Marketing não é mais apenas sobre vendas, mas sobre criar conexões genuínas, promover mudanças sociais e construir um futuro mais sustentável (pixdeluxe/Getty Images)
Colunista
Publicado em 23 de dezembro de 2024 às 12h48.
O marketing e o branding estão no centro de uma revolução, moldada pela convergência entre avanços tecnológicos, demandas sociais e uma necessidade de humanização. À medida que o mundo enfrenta desafios como mudanças climáticas, desigualdades sociais e transformações culturais, os consumidores esperam mais das marcas do que produtos e serviços. Eles querem proximidade, ética e autenticidade.
Ao mesmo tempo, a tecnologia – especialmente a inteligência artificial – redefine a personalização e a interação, permitindo abordagens que eram impensáveis há poucos anos. Contudo, a tecnologia sozinha não basta. É necessário um marketing que equilibre eficiência e humanidade, criando conexões genuínas e duradouras.
O profissional de marketing, precisa ser mais estratégico, capaz de transformar marcas em protagonistas de mudanças sociais e econômicas positivas – e não precisa para isso abrir mão de vender ou lucrar.
O marketing humanizado se tornou uma necessidade urgente, especialmente em um mundo onde a confiança está em crise. A era da relação transacional entre marcas e consumidores ficou para trás, substituída por um desejo de interações significativas e autênticas. É uma expectativa do consumidor que logo deve se tornar obrigatória.
As empresas devem entender que o valor que entregam deve ser cocriado entre marcas, consumidores e comunidades, com vantagens para todos. Marcas como Nubank, que apostam em empatia e acessibilidade, e iFood, que alia personalização a sustentabilidade, mostram que a humanização não é apenas um diferencial, mas uma necessidade competitiva.
Em um ambiente onde a confiança é a nova moeda, as marcas precisam agir de forma ética e transparente para se manterem relevantes e respeitadas.
A inteligência artificial promete revolucionar o marketing por meio da personalização em escala. A possibilidade de oferecer experiências individualizadas transforma não apenas o relacionamento com os consumidores, mas a própria essência do marketing.
O exemplo de serviços como Spotify e Amazon, que ajustam recomendações em tempo real, demonstra como a tecnologia pode ir além de clusters e segmentações, atingindo cada cliente como um indivíduo único.
O futuro, impulsionado pela IA, permitirá que até mesmo experiências tradicionais, como um voo de avião, sejam humanizadas com base nas preferências do passageiro. Isso desafia as marcas a manterem sua essência enquanto se adaptam a cada interação, criando conexões verdadeiramente únicas e valiosas.
Essa não é uma novidade, mas cada vez mais é necessário as marcas e executivos entenderem o papel que eles têm na sustentabilidade e consciência social.
A sociedade não tolera mais empresas que ignoram seu impacto ambiental e social. É necessário que marcas assumam seu papel como agentes de transformação positiva.
Não se trata apenas de compensar danos, mas de adotar práticas que coloquem a sustentabilidade e responsabilidade no centro das decisões estratégicas.
A Natura, por exemplo, construiu sua identidade em torno de valores éticos e sustentáveis, demonstrando que lucros e responsabilidade podem coexistir. Essa tendência reforça que as marcas precisam repensar o consumo e o impacto de seus produtos em um contexto mais amplo, contribuindo para um futuro viável.
A capacidade de nos relacionarmos por meio de canais digitais é uma resposta direta ao avanço da tecnologia. Contrariando o temor de que a digitalização tornaria as interações frias e impessoais, vemos empresas utilizando ferramentas digitais para promover relações mais calorosas e empáticas.
Plataformas como iFood e 99 exemplificam como aplicativos podem ser canais de conexão humana, ao oferecer personalização e experiências que ressoam com os consumidores, e uma solução de problemas de forma humanizada mesmo sem a interação com seres humanos.
Quem nunca teve um problema com essas plataformas e foi prontamente reembolsado? Isso significa que elas entenderam o problema do consumidor e confiaram nele, gerando uma solução rápida e eficiente do problema.
Aqui, o desafio é claro: usar a tecnologia para aproximar as pessoas, e não para afastá-las – e cujo objetivo seja solucionar demandas, e não apenas reduzir custos de operação. Isso requer uma abordagem cuidadosa, que priorize a experiência do cliente como elemento central da estratégia.
Um marketing envolvido com as comunidades e colaborativo redefine o papel das marcas como agentes integradores em seus ecossistemas. As empresas não podem mais ser vistas como entidades isoladas; elas fazem parte de comunidades maiores, com as quais precisam interagir de forma respeitosa e colaborativa. A pressão social já demonstrou sua força em casos como o do Carrefour, cujo CEO global precisou pedir desculpas após tensões com o governo e produtores brasileiros.
Marcas que se posicionam como membros valiosos de suas comunidades, promovendo ganhos mútuos para todos os stakeholders, tendem a criar laços mais fortes e resiliência no mercado. O futuro do marketing pertence àquelas empresas que entendem que, mais do que vender, é preciso participar ativamente na construção de um mundo melhor.
O marketing nunca foi apenas sobre persuadir ou vender; sempre foi – ou deveria ser – sobre conectar, criar e transformar.
Hoje, mais do que nunca, o papel dos marketeiros vai além de campanhas, números e métricas. Ele está no impacto que geramos no mundo, na sociedade e na vida das pessoas ao redor das marcas que representamos.
É essencial refletir: cada ação planejada deixa algo positivo para a comunidade e o ambiente em que atuamos? Ou continuamos a perpetuar um modelo de curto prazo, priorizando lucros imediatos em detrimento de um legado sustentável?
Se quisermos reverter a percepção negativa que muitas vezes recai sobre o marketing e, ao mesmo tempo, construir um mundo melhor, é indispensável uma mudança de mentalidade. Precisamos de um compromisso ético e estratégico que, no mínimo, evite impactos negativos, mas que também explore maneiras de criar valor compartilhado – sem abrir mão dos objetivos empresariais.
Os profissionais de marketing têm o poder de moldar comportamentos, influenciar decisões e transformar realidades. Esse poder exige responsabilidade: a de gerar um impacto positivo e duradouro. É hora de abraçarmos esse desafio e liderarmos uma nova relação entre empresas e sociedade. O futuro do marketing – e das marcas – está em fazer mais do que vender. Está em transformar e construir algo melhor.