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Transição energética global: como o Brasil pode se posicionar como líder em energias renováveis

Otacílio Soares da Silva Filho explica como o país pode se destacar como líder global na produção de energias limpas, investindo na diversificação das fontes de energia

A biomassa, especialmente derivada da cana-de-açúcar, desempenha um papel crucial na geração de energia no Brasil. (SpaceOak/Envato)

A biomassa, especialmente derivada da cana-de-açúcar, desempenha um papel crucial na geração de energia no Brasil. (SpaceOak/Envato)

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Publicado em 5 de setembro de 2024 às 14h00.

A transição energética global tornou-se uma das principais forças transformadoras do século XXI, impulsionada pela necessidade urgente de combater as mudanças climáticas e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Países ao redor do mundo estão repensando suas matrizes energéticas, investindo cada vez mais em fontes renováveis como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa. Nesse cenário, o Brasil, com seus vastos recursos naturais, possui o potencial de se destacar como líder global na produção de energias limpas.

Com uma matriz energética historicamente baseada em fontes renováveis, principalmente a hidrelétrica, o Brasil já ocupa uma posição privilegiada. No entanto, para consolidar-se como potência global na transição energética, o país precisa superar desafios significativos, que incluem infraestrutura, regulação, inovação tecnológica e captação de investimentos.

O Brasil é amplamente reconhecido por sua matriz energética diversificada e predominantemente renovável. Dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) indicam que, em 2022, cerca de 83% da eletricidade gerada no país veio de fontes renováveis. A hidrelétrica é a principal fonte, representando aproximadamente 63% da geração total, seguida por energia eólica, biomassa e solar. Essa predominância de fontes limpas coloca o Brasil em uma posição de destaque no cenário energético global.

As usinas hidrelétricas, que há décadas são a espinha dorsal da matriz energética brasileira, beneficiam-se da abundância de rios caudalosos e de um relevo favorável. Isso permitiu ao país desenvolver um dos maiores parques hidrelétricos do mundo, com destaque para o complexo de Itaipu, uma das maiores usinas em operação globalmente. No entanto, a dependência excessiva dessa fonte também apresenta desafios, especialmente durante períodos de seca, como a crise hídrica de 2021, que comprometeu significativamente a geração de energia.

Paralelamente, a energia eólica tem experimentado um crescimento acelerado no Brasil, impulsionada por ventos constantes e de alta intensidade, particularmente no Nordeste. Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor de energia eólica da América Latina, com um parque eólico que ultrapassa os 20 GW de capacidade instalada. Esse crescimento é promissor, tanto pela viabilidade econômica quanto pelo baixo impacto ambiental dessa fonte.

Embora tenha um potencial enorme, a energia solar ainda representa uma pequena parcela da matriz energética brasileira. Com uma incidência solar média superior à de países líderes em energia solar, como Alemanha e China, o Brasil ainda subaproveita essa fonte. Entretanto, o mercado de energia solar vem crescendo rapidamente, especialmente na geração distribuída, com sistemas instalados em residências, comércios e indústrias, mostrando um caminho de grande potencial para o futuro.

A biomassa, especialmente derivada da cana-de-açúcar, desempenha um papel crucial na geração de energia no Brasil. O setor sucroalcooleiro, em particular, tem sido um dos pilares da economia brasileira, produzindo bioenergia tanto para eletricidade quanto para biocombustíveis, como o etanol. Com o avanço da tecnologia, há um potencial significativo para aumentar a eficiência e expandir a produção de bioenergia, contribuindo ainda mais para a matriz energética renovável do país.

A transição energética oferece ao Brasil uma gama ampla de oportunidades econômicas. Com a crescente demanda global por energias renováveis, o país pode capitalizar suas vantagens naturais e se posicionar como fornecedor líder de energia limpa e tecnologias associadas.

Essa demanda tem atraído investimentos significativos em todo o mundo, e o Brasil, com seu vasto potencial de geração de energia limpa, pode tornar-se um destino atrativo para investidores estrangeiros. Empresas multinacionais estão cada vez mais interessadas em projetos de energia renovável, não apenas pela viabilidade econômica, mas também pela pressão para adotar práticas sustentáveis em suas operações globais.

Além disso, a transição para energias renováveis é um motor potente de criação de empregos. Segundo a Irena (Agência Internacional de Energias Renováveis), o setor de energia limpa pode gerar milhões de empregos globalmente nas próximas décadas. No Brasil, o desenvolvimento de projetos eólicos, solares e de biomassa tem o potencial de criar empregos em diversas regiões, particularmente em áreas rurais, onde a necessidade de desenvolvimento econômico é mais acentuada.

Outra oportunidade significativa reside na exportação de tecnologia e conhecimento. O Brasil tem a chance de se tornar um exportador de tecnologias e expertise relacionadas à energia renovável. Empresas brasileiras que desenvolvem soluções inovadoras em bioenergia, eficiência energética e armazenamento de energia podem encontrar mercados internacionais prontos para adotar essas tecnologias.

