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Quando a agenda ESG é feita para o acionista, o CEO não entendeu seu papel

Danilo Nogueira traça um panorama sobre ESG e explica por que “abraçar” o ESG e colocá-lo no centro da estratégia do negócio foi um diferencial para a AB Mauri Brasil

Quando o mercado discute ESG como mais uma obrigação das empresas junto ao acionista, perde-se a essência da sigla: fazer o bem e o certo todos os dias. (Weedezign/Getty Images)

Quando o mercado discute ESG como mais uma obrigação das empresas junto ao acionista, perde-se a essência da sigla: fazer o bem e o certo todos os dias. (Weedezign/Getty Images)

Publicado em 25 de abril de 2024 às 14h00.

Depois de um boom na pandemia, vimos, no início de 2024, alguns veículos de comunicação questionarem se seria “o fim do ESG” (Governança Social, Ambiental e Corporativa). Companhias, sobretudo no mercado financeiro, estavam na prática evitando o termo, talvez por receio de serem acusadas de “greenwashing”.

E, tudo isso, parece ter dado “munição” aos críticos que sempre viram o ESG como uma arma midiática. Um modismo. Quando li a manchete, fiquei tremendamente intrigado. Afinal, o ESG na AB Mauri foi um catalisador da cultura corporativa e nos ajudou a construir propósito de forma clara e tangível nos últimos três anos. Como podia haver tal dissonância?

A nossa jornada ESG, obviamente, não se iniciou com a criação da sigla. A companhia tem um histórico forte de governança global herdada da nossa matriz na Inglaterra. Essa é uma história comum no mercado, mas nós entendemos que ali não era uma demanda de acionista ou mesmo dos clientes. Era uma crença de que é o certo a ser feito.

Assim, o que o “momento de mundo” nos ofereceu foi a oportunidade de colocar o ESG no centro da estratégia de negócio de fato. E, a partir daí, trabalhar ativamente para buscar cada meta de impacto social, de governança e ambiental com a mesma seriedade que buscamos nossas metas financeiras e comerciais. Não é um sem o outro e nem um maior que o outro. O jogo é de soma.

Não fomos pioneiros nisso, mas assistimos muitas empresas no pós-pandemia correndo para anunciar metas de Net Zero ao mercado e outras se preocupando em atender à demanda dos acionistas em relação ao tema como a grande urgência a ser feita. Era uma satisfação ao mercado.

O nosso compromisso era com a ação verdadeira e genuína de transformação do entorno. Montamos grupos de trabalho com colaboradores que se tornaram voluntários e que passaram a se reunir quinzenalmente com agenda e metas de curto e longo prazo definidas. Definimos orçamento para as iniciativas, mapeamos nossos pontos de partida, sem medo de ver se estávamos perto ou longe do ponto de chegada. Era (e é) urgente - temos que acelerar.

Três anos depois, avançamos todas as nossas métricas de ESG, tanto no ambiental, quanto no social e na governança. De um investimento milionário na fábrica para produzir energia a partir do próprio efluente até o aumento de representatividade e do letramento em cada um dos grupos trabalhados como foco em I&D (Etnia, PcD, LGBTQIA+, Gerações e Gênero). Da evolução dos processos internos de governança até a utilização da nossa equipe de vendas para distribuir castanhas de caju da ONG Amigos do Bem sem adicionar margem de lucro.

Seguimos com muito trabalho a fazer para alcançar nossas ambições em cada frente. Vale destacar que um efeito importante de todo esse movimento foi a criação do propósito na companhia e, por tabela, o aumento do engajamento, que já era alto, dos colaboradores.

No nosso caso, abraçar o ESG verdadeiramente e colocá-lo no centro da estratégia do negócio mandou um recado poderoso para todas as pessoas com quem interagimos de que podemos mais. E de que nos importamos. Somos uma grande empresa de ingredientes de panificação e confeitaria no Brasil e no mundo. Da nossa fábrica, sai o fermento que faz crescer mais da metade dos pães consumidos no Brasil. E que, junto com essa responsabilidade, devemos transformar pessoas através da panificação.

Assim como a jornada recente da AB Mauri, temos centenas de outros exemplos de companhias que encontraram na responsabilidade social e ambiental uma fonte de propósito. Muitas se certificando no Sistema B e adotando práticas de Capitalismo Consciente. Nenhuma entende a sua responsabilidade como algo passageiro ou como modismo.

Mas, então, como essa rica jornada ficou tão distante das acaloradas discussões sobre o modismo ESG? A resposta está no foco. Quando o mercado discute ESG como mais uma obrigação das empresas junto ao acionista, perde-se a essência da sigla: fazer o bem e o certo todos os dias.

Até há pouco tempo, empresários e executivos falavam com orgulho que suas empresas geravam empregos e pagavam impostos e que esses eram “motores da prosperidade”. É um pensamento pobre. Pagar impostos e gerar empregos são obrigações para que as companhias cresçam. Agora, estão sendo chamados para explicar suas pegadas de carbono, sua gestão de embalagens, sua cultura de inclusão.

Para gerar produtos e serviços tão essenciais à sociedade, é preciso fazê-lo com muita responsabilidade de fazer não só o que está na lei, mas o que é o correto para as pessoas e o meio ambiente impactado. E isso ainda é uma escolha, de um ponto de vista legal, para cada um desses gestores.

O que muitos não entendem é que eles devem se antecipar a qualquer legislação e entregar à sociedade companhias que sirvam o mundo de soluções sem tirar dele recursos não renováveis e, ao mesmo tempo, promovendo desenvolvimento pessoal.

Não é sobre relatório de sustentabilidade e nem sobre metas de carbono para daqui a 20 anos. É sobre sua empresa deixar legado positivo no entorno, ao mesmo tempo que entrega produtos e serviços ao consumidor. E isso não será modismo nunca.

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