Novos compactos transformaram os opcionais, como airbag, freio ABS e trio elétrico, em itens de série para conquistar os brasileiros, mais exigentes e com mais dinheiro no bolso (Marco de Bari/Quatro Rodas)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2011 às 18h46.
São Paulo - Uma categoria em especial do mercado automotivo vem ganhando destaque: a dos compactos. Antes visto como um carro popular e de poucos atributos, hoje está no coração da estratégia de montadoras de luxo para ganhar volume.
A Mercedes-Benz, famosa por seus esportivos premium, aderiu aos compactos como forma de ganhar escala e chegar à liderança do mercado de luxo até 2020. A companhia desenvolveu uma nova família de veículos do segmento, que terá pelo menos cinco modelos até 2015. “Até 2020, queremos liderar o mercado de luxo. Com compactos, é importante, porque ganhamos volume. Esse será o foco da empresa nos próximos anos”, afirmou Dimitris Psillakis, diretor de vendas e marketing de automóveis e vans da Mercedes-Benz no Brasil.
Em 2012, chega ao País o Classe B, menor que os veículos tradicionais da companhia e com baixa emissão de CO2, apresentado no último Salão Internacional de Frankfurt. Para atender ao mercado brasileiro, o carro será flex – uma novidade no segmento premium. Em 2013, será apresentado o novo Classe A, linha já comercializada no Brasil. O preço dos carros irá variar de R$ 90 mil a R$ 120 mil.
Além de ganhar escala, as montadoras estão atentas a um novo consumidor de automóveis, que está em busca de performance, mas preocupado com questões como mobilidade urbana e meio ambiente. Carros “beberrões” e pesados não são mais tão atraentes. Ao contrário: os motores, com mais tecnologia, têm dimensões menores e entram em pauta atributos como eficiência energética e baixa emissão de poluentes.
“Há uma mudança de conceito no mercado automotivo. Ninguém precisa de um carro de duas toneladas para ir fazer compras. Um carro pequeno faz a mesma coisa, mas com menos consumo, ocupando menos espaço. É um novo conceito de mobilidade urbana”, ressaltou Psillakis.
Na Europa, há incentivos para carros pequenos e menos poluentes e os motoristas pagam impostos de acordo com o nível de emissões de CO2 de seus automóveis. No Brasil, a preocupação com mobilidade não é tão forte, mas, num mercado global, a indústria preocupa-se com a tendência crescente do uso inteligente de carros.
“O mercado automotivo é global, carros carregam valores mundiais. Há questões intrínsecas ao universo do automóvel, que passam por pontos como melhor utilização do carro e matriz energética”, salientou João Batista Ciaco, diretor de publicidade e marketing de relacionamento da Fiat.
Com estilo
Os novos compactos transformaram os opcionais, como airbag, freio ABS e trio elétrico, em itens de série para conquistar os brasileiros, mais exigentes e com mais dinheiro no bolso.
A Fiat, que ocupa a liderança do setor no Brasil, relançou em agosto seu modelo global Cinquecento. Remodelado e com preço mais acessível que o trazido em 2009, quando o compacto não emplacou no país, a missão do carrinho é mudar a percepção do brasileiro de que carro pequeno é carro popular.
“Desenvolvemos um conceito de que carro pequeno é de entrada, mas ele também pode ser completo, com atributos como design e ter bons itens de série. Isso mostra que os pequenos possibilitam novo mercado”, disse Ciaco.
A expectativa da Fiat com o Cinquecento é vender de 1 mil a 1,5 mil unidades por mês até o final do ano. O modelo será produzido na planta da Chrysler (marca comprada pela Fiat em 2009) no México e, por acordos bilaterais entre Brasil e aquele país, o veículo não sofrerá com o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Importados).
Já a sul-coreana Kia aposta na categoria com o seu compacto Picanto, posicionado como premium para o público jovem, mas com preço mais acessível. Os modelos vêm com rodas de liga leve, MP3, entrada USB e para iPod. Em 2010, o automóvel representou 17% das vendas da Kia no Brasil. Com o IPI de 35% para importados, os novos modelos do veículo custam agora entre R$ 39.900 e R$ 49.900.
“O consumidor brasileiro saiu do seminovo para o carro de entrada. Seu segundo passo foi buscar um veículo popular, mas com estilo”, analisou Ary Jorge Ribeiro, diretor de vendas da Kia Motors do Brasil. Para ele, o novo consumidor de compactos quer modelos com desing, segurança e conforto. “O compacto atende um consumidor mais exigente, porém, tem preço mais em conta”, salientou.
A montadora japonesa Nissan, famosa por seus carros robustos, como sua picape Frontier, também decidiu entrar no mercado de compactos para ganhar volume. A empresa lançou no final de setembro, no Brasil, o March, posicionado aqui para competir com Gol (Volkswagen), Palio e Uno (ambos da Fiat). Mas o modelo também será comercializado em 160 países.
A decisão de produzir um automóvel pequeno faz parte da estratégia da empresa de ser a quarta maior do mundo em volume de produção e atingir 5% de participação no Brasil até 2016. “Quase 50% dos automóveis do mercado local são compactos. Atuar nessa categoria é a forma de crescer no Brasil”, avaliou Carlos Murilo Moreno, diretor de marketing da Nissan.
Para conquistar o brasileiro, o modelo, com preço a partir de R$ 27.990, virá com airbag duplo de série e três anos de garantia. O preço fixo para a revisão do produto também é apontado como diferencial.
Os modelos, por enquanto, também são produzidos no México. Mas a Nissan está investindo R$ 2,6 bilhões na construção de uma fábrica em Resende (RJ) para a produção de 200 mil unidades por ano. A previsão é que sejam fabricados três tipos de compactos, além de outros modelos.
O início da produção está previsto para o primeiro semestre de 2014. Segundo Moreno, “a fábrica é parte importante na estratégia global da Nissan de se tornar a marca asiática líder da indústria automotiva no Brasil”.
Mercedes-Benz avalia instalar fábrica no Brasil
A montadora de carros de luxo Mercedes-Benz, do grupo Daimler AG, avalia a possibilidade de produzir automóveis no Brasil. Com a estratégia de crescer com compactos e o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para importados, a empresa pode trazer uma fábrica para o País – mesmo o mercado de automóveis local sendo pequeno para a companhia.
“Esse é um assunto que estamos avaliando. Pensando na nova plataforma de produtos, pode haver a viabilidade de ter uma fábrica aqui”, afirmou Dimitris Psillakis, diretor de vendas e marketing de automóveis e vans da Mercedes-Benz no Brasil.
A companhia já possui uma base em Juiz de Fora (MG), de 2,8 milhões de metros quadrados, para a produção de veículos comerciais, como caminhões, onde produz 75 mil veículos por ano. “Temos um relacionamento de 55 anos com o Brasil”, ressaltou o executivo.
A também alemã BMW, concorrente direta da Mercedes-Benz, avalia a possibilidade de construir uma planta no Brasil. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) confirmou, na semana passada, ter recebido proposta da montadora para a instalação de uma fábrica no país.
Após o anúncio da alta do IPI em trinta pontos percentuais para produtos com menos de 65% de suas peças fabricadas nacionalmente, companhias têm avaliado a possibilidade de instalarem-se no Brasil. A chinesa JAC Motors já mostrou interesse em produzir localmente. A japonesa Nissan anunciou, no início deste mês, a construção de uma fábrica em Resende, no Rio de Janeiro, com investimentos de R$ 2,6 bilhões.