Produtor de café brasileiro ajusta o sistema de irrigação de uma fazenda em Santo Antonio do Jardim (Paulo Whitaker/Reuters)
Colunista
Publicado em 24 de abril de 2023 às 11h41.
Última atualização em 15 de maio de 2023 às 17h33.
Buscando em minha memória algumas lembranças, quase um conhecimento empírico, me lembro dos comentários dos meus avós e dos meus pais em relação ao clima. "Já não faz mais frio como antigamente". Ou "em determinada época do ano não chovia tanto".
De fato, em pleno 2023, algo que já sabemos é que as mudanças climáticas já não são tão "mudanças" assim - são uma constante. E elas têm impactos práticos que vão muito além dos transtornos e calamidades causadas por esses extremos e afetam em muito a agricultura e a produção de alimentos.
A capacidade de produzir alimentos em quantidade e variedade suficiente e fazer este alimento chegar até a população é um tema que vem se agravando diante aos desafios geopolíticos que o mundo enfrenta neste momento.
Para alguns leigos ou ingênuos como eu, uma invasão militar e uma guerra das proporções que estamos vendo entre Rússia e Ucrânia eram impensáveis. E tão impensável para o cidadão comum era o impacto global e a tensão geopolítica que este fato traz para a segurança alimentar mundial de uma crescente população.
Quando colocamos todos esses ingredientes em perspectiva, vemos que um dos grandes desafios da agropecuária mundial está ligado justamente ao equilíbrio entre produção e preservação de recursos naturais.
De um lado, um acelerado crescimento da população mundial, que demanda uma maior produtividade agrícola. De outro, uma pressão para a conservação dos recursos ambientais como meio de combate às mudanças climáticas. O resultado? A necessidade de se produzir alimentos de maneira mais eficiente. De fazer mais com menos.
Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), até o ano de 2050, o planeta contará com aproximadamente 9 bilhões de habitantes, o que faz com que seja preciso aumentar a oferta de alimentos em cerca de 60%. E a maior capacidade de expandir a produção de alimentos está justamente na América do Sul.
Dentro deste contexto, a adoção de sistemas de irrigação inteligentes têm um papel importante. Em uma lavoura irrigada com tais sistemas, produtores rurais já são capazes de produzir até cinco safras em dois anos.
E o Brasil vem caminhando para atingir a capacidade de produção de três safras em um ano. Entretanto, por mais milenar que seja a irrigação na agricultura, muito ainda precisa ser desestigmatizado e esclarecido.
Relatórios da ONU apontam que 70% da água mundial é consumida pela agricultura. E aí começa boa parte do compreendimento da real situação e, principalmente, da oportunidade.
Apenas uma pequena parcela da água que está no ciclo hidrológico é convertida em grãos, tubérculos, ou carne por exemplo. E a grande maioria desta água retorna ao sistema hídrico. Entretanto, há sim espaço para melhorar o uso da água na agricultura irrigada.
A irrigação das lavouras por adoção das tecnologias de pivôs centrais pode ser uma solução importante para este dilema. Atualmente, o produtor rural que utiliza este sistema conta com uma série de dispositivos tecnológicos que lhe auxiliam na tomada de decisão e na eficiência do uso da água. Sensores de umidade de solo instalados no campo cruzam dados da estação meteorológica também instalada no local.
Toda essa gestão da informação culmina com a recomendação de aplicação de água em quantidade e horário, considerando-se evapotranspiração, custo da energia, estágio de desenvolvimento da planta, tipologia do solo e etc. E ao final, o produtor opera a aplicação de água à distância, remotamente pelo seu celular ou computador. Esta é a gestão inteligente do recurso hídrico.
Quando falamos sobre inovação, existem softwares e aplicativos de controle e monitoramento remoto do sistema, tecnologias para a verificação da sanidade da lavoura, usinas fotovoltaicas para viabilizar o uso de energia solar, além das soluções de conectividade para garantir o funcionamento de todos os equipamentos. Já nos é sabido de longa data que não temos escolha entre produzir ou conservar os recursos naturais. Precisamos, sim, de ambos.