Líderes Extraordinários

A armadilha do bom e velho plano

O sucesso do passado pode ser inspirador — ou perigoso. Em tempos de mudança, repetir o que já funcionou pode ser o erro mais confortável que um líder pode cometer.

Estratégia empresarial: manter planos antigos pode ser um risco oculto para líderes.

Estratégia empresarial: manter planos antigos pode ser um risco oculto para líderes.

Duani Reis
Duani Reis

Colunista

Publicado em 11 de setembro de 2025 às 14h34.

Todo mundo já ouviu a frase: “Time que está ganhando não se mexe”.
Mas, o que acontece quando  esse time está ganhando um jogo que já acabou?

Muitas decisões estratégicas — de líderes, conselhos e empresas — continuam sendo tomadas com base em memórias de sucesso. Planos que funcionaram no passado, mercados que já não existem  e estruturas que eram inovadoras… em 2015.

O problema não está em ter história. O risco é ser dominado por ela.

É fácil se apegar ao que já deu certo. O sucesso tem esse efeito colateral: ele reforça comportamentos e cria atalhos mentais. Mas o contexto muda. O que funcionou em um ciclo pode atrapalhar no seguinte. E, sem perceber, líderes começam a operar com mapas antigos em territórios novos.

Não é raro ver empresas que lideraram seus mercados por anos enfrentarem dificuldades justamente quando tentam repetir fórmulas consagradas.

O setor varejista viu isso acontecer com marcas tradicionais que demoraram a reagir ao avanço do e-commerce. Em vez de redesenhar suas ofertas, insistiram em estratégias de loja física baseadas em dados de outro tempo.

Da mesma forma, a indústria da música precisou se reinventar depois que tentou proteger modelos antigos de receita diante da digitalização. O streaming não destruiu a música — apenas mudou a forma como ela chega às pessoas.

Em ambos os casos, o apego ao que já funcionou atrasou o que precisava nascer.

Há alguns anos, li uma reflexão sobre blogs que usava o boxe como metáfora. O autor dizia que mesmo os grandes campeões vencem, perdem e vencem de novo. Muhammad Ali, Joe Frazier, George Foreman: todos eles foram derrubados em algum momento. O que fazia diferença era a capacidade de voltar, ajustar o jogo e lutar de novo — sem repetir o mesmo movimento esperando resultado diferente.

“Blogar”, segundo ele, é um jogo de números. O sucesso de ontem não garante audiência amanhã. É o que você faz hoje — e como se adapta — que conta.

O mesmo vale para a estratégia. Repetir acertos antigos não garante que você esteja pronto para o próximo round. E essa é a principal armadilha do “bom e velho plano”: ele passa a ser mantido mais por inércia do que por relevância.

Quanto maior o sucesso, maior o risco. O que era coragem vira conservadorismo. O que era inovação vira protocolo. E a liderança começa a usar o passado como justificativa, em vez de referência.

Mas a verdade é: estratégia é feita para o presente, com consciência de futuro — e apenas memória do passado.

É preciso saber o que manter, o que abandonar e o que precisa nascer. Esse olhar exige humildade. Requer escuta. E, principalmente, coragem para fazer diferente mesmo quando “dar certo de novo” parece mais confortável do que “fazer certo agora”.

Liderar com estratégia é saber quando parar de repetir. É saber dizer: “isso já foi o melhor plano que tínhamos — mas não é mais”.

Porque todo sucesso tem prazo de validade. E quando a liderança ignora isso, o bom e velho plano deixa de ser um ativo… E vira o primeiro passo do erro.

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