*atualizado em 23/6/2016, às 17h19, com a resposta da AlmapBBDO.
São Paulo - Uma campanha da Aspirina, da Bayer, está sob intensas críticas nas redes sociais.
A peça, inclusive, ganhou um leão de bronze na categoria Outdoor, no Festival de Publicidade de Cannes, que acontece essa semana na França.
Na campanha criada pela agência AlmapBBDO para a Aspirina e para a sua versão com cafeína (CafiAspirina), uma situação é apresentada em duas cores.
A cor verde traz uma frase e remete à Aspirina. A cor vermelha, que de certa forma "contraria" a primeira frase, representa a CafiAspirina.
Três frases compõem as peças da campanha:
- "Relaxa, até parece que estou gravando isso" .MP3
- "Calma amor, não estou filmando isso" .MOV
- "Tá tudo bem, não estou anotando nada" .DOC
As siglas finais remetem aos arquivos de áudio, texto e vídeo.
Veja:
Campanha da Aspirina, criada pela AlmapBBDO (Reprodução)
Campanha da Aspirina, criada pela AlmapBBDO (Reprodução)
Campanha da Aspirina, criada pela AlmapBBDO (Reprodução)
Na internet, as pesadas críticas giram em torno do conteúdo da frase sobre o vídeo, considerada machista.
A frase parece descrever uma situação em que um homem grava cenas de sexo com a parceira sem ela saber, mesmo ele negando o fato.
Essas "sex tapes" não consentidas (e até as consentidas), muitas vezes, trazem sérios problemas.
A pessoa, por "vingança" após o fim do relacionamento, pode divulgar fotos e vídeos íntimos do ex-parceiro na internet.
O Senador Romário Faria (PSB-RJ), inclusive, já defendeu projeto de lei para criminalizar esse tipo de prática e punir a pessoa que divulgar um conteúdo íntimo alheio.
Atualmente, o projeto está em tramitação e aguarda parecer da Comissão de Seguridade Social e Família.
Lugares como Reino Unido e Califórnia já tipificaram esse tipo de crime.
Campanha e críticas
As outras duas frases da campanha parecem envolver um ambiente político ou investigativo, onde se capta informações confidenciais.
Mesmo assim, é difícil entender o significado dos anúncios e o que a marca quis dizer com as cores e as frases.
O "CafiAspirina" seria uma versão "mais ousada" da aspirina? Ou uma versão mentirosa? Ou uma versão "mais apimentada"? Um tanto confuso...
E a "dor de cabeça" causada pelo "vazamento de informação" seria resolvida com uma simples aspirina?
Nas redes sociais, Ana Paula Passarelli, coordenadora do curso "Gênero na Publicidade" da ESPM São Paulo, divulgou um post onde critica a campanha, que acabou viralizando.
Na página da AlmapBBDO no Facebook, várias pessoas fizeram críticas:
"Nossa, publicitário tem mesmo que ser estudado. Os caras pagam de entendedores das tendências da sociedade, mas sequer conseguem enxergar o problema que é ter uma peça que normaliza a invasão de privacidade e o revenge porn. Nunca antes houve tanta luta das mulheres e você fazem uma campanha LIXO e MACHISTA dessa, só provando que quem criou isso (e quem julgou também né) não manja nada de sociedade!!!!!!", escreveu Helen Macedo.
"Que bosta de propaganda. Se orgulham de oprimir mulheres? Que tipo de profissionais são vocês?", escreveu Zink Mariana.
"Além de misógino, sem graça, não merece nem um leão da Parmalat", postou Julia Faria.
Outros comentários:
- "Parabéns por fazer gracinha com uma situação onde via de regra uma mulher é exposta, massacrada e execrada. Parabéns por reforçar a Cultura do Estupro e o machismo que a alimenta. Parabéns, parabéns, parabéns, parabéns..."
- "Revenge Porn é crime".
Resposta da AlmapBBDO
A agência AlmapBBDO, responsável pela campanha, enviou o seu posicionamento oficial à EXAME.com:
"Com relação à discussão envolvendo o anúncio de Aspirina, a AlmapBBDO esclarece que não houve a intenção de tratar com indiferença abusos de qualquer natureza. Mas entendemos que pode ter havido interpretações diferentes da mensagem que a peça queria passar. A AlmapBBDO repudia a prática de filmagem não consensual e qualquer espécie de violência ou invasão de privacidade. Ficaremos atentos para evitar o problema no futuro".
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Leia também: Como as marcas podem ser feministas.
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1. Cultura do estupro
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1/15 (Reprodução)
São Paulo - No meio da polêmica sobre o chocante caso de uma
adolescente estuprada por 30 homens no Rio de Janeiro, sobram acusações sobre "quem seria o responsável" por tal crime e quem "incentivaria" a cultura do estupro em nossa sociedade. Até para a música funk já sobraram xingamentos. Entre muitas dúvidas, uma coisa é certeza: a culpa nunca é ou será da mulher. Não há justificativa cabível em nenhuma circunstância para esse tipo de crime. Já entre os muitos fatores que contribuem para a criação de uma cultura de violência contra a mulher (e, depois, a relativização e banalização desses crimes), estão as milhares de horas de filmes, seriados, comerciais e músicas que tratam essa violência como algo legítimo. No mundo da
publicidade, não é diferente. Ao longo dos anos, foram dezenas de polêmicas envolvendo anúncios que acabaram acusados de promover mensagens sexistas e que, de certa forma, glamourizavam o estupro. E nem falamos aqui dos anos 50 e 60, quando anúncios sexistas eram tão difundidos que pareciam ser a regra. São casos recentes, do século 21.
Confira, nas imagens, 13 exemplos de casos polêmicos de anúncios acusados de promovorem a violência contra a mulher.
