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Decisões apressadas: como silêncio, sono e sonhos impactam suas escolhas

A neurociência, a psicologia cognitiva e a filosofia mostram que o silêncio, o sono e os sonhos são aliados poderosos na tomada de decisões

O silêncio e o descanso são aliados essenciais para uma tomada de decisão mais consciente e estratégica (sorbetto/Getty Images)

O silêncio e o descanso são aliados essenciais para uma tomada de decisão mais consciente e estratégica (sorbetto/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 19h30.

*Por Rubens Harb Bollos

Decidir rápido significa decidir bem? Nem sempre. A pressa tem seus efeitos colaterais. Vivemos em um mundo acelerado, descrito pela psiquiatra norte-americana Anna Lembke como a Nação Dopamina - nome de seu livro que se tornou um best-seller - no qual a tomada de decisões se tornou cada vez mais imediata.

Em momentos de incerteza ou sob pressão, somos frequentemente levados a escolhas emocionais e impulsivas, que poderiam ser mais acertadas se déssemos tempo para a nossa mente processar. Isso ocorre porque, na evolução humana, a resposta emocional surgiu primeiro, sendo mais rápida e instintiva. Já a capacidade de decisão estratégica e lógica, associada ao neocórtex, é uma aquisição mais recente e demanda mais tempo de processamento.

Para manter a vitalidade, a memória e a lucidez, é essencial cultivar momentos de silêncio e sono de qualidade, e então teremos a paciência necessária para o dia a dia e o antídoto natural para a pressa. A palavra 'silêncio' vem do latim, silentium, que significa 'calar, estar quieto'. No latim clássico, representava tanto a ausência de som quanto um estado de calma e introspecção, sentido que se manteve até hoje.

A neurociência, a psicologia cognitiva e a filosofia mostram que o silêncio, o sono e os sonhos são aliados poderosos na tomada de decisões. E na manutenção da vitalidade, memória, lucidez e no desenvolvimento da paciência e autocontrole, essenciais para decisões evolutivas, sem pressa.

Portanto, antes de escolher: pare, respire, durma, sonhe e desperte para a decisão criativa.

Essa pausa pode evitar prejuízos e trazer mais foco sobre os caminhos a seguir. Como disse o filósofo grego Sêneca: 'Nada é mais prejudicial para a mente do que a decisão precipitada.'

Antes de explorarmos cada um desses três elementos, é essencial compreender como eles se complementam na tomada de decisões. O primeiro, inspirado na maiêutica socrática, mostra que o questionamento estruturado conduz a reflexões mais profundas e soluções mais claras.

Já o segundo, fundamentado na neurociência, revela como o sono fortalece nossa capacidade cognitiva e regula as emoções. O terceiro, baseado na neuropsicologia cognitiva, destaca o papel dos sonhos na reorganização mental e na resolução de problemas, ajudando-nos a encontrar soluções inesperadas e mais criativas.

O silêncio favorece a introspecção, o sono fortalece a mente e os sonhos despertam a intuição e estimulam a criatividade. Ao integrar esses fatores, construímos um processo mais equilibrado e estratégico para escolher com sabedoria.

O silêncio e a lucidez mental

O silêncio não é apenas a ausência de ruído, mas um espaço essencial onde a mente se organiza, filtra informações e encontra respostas. Filósofos como o grego Sócrates e a pensadora francesa Simone de Beauvoir valorizavam a introspecção como um caminho para uma compreensão mais profunda.

Da mesma forma, a filósofa alemã Hannah Arendt e o cientista e matemático francês Blaise Pascal refletiram sobre o papel do silêncio e da solidão na construção do pensamento crítico e na tomada de decisões.

Como escreveu Pascal: "Toda a infelicidade dos homens deriva de uma única coisa: não conseguirem permanecer em repouso, sozinhos, em seu quarto." Séculos depois, Byung-Chul Han, filósofo coreano, reforça essa ideia ao alertar que vivemos na "sociedade do cansaço", onde a hiperatividade e o excesso de estímulos nos afastam do silêncio necessário para o cultivo do verdadeiro pensamento profundo.

O silêncio permite que o cérebro desacelere, reduza a sobrecarga de estímulos e se reorganize. Sem distrações, a intuição e o pensamento crítico se fortalecem, favorecendo reflexões mais profundas e decisões mais conscientes. Além disso, o silêncio acalma as emoções, reduzindo o estresse e evitando escolhas impulsivas. Cultivar momentos de silêncio é essencial para manter a clareza mental, o equilíbrio emocional e a escuta interna em um mundo cada vez mais acelerado.

Aplicação prática: antes de tomar uma decisão importante, reserve momentos de silêncio, alguns minutos sem distrações. Pode ser uma caminhada, meditação, oração, mantra ou leitura motivadora.

Se estiver em um ambiente caótico, reunião tensa, conversas difíceis, crie uma pausa breve: levante-se, beba um copo de água, vá ao banheiro, por exemplo, para se reorganizar antes de retornar à decisão. E, acima de tudo, respire fundo.

O sono como ferramenta estratégica

Se o silêncio favorece a reflexão, o sono é essencial para consolidar informações e integrar aprendizados e fortalecer memórias de acerto e de otimismo, e não as de pessimismo, emocionais. O neurocientista britânico Matthew Walker destaca o papel do sono no fortalecimento da memória e no aprimoramento do processamento mental.

