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Apple, BP, Ford... Reputação foi decisiva para empresas saírem da Rússia

Movimento de empresas é como se fosse o de países, com sanções colaterais à Rússia, na visão de especialistas

Vladimir Putin: presidente russo movimentou tropas em direção à fronteira do país com a Ucrânia ainda no fim de 2021 para pressionar o governo do país a não continuar a se aproximar do Ocidente (Sputnik/Alexei Druzhinin/Kremlin via/Reuters)

Vladimir Putin: presidente russo movimentou tropas em direção à fronteira do país com a Ucrânia ainda no fim de 2021 para pressionar o governo do país a não continuar a se aproximar do Ocidente (Sputnik/Alexei Druzhinin/Kremlin via/Reuters)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 2 de março de 2022 às 19h52.

Última atualização em 3 de março de 2022 às 10h00.

Apple, Google, Facebook, Mondeléz, British Petroleum, Shell, Ford, BMW, Maersk, Dell... A lista de empresas que encerraram operações ou serviços na Rússia nos últimos dias devido à guerra de Vladimir Putin com a Ucrânia vai desde marcas de tecnologia do Vale do Silício até petroleiras.

Essas empresas acabam se misturando a países como os Estados Unidos e à União Europeia que impuseram sanções à Rússia, que desde a última quarta-feira invadiu o território da Ucrânia. É como se elas fizessem sanções colaterais ao país.

A Apple, por exemplo, restringiu o acesso aos aplicativos de notícias russas RT e Sputnik na União Europeia e parou de vender aparelhos no país. A petroleira British Petroleum surpreendeu o mercado ao desistir da participação na exploração de petróleo junto à estatal russa Rosneft, que pode custar multas de US$ 25 bilhões. Já a Maersk, dona de contêineres que atravessam o mundo, vai parar de embarcar produtos para o país.

Boa parte da comunidade internacional acusa a Rússia de Vladimir Putin de violar o artigo 2 da Carta das Nações Unidas, que pede aos seus membros para não recorrer a ameaças ou à força para solucionar conflitos.

O presidente Russo movimentou tropas em direção à fronteira do país com a Ucrânia ainda no fim de 2021 para pressionar o governo do país a não continuar a se aproximar do ocidente, principalmente da aliança militar Otan, liderada por países como Estados Unidos, Reino Unido e França. Apesar de uma semana de guerra, a capital ucraniana é mantida pelo Exército do país, que tem recebido armas da União Europeia, mas não tropas, o que poderia desencadear um conflito global.

No campo do entretenimento, quem parou as operações foi a Netflix. A empresa paralisou o desenvolvimento de quatro produções originais russas e suspendeu a compra de filmes e séries do país.

A gigante do streaming já havia se recusado a cumprir uma determinação do Kremlin de exibir TVs estatais em seu catálogo. Uma das produções paralisadas foi uma série de suspense dirigida por Dasha Zhuk.

O boicote das empresas à Rússia é movido principalmente por uma cobrança reputacional e de imagem, segundo analistas ouvidos pela EXAME.

Tanto Marcio Sette Fortes, economista e professor do Ibmec, quanto Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM, veem o movimento como algo que vai ao encontro de políticas ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês).

“O que a gente pode perceber é que as empresas ficaram atentas ao dano reputacional, a mídia foi forte na condenação da Rússia e elas pensaram no dano reputacional. Essas empresas grandes são empresas com uma visão ESG", diz Leonardo Trevisan.

Marcio Sette Fortes lembra que os investimentos em ESG é o que costumam tangenciar essas empresas. No caso da retirada da Rússia, eles também guiaram os desinvestimentos.

“Se ficassem haveria dano, sim, à imagem. Começam a sair do país e são mais bem pontuadas, as que começam a sair são as que propagam a paz, são contra a guerra. Há também um indicativo de pressão política dos países, como os próprios países da Otan, dos EUA e aliados”, ressalta o professor. 

Nas contas das empresas que saíram, não está só o custo da reputação. Marcio Fortes afirma que há a previsão de um custo político em jogo. Afinal, nenhuma empresa quer permanecer em território conflagrado.

O professor Leonardo Trevisan destaca que a paralisação de determinadas empresas acompanham as ações dos governos de seus países de origem.

"É uma economia de mercado e absolutamente entrelaçada. As empresas tiraram o pé do acelerador. Isso significa que elas irão embora porque é muito grande o volume desses negócios. A economia da Rússia e do mundo ocidental está imbricada. São sinais políticas que vão se resolver, e depois a economia e os negócios se realocam."

No médio prazo, Marcio Fortes também enxerga a volta de grandes empresas ao mercado russo. O país tem uma economia mais ou menos do tamanho da brasileira, ocupando a décima posição no mundo.

“A pergunta que fica é como será o cenário quando essas empresas decidirem voltar. As que ficaram com certeza vão receber algum prêmio”, questiona.

Na visão do professor, a economia da Rússia está sufocada, principalmente porque o sistema financeiro do país foi excluído da rede internacional Swift

A Rússia espera que autoridades ucranianas cheguem a Belarus para a próxima rodada de negociações de paz na manhã de quinta-feira, depois de os dois países terem falhado em encontrar um ponto comum na última terça.

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