Comentário racista direcionado à jornalista Maria Júlia Coutinho (Divulgação/racismovirtual.com)
Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2015 às 16h13.
São Paulo - "As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis", disse o escritor italiano Umberto Eco em junho deste ano. A ideia parece um pouco radical demais, mas ao "passear" pela rede, talvez tenhamos que concordar em partes com o estudioso.
Discursos de ódio sempre existiriam, muito antes da invenção do computador ou de qualquer outro tipo de comunicação, infelizmente.
A grande questão é que, com o "anonimato" da internet, muitas pessoas tendem a tomar coragem de dizer aquilo que não podem na "vida real".
Com o racismo não é diferente, comentários carregados de intolerância racial não são difíceis de encontrar na web.
O que as pessoas se esquecem, no entanto, é que a falsa sensação de "ser apenas um avatar" nas redes é ilusória. Por trás de todo discurso violento veiculado na internet existe alguém que pensa daquela forma e defende aquela posição.
Para mostrar à sociedade o quão reais são os posts racistas na web, a ONG Criola, organização da sociedade civil que atua a partir da defesa e promoção de direitos das mulheres negras, lançou a campanha "Racismo virtual. As consequências são reais."
A campanha nasceu em julho motivada pelo caso da jornalista Maria Júlia Coutinho (relembre aqui). A Criola, em parceria com a W3haus, executou um trabalho de mapeamento dos comentários na plataforma, localizando as cidades onde os autores das ofensas moram.
O passo seguinte foi transformar essas injúrias em algo material, na forma de outdoors e demais peças de mídia exterior instalados nas principais ruas e avenidas das cidades mapeadas.
Um site explicando toda a ação também foi criado.
De acordo com Jurema Werneck, fundadora da Criola, o objetivo da campanha é impactar a população e conscientizá-la sobre os efeitos de um comentário infeliz na internet.
"Não é possível ignorar esses ataques e achar que não haverá consequências para os ofensores. Racismo é crime segundo a Constituição brasileira e, no caso dos insultos na internet, independentemente de terem sido direcionados a uma pessoa conhecida ou não, os agressores infringiram a lei e, pior, a honra e dignidade das mulheres negras. A campanha visa expor essas situações e fazer com que a sociedade se posicione contra esse retrocesso", declara Jurema.