Poder e autoridade: liderança eficaz combina direção clara com escuta e competência.
Colunista
Publicado em 17 de outubro de 2025 às 09h22.
Em empresas que crescem, o dilema não é “poder ou autoridade”, e sim qual dos dois usar, em que dose e em que momento. Poder é a energia que dá direção e protege o essencial. Autoridade é a influência conquistada pelo exemplo, pela competência e pela escuta. Ela multiplica a inteligência do time e sustenta a execução quando o líder não está na sala. O desequilíbrio custa caro: excesso de poder gera silêncio e dependência; excesso de autoridade sem norte vira debate elegante que não entrega.
A primeira entra quando não cabe experimentação: segurança, ética, risco sistêmico, caixa. O caso clássico do Tylenol, na Johnson & Johnson, mostra o papel do poder com nitidez: recall duro e centralizado para proteger clientes e reputação; decisão com carimbo de data e hora e sem ambiguidade. O ponto é não terminar no anúncio. O uso maduro do poder é seguido por autoridade do processo: transformar o episódio em padrões, mecanismos de prevenção e aprendizado institucional. Assim, o certo acontece sem depender de heróis.
Na estratégia, Satya Nadella, da Microsoft, usou poder para dizer para onde ir — nuvem, interoperabilidade, aquisições-chave — e autoridade para descobrir o como com o time: mentalidade de crescimento, maratonas de inovação, autonomia de produto e uma escuta que impactou a qualidade da colaboração. Poder define o mapa; autoridade faz o terreno aparecer. Quando o líder entende isso, a organização cresce de forma mais adulta: ele não precisa “vencer a discussão”, precisa garantir que a melhor ideia vença.
Como calibrar? Publicar os não negociáveis ajuda: ética, segurança, sustentabilidade financeira e as prioridades do ciclo. É para isso que o poder existe — proteger fronteiras. Depois, troque a delegação vaga por contexto e critérios: por que importa, como será julgado e quais trade-offs valem. Delegar sem critério é uma espécie de abandono; exigir sem contexto é infantilizar o time. Desenhe mecanismos que unam autonomia e responsabilização: decisões com dono e prazo, pré-leituras narrativas que forçam clareza antes das reuniões, e um pós-decisão que mede aprendizado — não apenas meta.
No fim, “qual o poder de cada poder?” vira uma pergunta prática: o que este momento pede de poder — e qual autoridade fará isso durar? Diante de um risco sistêmico, poder primeiro e autoridade depois, para transformar crise em capacidade. Em uma mudança de rota, poder para apontar o norte e autoridade para construir o caminho com quem executa. O trilho e o trem. O poder estabelece o trilho — direção, limites, segurança. A autoridade faz o trem andar mais rápido e mais seguro — porque transforma pessoas em protagonistas e times em sistemas que aprendem. Quando ambos se encontram na medida certa, a empresa ganha velocidade, consistência e, principalmente, sustentabilidade nos resultados.