Marketing

As ousadas táticas de marketing de Donald Trump nas eleições americanas de 2024

Twitch, influenciadores e endosso surpresa foram estratégias chave na campanha que reconduziu o magnata à Casa Branca

Campanha eleitoral americana ganhou nova narrativa após atentado e foto de Trump (Anna Moneymaker/AFP)

Campanha eleitoral americana ganhou nova narrativa após atentado e foto de Trump (Anna Moneymaker/AFP)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 12h14.

Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 12h16.

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Donald Trump venceu a eleição presidencial nos Estados Unidos e voltará à Casa Branca após quatro anos, impulsionado por uma campanha que se destacou por ousadas estratégias de marketing. O republicano derrotou com folga a democrata Kamala Harris ao garantir 277 delegados no Colégio Eleitoral, segundo projeções da mídia americana. A apuração continua em estados críticos, mas a tendência é favorável ao magnata, que também caminha para vencer nos votos populares, surpreendendo a média das pesquisas.

A campanha de Trump, que ganhou uma nova narrativa após a foto viral relacionada ao atentado na Pensilvânia, destacou propostas como deportação em massa, aumento de tarifas sobre produtos importados e redução de impostos. O bilionário de 78 anos retorna ao poder após ter perdido a reeleição em 2020 para Joe Biden, episódio marcado pela recusa em admitir a derrota e pelos protestos que culminaram na invasão do Congresso em 6 de janeiro de 2021.

Mesmo enfrentando processos judiciais desde então, Trump manteve sua influência sobre o Partido Republicano e garantiu a vitória com uma estratégia poderosa e polarizadora, marcada por seu estilo de tudo ou nada, sem limites, conforme descreve Saadia Khan, fundadora da startup Immigrantly Media e e especialista em Direitos Humanos pela Universidade de Columbia, no portal Adweek. Segundo ela, as táticas de marketing do magnata não apenas moldaram a percepção dos candidatos, mas também provocaram reflexões sobre a maneira como a democracia é vista no imaginário americano.

X e Twitch: a era da campanha sem filtro

Um elemento marcante da estratégia de campanha de Trump nesta temporada, de acordo com Saadia Khan, foi o uso intenso do X (antigo Twitter), especialmente sob a liderança de Elon Musk. A plataforma permitiu que ele contornasse a mídia tradicional e se comunicasse diretamente com seus apoiadores.

Essa abordagem manteve sua base energizada e engajada, mas a natureza sem filtro de suas postagens — incluindo declarações polêmicas — gerou preocupações sobre a polarização social. Ainda assim, o estilo de comunicação direta deu à campanha um senso de autenticidade que ressoou com seu público principal, mesmo com o risco de afastar eleitores moderados.

Trump também explorou a Twitch, plataforma tradicionalmente associada a jogos, para alcançar um público jovem e familiarizado com a tecnologia. Transmitindo comícios e discursos, ele conseguiu se conectar com espectadores que talvez não acompanhassem a cobertura política tradicional. Embora o uso da plataforma para mensagens políticas tenha gerado críticas entre alguns usuários, a estratégia revelou a capacidade da campanha de se adaptar e se envolver em espaços digitais emergentes.

Podcasting: um jogador-chave na estratégia política moderna

O podcasting teve um papel importante na estratégia política desta temporada eleitoral, permitindo aos candidatos se conectarem de maneira mais casual e profunda com os ouvintes. Kamala Harris, por exemplo, participou do podcast Call Her Daddy, enquanto Trump foi destaque no The Joe Rogan Experience. A entrevista de três horas ofereceu uma plataforma para Trump mostrar seu estilo de fala "emaranhado" e divagante.

"Com o público de podcasts interessado em conteúdo mais substancial, esse meio se consolidou como uma ferramenta valiosa para humanizar os candidatos e se aproximar dos eleitores de forma mais pessoal", escreveu Saadia Khan.

Os endossos surpreendentes: a comunidade muçulmana de Michigan

Um dos aspectos mais inesperados da campanha de Trump foram os endossos de algumas organizações muçulmanas em Michigan, um estado-chave na disputa. Apesar do histórico de políticas controversas de Trump (como a proibição de entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana), sua mensagem local e ênfase em temas como a paz no Oriente Médio pareceram ressoar com certos segmentos da comunidade.

Para alguns eleitores, essas mensagens foram mais impactantes do que antigas críticas, revelando como fatores complexos e pragmáticos podem influenciar o apoio político. Esse cenário ilustra como o marketing estratégico pode, em algumas situações, superar divisões significativas.

Influenciadores e criadores de conteúdo: engajando o público jovem

Uma das estratégias mais surpreendentes da campanha de Trump foi a colaboração com influenciadores e criadores de conteúdo, como Logan Paul e Adin Ross. As parcerias engajaram jovens eleitores, muitas vezes indiferentes à política, por meio de plataformas onde eles são mais ativos. Ao participar de transmissões populares ou colaborar com figuras digitais conhecidas, a equipe de Trump buscou gerar entusiasmo e possivelmente influenciar jovens que, de outra forma, ignorariam mensagens políticas convencionais.

Embora as gerações mais jovens tendam a se inclinar para o lado democrata, a campanha de Trump fez um esforço calculado para se conectar com esse público. Especialistas sugerem que a intenção não é conquistar a maioria dos eleitores, mas fazer pequenos avanços estratégicos que podem ser decisivos em uma disputa apertada. Mesmo mudanças sutis no sentimento dos eleitores jovens podem ter um impacto significativo no resultado geral da eleição, e a cultura dos influenciadores tem sido cada vez mais vista como uma forma eficaz de aproveitar a influência dos pares e o grande alcance digital.

Essas colaborações não apenas ampliaram as mensagens de Trump, mas também conferiram à sua campanha um toque de modernidade e relevância. Ao se associar com figuras populares do universo digital, Trump se posicionou como um candidato que entende a evolução da paisagem midiática e reconhece a importância de engajar os jovens de uma maneira que ressoe com seus interesses e termos.

Uma aula em inovação

Na visão de Saadia Khan, a estratégia de marketing de Trump nesta temporada eleitoral foi uma verdadeira aula de comunicação direta e táticas não convencionais. Conforme escreveu, a presença do magnata "no X, Twitch e podcasts, juntamente com parcerias com influenciadores, demonstrou sua disposição para inovar e alcançar eleitores de novas maneiras. A campanha de Trump redefiniu o marketing político, ilustrando tanto seu poder de moldar narrativas quanto sua capacidade de aprofundar as divisões na sociedade."

Kamala Harris e Donald Trump em campanha

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