Pessoas usando máscaras de proteção em cinema de Hong Kong, China, 11 de fevereiro de 2020. Foto: Paul Yeung/Bloomberg (Paul Yeung/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 14h14.
O coronavírus, que deve ter tido origem em um mercado da cidade chinesa de Wuhan no fim do ano passado já infectou cerca de 80 mil pessoas e matou mais de 2.700, a maioria na China.
Por conta do surto, os chineses mudam seus hábitos de consumo e afetam drasticamente diferentes indústrias. Diante disso, a Kantar, líder global em dados, insights e consultoria, recolheu dados online de mais de 1.000 lares entre 6 e 9 de fevereiro em todo o país asiático, inclusive na região de Hubei, epicentro da crise.
Quedas e crescimentos
Pela impossibilidade de sair de casa, as indústrias de entretenimento e turismo são as que mais sofrem: 75% dos chineses disseram ter cancelado compras destas categorias e 17% reduziram os gastos desde o início da crise.
Produtos relacionados também têm perdido mercado, como bebidas alcoólicas (-57%), cosméticos (-56%) e vestuário (-67%).
Os gastos com alimentos e bebidas cresceram em 40% dos lares, produtos de limpeza em 48% e seguro saúde em 38%, especialmente na província de Hubei.
Retomada
No entanto, quando finalmente puderem deixar suas casas, 82% dos chineses pretendem retomar as refeições na rua, 78% têm planos de viajar e 77% de investir em entretenimento fora de casa.
A retomada não indica índices tão positivos para a indústria de luxo, que deverá ter as maiores perdas a curto e médio prazo, já que 61% afirmaram ter reduzido ou eliminado estes itens do orçamento e 21% pretendem continuar diminuindo a compra com o fim da crise. Este comportamento pode ser reflexo das mudanças de perspectiva de consumo que as pessoas apresentam após esse tipo de evento.
Como os chineses têm feito suas compras?
As pessoas têm se juntado em grupos de vizinhos, amigos ou familiares para trocar produtos ou fazer compras coletivas. Para isso, têm se organizado usando a plataforma de mensagens instantâneas WeChat. De acordo com o levantamento, 35% das famílias citaram os grupos como um novo canal de compra. Plataformas de e-commerce também são usadas por 55% dos chineses.
Como os chineses têm passado o tempo em casa?
Além de aulas online para crianças e adolescentes e trabalho remoto, as atividades que mais preenchem o tempo são na maioria relacionadas às telas: 58% optam por vídeos de longa duração, 56% por vídeos curtos e 41% estão ligados na TV. Já para 54% dos entrevistados, descansar tem sido a principal maneira de driblar o confinamento. Na sequência, 28% das pessoas têm aproveitado o período para cozinhar mais, 23% para curtir os filhos, 30% para estudar online e 26% para ler.
Por conta de mais tempo disponível para estar conectado, 40% visitaram mais vezes plataformas informativas de vídeos, 34% têm usado mais as redes sociais, principalmente o WeChat, e 26% plataformas online de música. Alguns serviços online também ganharam novos clientes, já que 84% dos chineses consumiram algum produto online de forma inédita durante a crise. Por exemplo, 34% participaram de uma consulta médica à distância pela primeira vez, 33% experimentaram cursos online e 26% decidiram fazer uma assinatura e pagar por entretenimento digital.
Apesar de ainda não haver previsão para que as restrições quanto ao coronavírus terminem, os chineses já sabem o que querem fazer quando este dia chegar. Para 65%, a primeira compra será um jantar fora de casa com outras pessoas, enquanto 58% pretendem visitar lojas e shoppings e 45% viajar.
A preocupação com a saúde também é amplamente citada. Para 83% dos consumidores, estocar máscaras e produtos desinfetantes será prioridade, assim como usar máscara diariamente (65%), ter mais atenção às bactérias no cuidado com a higiene pessoal (76%) e comprar equipamentos que ajudem a manter a casa limpa (63%).
De forma geral, a pesquisa indica que o consumo na China deve se tornar mais conservador, já que muitos lares aumentaram a preocupação em guardar dinheiro para emergências e reduzir gastos desnecessários.
Em paralelo, a atenção em valorizar o que o dinheiro não compra também foi citada, como passar mais tempo com família e amigos e ter um universo espiritual mais rico. As pessoas também afirmaram que pretendem pagar mais por marcas que sejam mais socialmente e ambientalmente responsáveis.