Lições de liderança: quando um líder transforma seu estado interno, ele transforma empresas inteiras. (Divulgação)
Colunista
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 15h09.
Existe um momento do dia em que nem o título, nem o faturamento, nem os resultados conseguem silenciar uma pergunta incômoda: “Se conquistei tudo o que sempre quis… por que acordo com esse nó no estômago?”
Durante anos, acreditamos que alta performance exigia alta tensão. Nos levantávamos em modo dever: entregar, resolver, liderar, provar valor. E, sem perceber, nosso corpo aprendia a operar como se todo dia houvesse um leão esperando na porta da sala de reunião.
A neurociência confirma aquilo que muitos líderes já sentiam, mas não conseguiam nomear: o corpo reage antes da mente. E quando o corpo está em ameaça, a mente perde o comando. Esse é o verdadeiro ponto cego da liderança moderna.
O sistema nervoso é quem “entra na reunião”, não você
Depois de anos liderando e observando outros líderes, entendi algo que mudou minha trajetória e a de muitos executivos que acompanho: grande parte das nossas atitudes sob pressão não são escolhas. São reflexos automáticos.
Quando o sistema nervoso interpreta risco, ele aciona quatro padrões ancestrais. Todos nós, mesmo nos níveis mais altos de gestão, os vivemos em alguma medida.
1. Atacar: fala acelerada, urgência exagerada, necessidade de controle. Parece força. Mas, na verdade, é medo disfarçado de hiperatividade.
2. Fugir: nem sempre envolve sair fisicamente. Fugir também é: checar o celular, adiar o importante, “desconectar” mentalmente. É o corpo dizendo: “Isso é demais para mim.”
Simples, profundas e compatíveis com qualquer rotina de C-Level.
1. Reprogramar as manhãs
O primeiro minuto do dia molda sua biologia. Antes do celular, do e-mail, da agenda: respire fundo; observe seu corpo; sinta gratidão — não como pensamento, mas como emoção.
Por quê? Porque gratidão e ameaça são estados incompatíveis. Quando você sente gratidão genuína, seu corpo entende que está seguro — e ativa o sistema parassimpático, responsável por clareza, regeneração e criatividade. É fisiologia, não filosofia. Se você começa o dia em gratidão, começa o dia fora do perigo. E quando o corpo sai da ameaça, o “tenho que” perde força. O “quero” volta a aparecer.
2. Stop: a microprática que devolve clareza em segundos
Use sempre que sentir aceleração interna ou tensão entre as sobrancelhas.
S — Stop: pause por três segundos
T — Take a breath: respire profundamente
O — Observe: localize a tensão
P — Proceed: responda com intenção
Aqui está o coração do proceed: não agir desde o reflexo, mas desde a identidade que você quer sustentar.
Um exemplo típico no topo da liderança. Quando alguém erra e seu corpo quer “atacar”. Reagir seria: “Como isso aconteceu de novo? Isso já devia estar resolvido! Responder seria: “Quero entender o que faltou. Como ajustamos para que funcione da próxima vez?”
A reação protege a imagem. A resposta constrói maturidade no time. É aqui que o líder reaparece, no microespaço entre estímulo e ação.
3. Redefinir quem você está sendo
Todo dia nos pede uma escolha silenciosa: “O que tenho para entregar?” ou “Como quero estar sendo enquanto entrego?”
Essa mudança redefine: prioridades, conversas, limites, energia e cultura. Identidade cria comportamento. Comportamento cria cultura. Cultura cria resultado.
O modelo de alta performance que nos trouxe até aqui não é o mesmo que vai nos levar adiante. Não se trata de desacelerar; trata-se de mudar o estado interno desde onde você acelera. Menos tensão, mais presença. Menos sobrevivência, mais criação. Menos autoproteção, mais autenticidade.
Líderes sustentáveis não são os que se esticam até quebrar. São os que se alinham para não precisar se quebrar. E esse alinhamento começa no corpo — justamente aquele que muitos executivos aprenderam a ignorar.
Porque quando um líder transforma seu estado interno, transforma tudo ao redor: equipes, decisões e empresas inteiras.
Sobre o autor
Ernesto Maceiras é ex-CEO de multinacional no Brasil e mentor de C-Levels que buscam integrar alta performance e bem-estar sem abrir mão da ambição. Atua como Scaling Partner e conselheiro de empresas na América Latina, ajudando executivos a escalar negócios com clareza, energia e propósito. Criador do podcast El Camino Largo, onde explora as perguntas que redefinem o que é sucesso na nova era do trabalho.