A experiência do Brasil em biocombustíveis, por exemplo, já é reconhecida mundialmente, e há espaço para expandir essa liderança para outras áreas da energia limpa.

Diversificar a matriz energética também permite ao Brasil reduzir sua vulnerabilidade a crises, como as crises hídricas, e variações sazonais que têm impactado a geração de energia hidrelétrica nos últimos anos. A expansão de fontes como solar e eólica, que são complementares em termos de sazonalidade, pode criar uma matriz mais resiliente e confiável, garantindo maior estabilidade no fornecimento de energia.

Apesar das inúmeras oportunidades, o Brasil enfrenta desafios consideráveis para se firmar como líder global na transição energética. Esses desafios são complexos e exigem colaboração entre o setor público, privado e a sociedade civil.

A burocracia e a complexidade regulatória são frequentemente citadas como os maiores obstáculos ao desenvolvimento de projetos de energia renovável no Brasil. Licenciamentos ambientais demorados, incertezas regulatórias e a falta de clareza em políticas públicas podem atrasar projetos e desestimular investidores. Para superar esses obstáculos, é essencial que o governo brasileiro simplifique processos e crie um ambiente regulatório mais previsível e favorável.

A expansão da infraestrutura de transmissão de energia também é crucial. Regiões como o Nordeste, ricas em potencial eólico e solar, enfrentam limitações na capacidade de transmissão, o que pode resultar em desperdício de energia e restringir o crescimento do setor. Investimentos em redes de transmissão, além de melhorias na logística de transporte de equipamentos e materiais, são fundamentais para garantir que a energia gerada chegue de forma eficiente aos centros consumidores.

Outro desafio é o financiamento. Embora exista interesse por parte dos investidores, muitos projetos de energia renovável no Brasil enfrentam dificuldades para obter financiamento, especialmente para pequenas e médias empresas. As taxas de juros no país podem ser proibitivas, e a disponibilidade de crédito é limitada. Políticas de incentivo, como subsídios, garantias de crédito e PPPs (parcerias público-privadas), são necessárias para viabilizar projetos que, de outra forma, poderiam não sair do papel.

A transição energética também exige uma força de trabalho qualificada e o desenvolvimento de novas tecnologias. O Brasil precisa investir em educação e capacitação profissional para formar engenheiros, técnicos e especialistas capazes de operar e inovar no setor de energia limpa.

Além disso, o investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) é crucial para o avanço tecnológico e a competitividade internacional. Inovações em áreas como armazenamento de energia, smart grids e hidrogênio verde são fundamentais para manter o Brasil na vanguarda da transição energética.

Ainda que as energias renováveis sejam mais sustentáveis que os combustíveis fósseis, elas não estão isentas de impactos ambientais e sociais. A construção de usinas eólicas e solares pode afetar ecossistemas locais e comunidades indígenas, exigindo planejamento cuidadoso e o envolvimento das partes interessadas para mitigar esses impactos. A adoção de práticas sustentáveis e o respeito aos direitos das comunidades locais são fundamentais para o sucesso da transição energética no Brasil.

O futuro do setor de energia renovável no Brasil é promissor, mas depende de ações estratégicas para que o país alcance todo o seu potencial. A formulação de políticas públicas coerentes e de longo prazo é essencial para proporcionar estabilidade e previsibilidade ao setor de energia renovável.

O governo brasileiro deve colaborar estreitamente com o setor privado e a sociedade civil para desenvolver um planejamento energético que priorize fontes renováveis, estabeleça metas claras e ofereça incentivos adequados. A criação de um marco regulatório robusto, que inclua a precificação do carbono e a promoção de leilões de energia renovável, pode atrair mais investimentos e acelerar a transição.

As PPPs são uma ferramenta poderosa para financiar e implementar projetos de grande escala em energia renovável. Essas parcerias permitem que o governo compartilhe riscos e custos com o setor privado, enquanto acelera o desenvolvimento de infraestrutura crítica. O Brasil já tem experiência significativa em PPPs e pode expandir esse modelo para o setor de energias renováveis, especialmente em áreas como transmissão de energia e desenvolvimento de novas tecnologias.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento é vital para que o Brasil continue a inovar no setor de energia renovável. O governo, em parceria com universidades e empresas, deve fomentar a pesquisa em novas tecnologias, como armazenamento de energia, smart grids e hidrogênio verde. Essas inovações não só melhoram a eficiência e a viabilidade econômica das energias renováveis, como também abrem novos mercados para a exportação de tecnologia brasileira.

Para garantir uma matriz energética resiliente e sustentável, o Brasil deve continuar a diversificar suas fontes de energia. A combinação de energia solar, eólica, biomassa e hidrelétrica pode criar um sistema complementar, minimizando os riscos associados à dependência de uma única fonte. Além disso, o país deve explorar o potencial de novas tecnologias, como o hidrogênio verde, que pode se tornar um pilar importante.

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