Sam Altman (ao centro), ao lado de Elon Musk: demitido em novembro do ano passado pelo conselho, ele foi recontratado por pressão dos investidores (Mike Windle/Getty Images for Vanity Fair/Getty Images)
CEO do Grupo Clara Resorts
Publicado em 8 de março de 2024 às 11h48.
No universo empresarial, muito se discute sobre a importância de motivar equipes e colaboradores, mas raramente se destaca a necessidade de motivar os líderes, inclusive os CEOs. Este aspecto crucial é, muitas vezes, negligenciado, apesar de ser fundamental para a estabilidade e o sucesso de uma organização a longo prazo.
É indiscutível que a liderança é o motor que impulsiona uma empresa rumo aos seus objetivos. No entanto, nos últimos anos, houve um alarmante aumento na rotatividade de líderes empresariais em todo o mundo. O ritmo acelerado com que os executivos abandonam seus cargos revela uma insatisfação e desmotivação o que, se não forem resolvidas, podem ter repercussões devastadoras.
Segundo o relatório norte-americano “Challenger, Gray & Christmas”, o tempo médio de permanência em uma mesma companhia diminuiu de 12 para cerca de cinco a sete anos. Em 2023, mais de 1.000 CEOs deixaram os cargos, número 33% maior do que em 2022.
Entre casos emblemáticos sobre saídas que não foram bem-sucedidas, está o exemplo recente do Sam Altman, CEO da OpenIA demitido em novembro do ano passado pelo Conselho. Em solidariedade ao executivo, membros importantes da equipe pediram demissão, até mesmo o presidente.
O impacto negativo no mercado foi imediato: em torno de US$ 86 bilhões (R$ 424,53 bilhões) em ações. Então, pressionada pelos investidores e pelo número crescente de desligamentos, a empresa voltou atrás e recontratou Altman, ainda em novembro. O Conselho foi reformulado.
Bob Iger é outro CEO que voltou. Na liderança da Walt Disney Company por 15 anos, até 2020, foi convidado a retornar em 2022 e, no ano passado, renovou até 2026. Por isso, ao fazer um processo de transição é fundamental que seja bem-estruturado e que não traga uma mudança de cultura traumática para a companhia.
De volta ao cerne da questão, embora tenham diversas razões para buscar novos desafios, como então motivá-los? Uma das principais questões a serem consideradas é como desafiar esses profissionais de forma construtiva, incentivando-os a permanecerem por períodos mais longos. É crucial criar um ambiente em que se sintam valorizados e motivados a contribuir de forma significativa, com propósito.
Uma abordagem eficaz para motivar os líderes é envolvê-los ativamente nas dificuldades e nas oportunidades. Isso significa proporcionar um ambiente no qual a equipe seja encorajada a compartilhar ideias, preocupações e visões para o futuro.
Isso requer um CEO que esteja disposto a ouvir e a aprender com seus colegas e subordinados, reconhecendo que a verdadeira inovação e crescimento surgem da colaboração e do diálogo aberto.
Um aspecto fundamental é eliminar o isolamento. Não “varrer os problemas para debaixo do tapete” e contar apenas aquilo que se acredita que ele quer ouvir. Os líderes precisam fazer parte de fato, ser incluídos em discussões que realmente resolverão problemas que impactam o dia a dia. Isso envolve fornecer feedbacks construtivos de forma horizontal e não apenas de cima para baixo.
Brinco com o meu time que estou entediada e peço que eles me desafiem. Instigo-os para que tragam assuntos que posso participar tendo uma troca direta, buscando novas soluções e maneiras de trabalhar.
Para ampliar a conexão, promovo discussões sinceras durante as reuniões, usando ferramentas que não são usuais em ambientes corporativos, como perguntar “qual é o seu superpoder e como isso pode ajudar por aqui?” ou “cite uma característica dos seus pais que quer ensinar para os filhos e outra que não – e o porquê”.
Demonstrar esse interesse genuíno de entender e conhecer melhor as pessoas que trabalham na equipe ampliam a relação de confiança e de pertencimento.
A teoria “Zoom In e Zoom Out” é fundamental neste processo, na qual organizamos a estratégia em grupo e a equipe executa com autonomia. É interessante observar a mudança: antigamente, eu trazia assuntos para que eles se sentissem parte da solução e agora acontece o inverso - são eles que me engajam no problema, que me trazem o que sentem necessidade.
Motivar a liderança é um esforço coletivo que requer o comprometimento de todos os membros da equipe. Afinal, o time inteiro perde com a falta de engajamento.
Então, fica aqui o convite: engaje o seu líder em suas ações, traga desafios, promova conversas abertas, mostre como ele pode ser estratégico em determinada questão e, principalmente, não tenha receio ou preconceito. Todos precisam de motivação, inclusive o seu líder, para que alcancem o sucesso organizacional.