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Como as Expos Mundiais se tornaram uma vitrine de inovação

Foram nelas que o telefone, o raio-X e até o ketchup ganharam projeção mundial. A Expo de Osaka propôs uma sociedade do futuro para nossas vidas

Expo de Osaka: 100 mil visitantes por dia (Sumeyye Dilara Dincer/Anadolu/Divulgação)

Expo de Osaka: 100 mil visitantes por dia (Sumeyye Dilara Dincer/Anadolu/Divulgação)

Abel Gomes
Abel Gomes

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Publicado em 16 de outubro de 2025 às 17h34.

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Já tive a oportunidade de visitar a Expo em Milão, em Dubai e, agora, em Osaka, que terminou no último dia 13 de outubro. O Japão, por si só, já é um país que impressiona qualquer visitante, e na Expo de Osaka não poderia ser diferente.

As Expos Mundiais são grandes vitrines de inovação. Foram nelas que o telefone, o raio-X e até o ketchup ganharam projeção mundial. A própria Torre Eiffel nasceu como símbolo da Exposição de Paris de 1889. Em 2025, a Expo Osaka seguiu essa tradição, reunindo países e empresas para apresentar ideias e tecnologias que podem transformar o futuro.

A Expo Osaka foi um grande evento universal que reúne países, empresas e organizações para apresentar inovações tecnológicas, propostas sociais e culturais sob o tema “Designing Future Society for Our Lives”, desenhando uma sociedade do futuro para nossas vidas.

Já fui surpreendido com o local do evento, que é uma ilha artificial na baía de Osaka. Sim, uma ilha inteiramente dedicada a abrigar a participação de 160 países, em uma área de 1,55 km².

O pavilhão do Japão

Mas não é apenas a grandiosidade da ilha que impressiona. Como cenógrafo, com mais de 35 anos de carreira, fiquei particularmente impactado pelo Grand Ring, uma estrutura circular de madeira projetada pelo arquiteto Sou Fujimoto. Construído sem o uso de pregos ou parafusos, com uma área de 61.000 m², este é o maior edifício em madeira do mundo, reconhecido pelo Guinness World Records. É uma verdadeira obra de arte: um elemento de conexão que integra os espaços da Expo, facilita a circulação do público e ainda oferece sombra contra o calor intenso de Osaka. O círculo, símbolo do sol na bandeira japonesa, ganha aqui uma escala monumental. Nunca vi nada parecido.

Com uma expectativa de público de 28 milhões de pessoas, a Expo já havia recebido mais de 24 milhões de visitantes a um mês do encerramento. O espaço estava lotado, e os pavilhões viviam filas imensas. E, mesmo assim, o povo japonês deu uma aula de comportamento práticas positivas: famílias inteiras aguardavam pacientemente durante horas, com crianças, jovens e idosos juntos, em uma demonstração coletiva de respeito e convivência.

Visitei pavilhões de países como Japão, China, Brasil, Portugal, Arábia Saudita, Qatar, Tailândia, Alemanha, Kuwait, Emirados Árabes, além do Pavilhão do Futuro. Entre todos, meu destaque vai para o pavilhão do Japão. Uma experiência arrebatadora. Ali, o país constrói uma narrativa emocionante, didática e atual, que fala do futuro de forma concreta, possível e profundamente alinhada às tendências mundiais. A mensagem é clara e inspiradora: “Acreditamos na vida, e em tudo há vida. No círculo da vida não há começo nem fim.”

O mais impactante foi ver como o lixo orgânico gerado no evento é transformado diante dos olhos do visitante em energia para uma grande usina. Um gesto simbólico e, ao mesmo tempo, real: emoção e choque em equilíbrio perfeito. O Japão conseguiu, assim, traduzir sua filosofia de respeito à vida e ao futuro em uma experiência universal.

 A pluralidade cultural do planeta

Falando em genialidade, não posso deixar de destacar a presença de Bia Lessa, minha amiga e uma das maiores criativas brasileiras, que nos representa com sensibilidade e inteligência. Sua obra na Expo mostra ao mundo que a arte brasileira não conhece limites e que nossa criatividade encontra sempre soluções inovadoras.

Outro ponto que me chamou atenção foi o pavilhão de Portugal, que apresentou com autenticidade seus laços históricos e culturais com o Japão. Uma das escolhas mais marcantes foi destacar palavras da língua portuguesa que se incorporaram ao idioma japonês. Ver a força da nossa língua atravessando fronteiras e se transformar até no japonês é motivo de orgulho.

 No Pavilhão do Futuro, assisti a um verdadeiro festival de robôs: impressionantemente humanizados, de diferentes tamanhos e formatos, todos interagindo com naturalidade. A mensagem, no entanto, não era de deslumbramento cego, mas de alerta. A inteligência artificial precisa ser tratada com cuidado e racionalidade, não apenas com empolgação. O Japão mostra que a IA deve ser usada de forma responsável e eficiente, sem se tornar um brinquedo futurista.

 Uma das simulações mais inquietantes apresentadas foi a possibilidade, no ano de 2075, de transferir a memória de uma pessoa, no momento da sua morte, para um androide. Por meio da IA, familiares poderiam continuar interagindo com essa “presença digital”. Confesso: essa não é uma possibilidade que desejo para mim — e imagino que muitos de vocês também não.

 Ao final dessa visita, sigo impressionado com a beleza da pluralidade cultural do nosso planeta e permaneço com o sentimento que a pureza, a inteligência, o respeito, a simplicidade e a simpatia do povo japonês são, sem dúvida, exemplos de caminhos possíveis para escrevermos as melhores histórias da humanidade no futuro.

  * Abel Gomes é cenógrafo e criativo, VP de Criação da SRCOM, agência com mais de 38 anos de história no mercado. Responsável por espetáculos que marcaram o mundo, assinou a abertura e o encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, 17 edições do Réveillon de Copacabana, as visitas papais ao Brasil e diversos shows e experiências no país e no exterior. Também criou ativações para algumas das maiores marcas brasileiras, consolidando-se como um dos nomes mais importantes da cenografia e do live marketing no Brasil.

 

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