Plano de carreira: buscar aprendizados específicos pode acelerar o crescimento profissional.
Colunista
Publicado em 4 de abril de 2025 às 14h00.
_“Onde você se vê em cinco anos?”. Você já deve ter sido vítima dessa pergunta. Ela é tão esperada que os entrevistados ensaiam suas respostas de véspera. E, na maioria das vezes, a resposta vem bem “sem sal” e repleta de hierarquia. Se a pessoa é analista diz querer ser gerente. Se já é gerente, anuncia a ambição de fazer parte da diretoria. Não me entenda mal, eu mesmo já abusei do artifício. E a pergunta segue sendo válida, mas é vaga e enriquecerá pouco o diálogo de ambos os lados se não aprofundarmos para o como o entrevistado pretende chegar lá. No entanto, essa etapa da conversa costuma ser negligenciada.
Em minha experiência, a maioria das pessoas não sabe onde estará em cinco ou dez anos. E talvez nem devesse perder tanto tempo nesse exercício de adivinhação. A autocobrança do “preciso virar gerente antes do 30” é prejudicial e desfocada. Foque no que você controla. Mais importante do que cravar o cargo é vislumbrar sua direção, suas condições para o crescimento e o seu plano de aprendizado. Pergunte-se: “o que ainda preciso aprender para dar o próximo passo na minha carreira?”
Em 2007 eu acumulava 10 anos de experiência como especialista em Marketing e mais alguns poucos anos no início de carreira em Finanças e Vendas. Ali percebi que meu futuro seria generalista. Eu não seria um ótimo Diretor de Marketing, me faltava paixão pela técnica e eu queria ter a visão do todo. Surgiu uma vaga em uma nova empresa que demandava bons conhecimentos de marketing, mas que exigia uma visão ampla sobre um negócio em crise: Ovomaltine não crescia, não dava lucro no Brasil e sequer possuía um time local. Eu seria o único funcionário e dando certo poderia contratar mais gente. Como vaga, era um tiro no escuro; como projeto de aprendizado, era exatamente o que eu precisava para validar meu plano de transição.
Quatorze anos depois o negócio era um sucesso (o Brasil era já o terceiro país do mundo para a marca), o time havia crescido e minha transição de especialista para generalista havia sido feita. Mas o projeto não servia mais ao meu aprendizado. Eu queria ser CEO de um negócio maior que impactasse mais gente e mais stakeholders. Ovomaltine era, literalmente, um negócio delicioso, com uma equipe incrível, mas composta por somente 20 pessoas. Terceirizávamos tudo o que podíamos. Ótimo para o negócio, ruim para o meu próximo passo.
Para chegar aonde eu queria, eu precisava de um projeto que me proporcionasse “milhagem” gerenciando equipes maiores e assumindo responsabilidade direta sobre times comerciais. Eu não buscava uma vaga nem um cargo, mas um aprendizado específico. E encontrei essa oportunidade em outra empresa do mesmo grupo: a AB Mauri (dona da marca Fleischmann).
Durante três anos tive a oportunidade de liderar uma unidade de negócio maior (umas 70 pessoas e um faturamento mais relevante). Crescemos como time. E eu tinha então melhores credenciais para o meu objetivo seguinte de liderar um negócio complexo e amplo. Meu novo alvo era encontrar um projeto que me desse experiência em gestão não somente em B2C, mas também em B2B; não apenas em comercial e marketing, mas também em gestão de fábricas e áreas administrativas. Com sorte, planejamento e a ajuda de diversas pessoas, consegui dar esse passo na própria AB Mauri. Hoje, lidero o negócio no Brasil, México e América Central, gerenciando mais de mil pessoas com vistas às amplas responsabilidades.
Quando me perguntam se tracei um objetivo de ser CEO antes de certa idade, eu digo que claramente não. E que no início da jornada nem era muito claro que o cargo seria esse. Depois de 13 anos de carreira percebi minha direção como generalista, tinha boa clareza dos valores corporativos que eu queria para mim e fui buscando aprendizados e competências específicos para melhorar minha “caixa de ferramentas”.
Não foque apenas na próxima vaga ou cargo, mas sim nas habilidades que ainda não domina (ou às quais não foi exposto), mas que serão essenciais para sua trajetória. Foque no que você ainda não faz bem (ou não foi ainda exposto), mas que te fará falta na sua trajetória - (acima está a sugestão para substituir essa frase, por completo). E “corra atrás” do projeto que viabilize seu aprendizado específico.
Na próxima vez que estiver no papel de entrevistador, não só pergunte se o candidato tem um cargo em mente para os próximos cinco anos, mas explore se de fato ele tem as rédeas, ou seja, assume o controle, do próprio aprendizado e crescimento.