Escuta ativa: CEOs que ouvem constroem times mais inovadores e resilientes.
Colunista
Publicado em 26 de setembro de 2025 às 15h01.
Em um mundo corporativo cada vez mais complexo e dinâmico, a liderança eficaz deixou de ser sinônimo de comando e controle. Executivos que desejam construir organizações resilientes e inovadoras precisam dominar uma habilidade muitas vezes subestimada: a escuta ativa.
A jornada de um CEO costuma começar com a crença de que seu papel é direcionar, orientar e garantir que o time execute conforme o planejado. No entanto, o verdadeiro alto desempenho emerge quando essa liderança evolui para algo mais profundo, quando o executivo compreende que sua missão é estabelecer e comunicar com clareza a visão (para onde vamos) e criar um ambiente de troca virtuosa, onde a execução dessa visão (como vamos) é compartilhada e cocriada entre líderes e liderados.
Assim como um maestro não controla cada nota da sua orquestra, mas conduz a harmonia entre os músicos, o CEO moderno precisa abrir mão do controle excessivo. A microgestão sufoca a criatividade e desestimula a iniciativa. Em vez disso, é essencial cultivar um senso de comunidade e responsabilidade compartilhada.
Organizações que operam como comunidades — fundamentadas em transparência, escuta ativa e colaboração — respondem com mais agilidade, inteligência e entusiasmo do que estruturas hierárquicas rígidas. O modelo “hub-and-spoke”, onde tudo gira em torno do líder, esgota a vitalidade do sistema e limita o potencial coletivo.
A visão estratégica continua sendo uma das principais responsabilidades do CEO. Mas ela só se torna poderosa quando é bem comunicada e compreendida por todos. As perguntas fundamentais permanecem: para onde vamos? Qual é o plano? Como cada membro do time contribui para o sucesso coletivo? E, crucialmente: o que cada colaborador ganha nessa jornada?
Quando os profissionais enxergam o todo com a mesma clareza que suas próprias tarefas, surgem soluções inovadoras e alinhamento genuíno. Nesse contexto, liderar não é sobre ter todas as respostas, mas sobre fazer as perguntas certas e ouvir com curiosidade.
Tal como em uma orquestra, algumas áreas da empresa operam em ciclos curtos e rápidos, enquanto outras trabalham com horizontes mais longos. Alguns departamentos têm mais visibilidade, outros atuam nos bastidores. Isoladamente, os pontos de vista podem parecer conflitantes, mas no conjunto, as peças se encaixam e as rotinas entram em sintonia. E por isso, esse flow precisa de um ambiente de confiança.
Construir confiança vai além de delegar tarefas. É fazer com que cada colaborador sinta que está contribuindo para algo maior. A diferença entre “estar trabalhando” e “estar construindo” é sutil, mas transformadora. CEOs que conseguem estabelecer esse senso de propósito coletivo criam times que não apenas executam, mas inovam.
A célebre história do faxineiro da NASA que, na década de 60, ao ser perguntado por John F. Kennedy sobre o que fazia, respondeu: “Estou ajudando a colocar um homem na Lua”, ilustra perfeitamente esse ponto. Quando todos compreendem o impacto de sua contribuição, independentemente da função, nasce uma cultura de pertencimento e propósito.
Voltando ao paralelo da música clássica, um maestro experiente diria que todo músico sente uma conexão com o maestro, mas essa conexão nunca será tão forte quanto aquela que ele tem com o som que está produzindo — e com o som dos outros músicos. Um líder sábio se apoia nessa dinâmica para conduzir sua “orquestra” rumo à realização da visão.
Um dos maiores desafios da liderança é compreender que cada colaborador vive uma realidade distinta. Executivos que se esforçam para “mudar de cadeira” — ou seja, enxergar os desafios sob a perspectiva de seus liderados — desenvolvem uma empatia estratégica que evita desalinhamentos e fortalece a cultura organizacional.
A armadilha da visão única é perigosa: acreditar que a cadeira do CEO oferece a melhor perspectiva pode levar à desconexão. Para evitar isso, é essencial entender os pontos de vista dos diferentes times e as dores dos colaboradores-chave, especialmente dos reportes diretos.
Liderar pela escuta ativa não é abdicar da autoridade, mas usá-la com sabedoria. CEOs que dominam essa arte constroem organizações mais humanas, criativas e resilientes. Em tempos de transformação acelerada, ouvir pode ser o ato mais revolucionário de liderança.