Já a psicóloga americana Rosalind Cartwright investiga como o sono contribui para a resolução de conflitos internos e a elaboração emocional. Estudos em neurociência mostram que um sono de qualidade fortalece a memória e o raciocínio lógico, reduz o impacto das emoções negativas na tomada de decisões e amplia a capacidade de resolver problemas de forma mais eficaz.

Além dos benefícios científicos, o descanso também é essencial para a clareza e boas escolhas. Como dizia a estilista francesa Coco Chanel: "O descanso é o melhor dos cosméticos."

O grande aprendizado: diante da indecisão, acalme a mente e prepare-se para um sono reparador com práticas de higiene do sono.

Evite telas antes de dormir, mantenha um horário regular de descanso, crie um ambiente tranquilo, respire profundamente e reduza o consumo de cafeína. Também evite refeições pesadas ou muito tardias. Ao despertar, sua mente estará mais organizada, permitindo decisões mais lúcidas e assertivas.

O papel dos sonhos: a resolução silenciosa de problemas

Os sonhos ocorrem principalmente durante o sono REM, fase de intensa atividade cerebral e reorganização mental. Nesse estado, o cérebro revisita experiências, processa emoções e simula cenários futuros, frequentemente trazendo soluções inesperadas e criativas.

O psicólogo cognitivo norte-americano John Bargh, demonstrou como processos inconscientes influenciam a tomada de decisões e o comportamento humano, destacando o papel da intuição. Já o matemático e físico francês Henri Poincaré, estudou como o pensamento inconsciente pode gerar insights matemáticos e científicos, reforçando que o descanso mental é essencial para a criatividade e a resolução de problemas.

Esse fenômeno, conhecido como epifania, tem exemplos marcantes na história. O matemático e inventor Arquimedes, grego, teve seu famoso momento Eureka! ao descobrir o princípio da flutuação enquanto relaxava em um banho. Até Albert Einstein, físico alemão-americano, relatou que sua intuição sobre a teoria da relatividade foi influenciada por um sonho, reforçando a importância do descanso para a inovação e o pensamento criativo.

Experimente: diante de escolhas difíceis, antes de dormir, acolha a dúvida sem pressa de resolvê-la. Silencie-se e sustente a pergunta sobre a decisão a ser tomada. Apenas imagine, sem esforço, um cenário futuro onde tudo já está equacionado. Não busque respostas imediatas.

Se foi demitido e está sem emprego, visualize-se reencontrando novas oportunidades e um ambiente de trabalho que lhe traz satisfação. Se recebeu uma notícia difícil sobre sua saúde, imagine-se encontrando força para enfrentar o tratamento, recebendo apoio e recuperando seu bem-estar. Se seu filho enfrenta desafios na escola, pense nele ganhando confiança e superando dificuldades com o seu suporte.

Relaxe, confie no dia seguinte e entregue-se ao descanso. No silêncio do corpo, a mente seguirá seu próprio caminho, encontrando saídas ou novas inspirações ao despertar. E repita sempre que for necessário. E que venham as epifanias! Ao futuro e além!

O poder de adiar a decisão: a filosofia da espera inteligente

Em diversas tradições filosóficas e espirituais, a espera é vista como uma virtude essencial. Correntes filosóficas como estoicismo e taoísmo, assim como ensinamentos do budismo e cristianismo, enfatizam que agir no auge da emoção pode levar a erros e que o verdadeiro discernimento surge com paciência e lucidez.

Também a neurociência nos indica que postergar uma decisão pode trazer benefícios concretos. Ao decidir no dia seguinte, reduzimos a impulsividade, pois o cérebro processa informações com mais clareza após o sono, organizando os dados e fortalecendo a memória. Emoções intensas se equilibram com o tempo, permitindo escolhas mais racionais e estratégicas.

Adiar uma decisão não é fraqueza, mas um exercício de autocontrole, autodomínio e humildade, reconhecendo que o tempo e a reflexão são aliados valiosos. Confiança e perseverança também fazem parte desse processo: confiar que a resposta virá no momento certo e persistir na busca da melhor escolha, sem pressa e sem impulsividade.

E para consolidar nosso aprendizado, seguem os 5 passos para decidir melhor:

  • 1. Adie decisões importantes sempre que possível, pelo menos por uma noite.
  • 2. Descanse, permitindo que o cérebro processe, organize e encontre respostas com mais clareza.
  • 3. Pratique o silêncio para acalmar a mente e reduzir a influência das emoções intensas.
  • 4. Aproveite o sono para consolidar informações e integrar aprendizados.
  • 5. Confie nos sonhos como parte do seu processo de decisão, permitindo que insights surjam naturalmente.

Agora, reflita: qual foi sua última decisão apressada e quais foram suas consequências? E o que trouxe mais desgaste: a decisão errada ou aquela tomada às pressas para agradar ou atender à pressão externa?

Regra de ouro: Na dúvida, adormeça. O amanhã despertará sempre nosso melhor.

  • *Rubens Harb Bollos é médico, mestre e doutor (Ph.D) em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Pós Doutorado em Biologia do Desenvolvimento (USP/ICB). É também counsellor biográfico formado pela E.L. Estudos Biográficos/General Anthroposofical Section (Suiça) e em Transformação de Conflitos, pela Cátedra para Estudos de Paz da UNESCO (Innsbruck University, Austria). É analista reichiano clinico-corporal pelo IBAR/SIAR (Itália) e professor convidado da Fundação Dom Cabral. Presidente-fundador da Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão.
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