Dario Amodei, CEO da Anthropic, durante painel com Marc Benioff no Dreamforce 2025, em San Francisco (Juliana Pio)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 05h00.
SÃO FRANCISCO - O CEO da Anthropic, Dario Amodei, afirmou que a receita anualizada (run rate) da companhia está próxima de US$ 7 bilhões, resultado de um crescimento de dez vezes por ano nos últimos três anos. “Isso não continua assim por muito tempo, mas o potencial é muito grande”, disse durante painel conduzido por Marc Benioff, CEO da Salesforce, nesta quarta-feira, 15, no Dreamforce 2025, em São Francisco.
A Anthropic foi fundada em 2021 por ex-pesquisadores da OpenAI, entre eles os irmãos Dario e Daniela Amodei, com a proposta de desenvolver modelos de IA mais seguros e voltados ao uso corporativo. Responsável pelo Claude, principal concorrente do ChatGPT, a empresa tem entre seus investidores o Google e a Salesforce.
Parceira da Anthropic desde as primeiras fases, a gigante de software incorporou o modelo Claude ao Slack. Questionado por Benioff sobre o que diferencia sua empresa dos concorrentes, Amodei resumiu: “A OpenAI foi para o consumidor; nós, para o enterprise.” Sobre o Google, acrescentou: “É parceiro e concorrente. Essa dinâmica de cooperação em uma área e competição em outra é normal nas camadas de chips, nuvem, modelo e distribuição.”
O tema central da conversa foi a evolução das chamadas “empresas agênticas”, conceito que vem sendo defendido pela Salesforce e que se alinha à visão da Anthropic sobre modelos de IA capazes de executar tarefas completas.
“O salto é a capacidade agêntica, transformar modelos em agentes que fazem tarefas ponta a ponta”, disse Amodei. Segundo ele, o primeiro impacto aparece em desenvolvimento de software. “Vemos isso mais em código, mas é indicativo do que virá em finanças, saúde, seguros, manufatura, vendas e atendimento.”
Durante o painel, o executivo afirmou que a automação já atinge o próprio time técnico. “Em muitas equipes, não de forma uniforme, 90% do código é escrito por modelos. O humano edita e supervisiona”, afirmou. Ele relatou um caso interno: “Pedimos ao Claude para mexer no cluster e ele achou um bug obscuro que os engenheiros não tinham visto.”
Benioff perguntou se a automação reduz o número de engenheiros. “As pessoas podem interpretar mal. Não é substituição, é reconfiguração do trabalho”, respondeu o CEO da Anthropic.
“Você pode precisar do mesmo número de engenheiros ou mais. Eles focam nos 10% mais difíceis e na supervisão. Isso os torna dez vezes mais produtivos.” O executivo reconheceu, porém, que o avanço pode gerar efeitos econômicos amplos. “Em dois a cinco anos, veremos disrupção do trabalho em larga escala. Não que nada sobre para humanos, mas a mudança será mais rápida e mais ampla do que nas ondas anteriores.”
Amodei também abordou a corrida por infraestrutura e poder computacional, impulsionada pela demanda por modelos mais complexos. “Há enorme necessidade de computação. As leis de escala indicam que vamos precisar de cada vez mais capacidade para treinar modelos mais inteligentes. Quando a receita não for mais de US$ 7 bilhões, mas de US$ 100 bilhões ou mais, e o treinamento exigir milhões de chips, vamos precisar de múltiplos gigawatts de energia”, afirmou.
Segundo ele, a Anthropic tem buscado garantir fornecimento de energia e infraestrutura “onde for possível”, em meio à competição entre gigantes de tecnologia por data centers e semicondutores.
“Alguns desses acordos parecem um pouco duvidosos. Talvez haja contagem dupla ou até tripla”, disse, referindo-se a anúncios recentes do setor. “No fim do dia, todos esses data centers estão gastando dinheiro. O que mais importa é fazer dinheiro. Se a demanda está lá e o cliente paga, você paga seus provedores de computação e obtém o que precisa.”
Segundo ele, o avanço da Anthropic se apoia em clientes corporativos pagantes e na geração constante de receita, o que permite financiar novos ciclos de investimento e ampliar a infraestrutura de IA. “Se o cliente quer e paga, a gente garante a capacidade computacional necessária”, disse.
Segundo ele, o modelo de expansão da empresa é sustentado por clientes corporativos pagantes e geração de receita, o que, em sua visão, viabiliza novos ciclos de investimento e expansão da infraestrutura de IA. “Se o cliente quer e paga, a gente garante a capacidade computacional necessária”, afirmou.
No longo prazo, o executivo afirmou que a Anthropic quer ser reconhecida como uma empresa confiável e responsável no uso corporativo da IA. “Queremos ser conhecidos como a empresa que faz o que diz e entrega o que promete”, disse Amodei. “Quem constrói sobre nós não terá surpresas. Você não vai ver o modelo dizendo que é Hitler. Isso é muito importante para nós.”
Ao encerrar o painel, Benioff perguntou qual é o horizonte para os próximos cinco anos. Amodei respondeu que a ambição é colocar a inteligência artificial no núcleo das organizações. “Vejo potencial em finanças, seguros e saúde. Para doenças como câncer e Alzheimer, a IA é o caminho.”