(Lucas Figueiredo / CBF/Agência Brasil)
Colunista
Publicado em 28 de maio de 2025 às 20h04.
O balanço financeiro da Confederação Brasileira de Futebol em 2024 saiu e, para a surpresa de ninguém, a conclusão é clara: a CBF é uma máquina de movimentar dinheiro. Antes de entrar mais profundamente nas cifras bilionárias, é importante ressaltar que essa percepção ocorre entre os fãs de futebol, que, além de não comemorarem um título desde 2019, veem a Seleção acumular sucessivos tropeços na Copa do Mundo. Isso se reflete na diminuição da importância que os torcedores atribuem aos jogos da Seleção.
De acordo com a pesquisa “O Maior Raio-X do Torcedor”, feita em parceria entre Quaest, CNN e Itatiaia, de 2024, menos da metade dos brasileiros se preocupa em acompanhar os jogos da Seleção — o índice caiu de 53% para 49%. Já o percentual de quem raramente ou nunca assiste saltou de 18% para 23%, um traço evidente do enfraquecimento constante dessa comunidade.
Dito isso, vamos aos números:
Em três anos, a CBF acumulou R$ 488 milhões de lucro.
Às vésperas de uma Copa do Mundo, a Seleção masculina ficou alguns meses sem treinador. Agora conta com o italiano Carlo Ancelotti e uma enorme esperança depositada em suas costas. Junto a ele, um novo presidente, Samir Xuad, desconhecido do cenário esportivo, eleito em uma chapa única.
Outra grande notícia que abalou a comunidade do esporte — e serviu como cortina de fumaça em meio ao caos organizacional da CBF — foi a suposta adoção de uma camiseta vermelha como segundo uniforme. Aliás, recomendo a coluna do companheiro Marcos Bedendo, que falou muito bem sobre isso.
Concordo bastante com ele sobre o olhar do latino em relação ao esporte. Não é só futebol; é um algo mais que, resumidamente, chamamos de cultura. Porém, o ufanismo em pintar as ruas de verde e amarelo a cada quatro anos começa a não fazer mais sentido.
Não se trata da cor da camisa ou de um grupo ter se apoderado dela como identidade política, mas sim dos escândalos que envolveram dirigentes. Você lembra do “FIFAgate”? Foi o escândalo revelado em 2015 que envolveu as principais autoridades do mundo do futebol e resultou, entre outras coisas, na condenação e banimento do ex-presidente da CBF, José Maria Marín, de atividades relacionadas ao futebol.
Seth Godin, autor do livro “Tribes: We Need You to Lead Us” (Tribos: Precisamos que Você nos Lidere, na tradução), cunhou o termo “tribo” para explicar como, no mundo dos negócios e do marketing, as pessoas se conectam por algo que têm o objetivo de mudar. Para que isso aconteça, é necessário que alguém lidere essa ideia. E é justamente aqui que a CBF precisa repensar sua estratégia de reengajar seu público, que recorria ao futebol para afogar as mágoas políticas, econômicas e pessoais.
O caminho não vai ser fácil. Além da seca de títulos — em uma comunidade acostumada a conquistas e a adversários em altíssimo nível —, outros fatores podem ser complicadores:
Eleito presidente, Samir Xuad está numa posição desafiadora. A instituição movimenta valores dignos de uma gigante corporativa. Mas não é isso que o fã busca. O torcedor quer, acima de tudo, que seu tempo e atenção sejam valorizados pela Seleção — ou melhor, por quem a gere e está no comando. Isso não significa, necessariamente, que é preciso ganhar todas as Copas do Mundo, mas encontrar uma forma de abraçar o torcedor, se fazer mais presente no dia a dia e, claro, promover oportunidades de ter seu nome atrelado a boas iniciativas. Talvez esse seja o real hexa que o brasileiro busca.