Marketing

Algoritmo sente? O que o Cannes Lions nos lembrou sobre marcas que ainda emocionam

Na era dos algoritmos e da eficiência automatizada, o que realmente diferencia uma marca é a capacidade de emocionar — algo que a IA ainda não aprendeu a fazer

Tor Myhren, VP de Marketing da Apple, durante a abertura do Cannes Lions 2025: 'O toque humano é nosso superpoder'
 (Divulgação)

Tor Myhren, VP de Marketing da Apple, durante a abertura do Cannes Lions 2025: 'O toque humano é nosso superpoder' (Divulgação)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 16 de junho de 2025 às 22h07.

Tudo sobreCannes Lions
Saiba mais

*Por Galileu Nogueira

"O toque humano é nosso superpoder. É o segredo para construir amor à marca a longo prazo."

Foi com essa frase que Tor Myhren, VP de comunicação e marketing da Apple, abriu o 72º Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions 2025 e deu início à discussão de um tema que, para mim, é o mais importante do ano: até onde, de fato, a criatividade humana pode ser substituída completamente pela inteligência artificial?

Num festival que celebra a criatividade, a grande pergunta que paira no ar é: até que ponto uma inteligência construída a partir do que já existe, programada para responder aos nossos comandos e dúvidas, pode realmente gerar novos insights e pontos de vista nos quais marcas possam se apoiar para construir suas estratégias de branding e, principalmente, diferenciação?

Hoje, as marcas mais bem-sucedidas são aquelas que conseguem se conectar emocionalmente com o seu público. E fazem isso por meio de sentimentos, emoções, originalidade e, principalmente, autenticidade.

Cada um desses elementos só ganha força quando existe um ser humano por trás da criação — alguém capaz de conectar pontos, misturar referências estéticas, culturais e simbólicas, colocar valores em ação. Afinal, algoritmos são lógicos. Ainda não conseguem captar a essência emocional que cria vínculo de verdade.

Mas, se a inteligência artificial já é realidade no nosso dia a dia, como ela pode ajudar marcas — e os criativos que constroem essas marcas — a terem estratégias ainda mais bem-sucedidas? A resposta é simples: entendendo que ela é uma ferramenta complementar, não substituta.

Quando você passa a enxergá-la dessa forma, começa a usá-la para reforçar a estratégia. Seja para garantir que o tom de voz da marca esteja bem aplicado num roteiro de 30 segundos, seja para checar se todas as peças de uma campanha seguem o guia de marca com coerência. Tudo isso ajuda a garantir a consistência necessária para construir o famoso tripé: awareness, consideração e preferência — a tríade que toda marca precisa se quiser ocupar a mente e o coração do consumidor.

Entender essa nova dinâmica é o desafio não só de quem atua diretamente com branding, mas de todas as esferas gerenciais de um negócio. Se a alta liderança, que define o orçamento, aprova campanhas e orienta o marketing, encara a IA apenas como uma forma de cortar custos, ganhar velocidade ou automatizar produção em massa, o risco é gigante: virar uma marca genérica. Que passa batido. Que se confunde com as outras. Porque não entrega proposta de valor emocional no dia a dia.

Então, em resumo: comece a usar a inteligência artificial como parceira do trabalho criativo — e não como substituta. E lembre-se: como disse Tor Myhren, uma lágrima para o algoritmo é só água e sal. Mas uma lágrima para um olho humano é algo que tira o fôlego. E que dói no peito.

E aí? Será que a gente ainda sabe construir marcas que tiram o fôlego?

  • *Galileu Nogueira é expert em branding, com mais de 15 anos de experiência, e fundador da Galileo Branding. Atua como consultor, professor e palestrante, tendo ajudado a construir marcas como Itaú, Petz e Saint-Gobain

LEIA MAIS SOBRE CANNES LIONS 2025

Acompanhe tudo sobre:estrategias-de-marketing

Mais de Marketing

Aparência do conhecimento: como a IA vem criando uma epidemia de falsos especialistas

Empresário falido de 39 anos ficou milionário vendendo pedras como animais de estimação

Jovem de 29 anos de um bairro pobre de Londres ficou milionário ao vender sua empresa de marketing

Com Nestlé, BRF e Boticário na carteira, Grupo HÜK estreia mirando R$ 100 milhões em 2025