Filantropia de performance: projetos incentivados, que permitem uma dedutibilidade fiscal do Imposto de Renda, são um grande instrumento se usados com competência (Manusapon Kasosod/Getty Images)
Colunista
Publicado em 13 de abril de 2023 às 07h00.
Última atualização em 15 de maio de 2023 às 17h24.
Como você definiria “filantropia”? Estamos em 2023. Nossa sociedade sofre constantemente diferentes transformações. No mundo esportivo, por exemplo, novos recordes são conquistados quase que diariamente; no mundo corporativo, diversos paradigmas vêm sendo quebrados, buscando boas práticas, maiores rentabilidades, novos modelos de negócio. E a lista segue extensa. Enfim, em um mundo cada vez mais dinâmico, o que se tem buscado é performance.
Porém, em um setor específico da nossa sociedade, ainda estamos atrasados, sem evoluir. O setor da filantropia, principalmente no Brasil, é inegavelmente atrelado a ações de caridade - ato pelo qual se beneficia o próximo, especialmente os mais vulneráveis. Ditos populares como “fazer o bem sem olhar a quem” e “dar uma esmola para descontar os pecados” parecem não estar em sintonia com o mundo em que vivemos.
Colocamos as palavras ‘performance’, ‘ROI’, ‘métricas’, ‘objetivos’, quando tratamos do investimento privado. Por que estes termos tendem a ficar em segundo plano no debate sobre investimento social ou filantropia?
Se estamos cada vez mais exigentes em relação àquilo que consumimos, compramos, onde trabalhamos e o que buscamos, essa via de mão dupla, que inclui instituições e a sociedade, ainda tem um longo caminho para se alinhar.
Grande parte das organizações filantrópicas ainda se ampara na vitimização e a usa como respaldo para a desorganização e falta de processos.
Do lado dos investidores, de pessoas e empresas potencialmente doadoras e de contribuintes das filantrópicas, o que se vê são muitos aportes de recursos “rasos”, em projetos com temas que se dizem “inovadores”, mas muitas vezes estão desconectados das necessidades da sociedade.
Seria muito importante que todos os agentes da nossa sociedade (civil, governo e instituições filantrópicas) abrissem um diálogo franco para entender e trabalhar, com performance, os reais problemas das políticas públicas. E como reconhecer uma instituição que pratica os bons princípios da filantropia de performance, que gera resultados de impacto na comunidade?
A resposta é, mas não é difícil: uma "instituição filantrópica de performance" baseia-se em modelos de excelência em gestão, trazendo as boas práticas de gestão para dentro de sua administração e da execução de seus projetos.
Os projetos incentivados, que permitem uma dedutibilidade fiscal de até 10% do Imposto de Renda, para pessoas físicas e jurídicas, em propostas previamente aprovadas pelo governo, são um grande instrumento se usados com competência.
Neste modelo, os recursos oriundos de renúncia fiscal devem ser aplicados em iniciativas desenhadas para causar impacto, com resultados medidos e comunicados de forma consistente aos parceiros, que asseguram à sociedade que os investimentos serão feitos com competência e responsabilidade.
Quando um parceiro adere a tal proposta, ele se soma a um esforço que já está em andamento, e passa a fomentar e potencializar uma instituição que trará retorno do investimento social, com a garantia de alta performance de resultados, assumindo a posição de agente do desenvolvimento.
Para aqueles que pensam em filantropia como grande mecenato, com festas black-tie, fica a provocação para uma atenção bem mais voltada para a gestão do dia a dia. Melhor esquecer a pompa e os temas que ainda não estão no centro do interesse da sociedade.
Sendo um dos pilares fundamentais para a garantia de uma sociedade justa e igualitária, o setor da saúde funciona como uma grande engrenagem neste movimento qualificado da filantropia de performance, que troca a caridade restrita a poucos por resultados de amplo alcance. Há bons projetos e há bons gestores à espera de bons parceiros. A sociedade só tem a ganhar com a soma das competências de cada um.