Investimento global: diversificação protege o portfólio e alinha o capital à vida da família. (Thinkstock)
Colunista
Publicado em 30 de junho de 2025 às 14h30.
Durante muito tempo, a internacionalização do portfólio era tratada no Brasil como um luxo de poucos. Um passo avançado, reservado à elite do conhecimento financeiro ou àqueles com acesso privilegiado a estruturas globais. Mas os tempos mudaram — e os paradigmas também. Hoje, investir fora do Brasil não é um ato de desconfiança, mas um gesto de coerência.
No cenário atual, não diversificar internacionalmente é assumir um risco maior do que ousar sair do lugar. É abrir mão, silenciosamente, do potencial de geração de valor para as próximas décadas — e de acesso às avenidas de crescimento que realmente movem o mundo.
Quando analisamos o planejamento financeiro de famílias de alto patrimônio, vemos, com frequência, uma desconexão entre onde os recursos estão e onde os projetos de vida acontecem. Se os filhos vão estudar fora, empreender em outro país ou viver parte da vida em outra moeda, é natural que parte do patrimônio os acompanhe. Por que então manter o capital restrito geograficamente?
Quando falamos de alocação internacional, não estamos propondo uma fuga. Estamos propondo um alinhamento real entre os objetivos de vida da família e a construção do seu portfólio.
Além da questão geográfica, trata-se também de acesso a setores e ciclos. Os motores de crescimento do século XXI estão nas áreas de tecnologia, saúde, energia limpa, inovação logística e inteligência artificial. São dinâmicas que o mercado brasileiro não oferece com profundidade ou liquidez suficientes.
No Brasil, o modelo de distribuição baseado em comissão ainda prioriza o produto — e não o cliente. Isso gera conflitos de interesse e restringe o acesso a soluções sofisticadas, como ativos alternativos, private equity, venture capital ou estratégias de preservação internacional.
Além disso, nossa bolsa é concentrada, limitada em setores e empresas, o que compromete a diversificação real. Soma-se a isso a concentração, sem paralelo internacional, em renda fixa, que está direta ou indiretamente financiando os balanços de três ou quatro bancos.
A nova economia é construída por empresas que ainda nem foram listadas. As empresas que moldam o futuro — em IA, biotecnologia, energia limpa, mobilidade, saúde e longevidade —, em sua grande maioria, ainda não abriram capital e, possivelmente, nunca abrirão.
Elas estão no ciclo privado de capital, onde o crescimento é mais acentuado, há menos burocracia, maior foco em geração de valor de longo prazo, e que permanecem com seu capital privado e fechado muito mais tempo que no passado. Investidores globais já entenderam que parte da geração de valor se dá antes da empresa ir a mercado — e, por isso, alocam de forma estratégica em fundos de venture capital, growth e inovação.
Ao integrar Private Equity a um portfólio global, o investidor não apenas eleva o potencial de retorno absoluto, mas também consegue capturar tendências antes da maioria e ampliar seu horizonte de crescimento com menor correlação com os mercados públicos.
No entanto, essa alocação exige mais do que interesse. Requer uma seleção criteriosa de gestores, uma estratégia de diversificação dentro da própria classe e, acima de tudo, disciplina de longo prazo.
Diferentemente, no Brasil onde a oferta de produtos financeiros é baseada em uma seleção adversa, ou seja, os intermediários financeiros vendem o que mais os remunera, no resto do mundo, os donos do capital buscam sempre acessar os melhores investimentos que o dinheiro pode comprar, tornando o acesso extremamente competitivo, gerando muitas vezes filas de anos para se conseguir investir em determinados gestores e ativos.
O primeiro passo é alinhar a geografia da alocação com o estilo de vida e os objetivos da família — onde estão os custos, onde os filhos viverão e em que moedas o legado será transmitido para então selecionar ativos e regiões com base em ciclos econômicos, combinando a estabilidade de economias maduras com o dinamismo de mercados emergentes.