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2. 1. Skol
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2/15 (Reprodução/Facebook)
A campanha de Carnaval da
Skol de 2015 errou feio quando criou diversas peças que foram espalhadas pelas ruas de São Paulo. Em um dos cartazes, havia o mote "Esqueci o 'não' em casa". A ideia era falar das pessoas mais "livres" nas festas carnavalescas, algo como um "permita-se". Mas, para muita gente, pareceu uma mensagem que incentivava o assédio sexual e o estupro - e ainda envolvendo bebida alcoólica. A marca acabou pedindo desculpas e trocando as frases, dessa vez com mensagens que falavam claramente sobre respeito e consentimento.
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3. 2. Calvin Klein
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3/15 (Reprodução)
Esse anúncio de 2010 da
Calvin Klein foi acusado de promover uma imagem de "gang rape" ao mostrar uma mulher dominada por três homens. Na Austrália, a propaganda foi banida.
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4. 3. Dolce & Gabbana
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4/15 (Reprodução)
O anúncio de 2007 da
Dolce & Gabbana foi duramente criticado quando apareceu pela primeira vez. Em anos recentes, foi "relembrado" durante um reality show americano e mais críticas vieram. Na imagem, uma mulher é segurada à força por um homem, enquanto outros observam. Ainda há outras versões da mesma campanha, mas em todas há um sentido de submissão e poder. A marca teve de pedir desculpas e, em muitos países, o anúncio foi retirado.
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5. 4. Lola Cosmetics
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5/15 (Reprodução)
Um produto da marca Lola Cosmetics causou uma polêmica na internet brasileira em 2015. A marca lançou um removedor de maquiagem da linha "Oh! Maria" chamado "Boa Noite Cinderela". A ideia era fazer alusão ao fato de que a mulher que tirar a maquiagem está indo, muito provavelmente, dormir. Mas claro que a frase acabou criando uma referência ao golpe "Boa Noite, Cinderela", que consiste em drogar uma vítima para depois estuprá-la.
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6. 5. Bud Light
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6/15 (Reprodução)
Nos EUA, a
Bud Light criou, em 2015, um novo rótulo que trazia a frase "The perfect beer for removing 'No' from your vocabulary for the night". Ou seja: "a cerveja perfeita para remover o 'não' do seu vocabulário para a noite". A ideia da campanha era similar à da Skol: "permita-se". Mas acabou sofrendo duras críticas por remeter ao estupro.
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7. 6. Polícia da Hungria
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7/15 (Balazs Mohai/Bloomberg/Getty Images)
A intenção da polícia da Hungria parecia boa. O vídeo "You Can Do Something About It, You Can Do Something Against It" ("Você pode fazer alguma coisa sobre isso, você pode fazer alguma coisa contra isso") fazia parte de uma campanha contra o estupro e a violência contra a mulher. Mas o anúncio acabou piorando a situação que visava combater. O comercial falava que, para evitar os ataques, as mulheres deveriam se "comportar": parar de beber, não flertar, não sair na rua com roupas "sugestivas", não dançar de "modo sugestivo". Ou seja, colocando a culpa nelas em um eventual ataque. Um desastre. O vídeo, de 2014, foi excluído do YouTube após a polêmica.
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8. 7. Ministério da Justiça
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8/15 (Reprodução/Twitter/@TuiterMarginal)
Em 2015, o
Ministério da Justiça tentou falar dos perigos do consumo excessivo de álcool. Mas usou as palavras erradas. Escreveu "bebeu, perdeu". E escolheu uma foto de uma mulher para ilustrar o caso. Claro: o "conselho" pareceu um incentivo (ou uma justificativa) ao estupro. O governo teve de pedir desculpas.
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9. 8. Gucci
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9/15 (Reprodução)
Essa campanha da
Gucci causou polêmica por causa da situação da foto, onde um homem "domina" uma mulher e parece bater nela. A imagem foi acusada de criar uma situação de "possível violência".
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10. 9. Belvedere
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10/15 (Reprodução)
Esse anúncio de 2012 da vodka Belvedere foi duramente criticado. A imagem mostra claramente uma mulher desesperada tentando fugir de um homem. A frase diz que, ao contrário de algumas pessoas, a vodka sempre desce suavemente (ou seja, não insiste ou reluta). Em inglês, "goes down" é uma gíria que remete ao sexo oral.
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11. 10. Relish
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11/15 (Reprodução)
Esse anúncio da marca italiana Relish, de 2009, foi criticado por mostrar uma abordagem policial onde os agentes molestam as mulheres. A imagem mostra a orla carioca. E os policiais vestem a farda da corporação do Rio de Janeiro.
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12. 11. Duncan Quinn
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12/15 (Reprodução)
A marca nova-iorquina de ternos Duncan Quinn criou, em 2008, um anúncio onde uma mulher (com roupas de baixo) parecia estar sendo enforcada com uma gravata. Já o homem responsável por isso sorri para a câmera. Claro que a marca foi duramente reprimida.
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13. 12. Valentino
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13/15 (Reprodução)
Esse anúncio de 2010 da
Valentino mostra uma mulher de vestido dominada no chão por dois policiais. O pé no pescoço da modelo chocou quem viu o anúncio.
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14. 13. Fluid
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14/15 (Reprodução)
Um anúncio do salão de belezas Fluid, no Canadá, causou bastante barulho em 2011. A série de anúncios trazia diversas imagens de situações ruins ou desagradáveis. Mas maquiagem e cabelo estavam impecáveis. A ideia era dizer algo como "o que importa é que você está bem arrumado". A foto que causou polêmica traz uma mulher de olho roxo, enquanto o marido, atrás dela, só observa. O salão acabou pedindo desculpas.
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15. Agora confira os anúncios proibidos pelo Google
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15/15 (Reprodução)