,8 mil) e drogariaspacheco.com.br (16,3 mil).

Moda

No varejo de moda, a pesquisa aponta um comportamento diverso e marcado por múltiplas jornadas de consumo. O principal destino de tráfego gerado pela IA generativa é o Enjoei, marketplace de produtos de segunda mão, que recebeu 204,7 mil visitas entre janeiro de 2023 e agosto de 2025. A liderança da plataforma indica alinhamento entre o público jovem e práticas de consumo sustentável.

O levantamento mostra ainda uma coexistência equilibrada entre fast fashion, varejo tradicional e plataformas de revenda, sinalizando que o setor comporta diferentes perfis e ritmos de compra. As consultas vão desde tendências de estilo até temas ligados a programas de fidelidade e disponibilidade de produtos nos e-commerces, o que reflete uma relação mais madura com as marcas.

Além do Enjoei, os principais destinos de tráfego incluem Dafiti (183,8 mil visitas), Lojas Renner (159,9 mil), Shein (98,9 mil), Riachuelo (63,7 mil), Farmrio (60,9 mil), C&A (59 mil), Hering (57,2 mil), Arezzo (38,2 mil) e Zattini (31,7 mil).

Viagens

No varejo de viagens, a pesquisa mostra um cenário diversificado, que reflete os diferentes momentos da jornada do consumidor. Aplicativos de mobilidade aparecem à frente de hospedagens e voos no volume de buscas por GEO, indicando um uso cotidiano e direto das ferramentas de IA generativa.

O levantamento também revela uma distribuição equilibrada entre categorias do setor — transporte, hospedagem e aviação — o que demonstra a maturidade desse ecossistema digital. As consultas vão da descoberta de destinos a dúvidas operacionais, como procedimentos em caso de cancelamentos, mostrando a presença constante da IA ao longo de toda a jornada de compra.

Entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, os principais sites de viagens que receberam tráfego de referência gerado pela IA foram uber.com (235,7 mil visitas), airbnb.com.br (162,9 mil) e booking.com (121,2 mil). Na sequência aparecem latamairlines.com.br (74,2 mil), localiza.com (71,9 mil), voeazul.com.br (70,6 mil), veegol.com (69,4 mil), tripadvisor.com.br (41,6 mil) e 99app.com (7,9 mil).

‘Supply chain de conteúdo’

Batista defende que empresas adotem uma visão de cadeia produtiva do conteúdo. “Para ter sucesso em GEO, estruture um ‘supply chain de conteúdo’, tratando criação, aprovação e distribuição como uma fábrica integrada, a partir de conceitos definidos, regras claras e mensuração constante.”

No ambiente da IA Generativa, otimizar um site significa construir uma biblioteca em que cada informação está organizada em resumos e tabelas claras, permitindo que o LLM encontre a resposta exata e a cite de forma direta como fonte confiável.

Como o estudo foi conduzido

A metodologia utiliza dados da Similarweb, que combina medição direta, redes de contribuição, informações públicas e parcerias comerciais. Foram analisados 600 sites de seis setores — AI Chatbots, E-commerce, Travel, Fashion, Beauty e Pharma — e mais de 12 mil palavras-chave.

A base cobre tráfego em desktop, mobile web e aplicativos, incluindo métricas de audiência, engajamento, busca paga e orgânica, social, display e referrals. Após a coleta, os dados passaram por etapas de limpeza, correspondência e mescla para eliminar duplicidades e padronizar fontes.

Na modelagem, foram aplicados métodos de machine learning e calibragem preditiva para ajustar estimativas e garantir consistência entre períodos e setores. Segundo as empresas, o processo permitiu comparações históricas e acompanhamento de tendências no ambiente digital brasileiro e internacional.

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