A integração equilibrada entre ativos tradicionais, alternativos e Private Markets também é decisiva: segurança via renda fixa global, Private Debt, crescimento via ações diversificadas ao redor do mundo, crescimento e inovação por meio de Private Equity ( Venture Capital, Growth e Large Buy Out), Hedge Funds, Private Debt, real assets, e infraestrutura, mas o mais importante é que a estruturação de liquidez respeite o horizonte de tempo do investidor, garantindo que a parcela alocada em ativos menos líquidos não comprometa a flexibilidade do portfólio muito menos os planos familiares.
Por fim, o monitoramento contínuo e o rebalanceamento ativo são indispensáveis para manter a estratégia alinhada aos objetivos da família, em um mundo onde mercados e contextos familiares evoluem constantemente.
Não se trata apenas de retorno, mas de resiliência, porque é claro que investir no Brasil continua sendo necessário, porém aprofundar a distribuição de investimentos para também colocar o contrapeso estratégico de continuidade não é só proteger o capital, mas estruturar o plano de vida da família.
Do outro lado do mundo, investidores americanos, europeus e asiáticos acessam uma prateleira diversa e eficiente. E fazem isso com naturalidade: nos EUA, mais de 50% dos portfólios de famílias bilionárias estão em ativos alternativos e internacionais.
Diversificar não é pulverizar. É ampliar os graus de liberdade do portfólio — o que significa ter mais capacidade de resposta tática diante de diferentes cenários e ciclos. Em um mundo instável, isso não é só vantagem: é uma blindagem.
A gestão patrimonial atual exige uma postura ativa, global e integrada. Não se trata de sair do Brasil. Trata-se de colocar o patrimônio onde ele tem as melhores condições de cumprir seu propósito.
A continuidade não é construída apenas com a eficiência local, mas com visão internacional. E o investidor que compreende isso, e estrutura seu planejamento com base em diversificação global e acesso inteligente ao Private Equity, não está apenas protegendo o que construiu. Está abrindo as portas para que seu legado continue crescendo onde quer que a próxima geração esteja.
Nesse novo ciclo, a pergunta que ganha força entre os grandes investidores globais é: quem serão os próximos protagonistas? Já sabemos quem liderou o último ciclo — Apple, Amazon, Microsoft, Meta, Tesla, NVIDIA. Mas os novos vetores de crescimento — inteligência artificial, biotecnologia, energia limpa, transformação da saúde, modelos de negócio descentralizados — estão dando origem a empresas que ainda não abriram capital. Estão nos bastidores, em fase de crescimento acelerado no mercado privado, fora do radar da maioria.
Esse não é um exercício de adivinhação, mas de interpretação estratégica das transformações em curso. O avanço da inteligência artificial, a reconfiguração da geopolítica energética, a revolução nos setores de saúde, biotecnologia, logística e até a forma como os consumidores interagem com produtos e serviços — tudo isso está abrindo caminho para que novas empresas, ainda privadas, liderem os próximos ciclos de valorização.
Antecipar-se a esse movimento exige acesso, seleção e visão de longo prazo. A próxima “MagSeven” pode não estar nas manchetes, mas nos portfólios de investidores que compreendem que a verdadeira construção de patrimônio não acontece apenas quando todos veem valor — mas quando poucos ainda enxergam.
A dificuldade está no acesso: essas empresas estão, cada vez mais, adiando suas aberturas de capital. Elas permanecem por mais tempo, ou quem sabe para sempre, no universo dos ativos privados, onde há menos regulação, mais agilidade e maior liberdade estratégica.
Ou seja, para participar dessa nova geração de crescimento, é preciso estar posicionado antes do IPO, e isso só acontece com uma estratégia estruturada de alocação em mercados privados
Portfólios precisam ser globais porque as famílias já são. Preservar não é apenas manter o que foi conquistado — é garantir que o patrimônio continue fazendo sentido nas próximas gerações. E isso exige visão, disciplina e coragem para evoluir com inteligência.
E você? Está alocando onde o seu futuro vai acontecer?