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Sigrid Guimarães, CEO da Alocc, é a nova colunista da EXAME Invest

Sócia-fundadora da Alocc Gestão Patrimonial vai escrever sobre finanças comportamentais, decisões de investimento, planejamento e outros temas relacionados

Sigrid Guimarães, sócia-fundadora da Alocc Gestão Patrimonial e especialista em finanças: nova colunista da EXAME Invest | Foto: Leo Aversa/Alocc (Leo Aversa/Alocc/Divulgação)

Sigrid Guimarães, sócia-fundadora da Alocc Gestão Patrimonial e especialista em finanças: nova colunista da EXAME Invest | Foto: Leo Aversa/Alocc (Leo Aversa/Alocc/Divulgação)

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Marcelo Sakate

Publicado em 17 de janeiro de 2022 às 06h30.

Última atualização em 17 de janeiro de 2022 às 17h51.

A crise provocada pela pandemia levou investidores a erros clássicos de comportamento, ao mesmo tempo em que trouxe novas perspectivas para conceitos mais difundidos. É o que afirma Sigrid Guimarães, CEO e sócia-fundadora da Alocc Gestão Patrimonial, especialista em finanças e nova colunista da EXAME Invest.

Guimarães escreverá artigos uma vez por mês para a EXAME Invest nos temas de finanças comportamentais, tomada de decisões de investimentos, planejamento patrimonial e outros relacionados. Sempre com uma abordagem acessível para os leitores, como costuma fazer com seus clientes. O primeiro artigo sai na quinta-feira, dia 20.

"A pandemia fez as pessoas se darem conta de que é necessário ter um colchão de liquidez maior. O mercado falava muito em seis meses a um ano da renda, e eu sempre falei de três a cinco anos. E as pessoas tinham uma resistência enorme. Mas na pandemia pudemos ver casos em que o colchão ficou curto, pessoas que estão há dois anos com a receita muito comprometida", disse Guimarães, referindo-se à forma de encarar a reserva de emergência.

A Alocc é um family office com 15 anos de existência, cerca de 300 famílias atendidas e 10 bilhões de reais sob gestão. O objetivo é cuidar da gestão de patrimônio de seus clientes de forma holística, com foco no longo prazo.

"Buscamos entender a estrutura familiar e a vida financeira do cliente e daí montar um planejamento patrimonial para durar o período desejado, atravessando crises."

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Na categoria dos erros clássicos provocados pela crise da pandemia, a planejadora financeira coloca o comportamento reativo do investidor ao que acontece com os preços dos ativos. "O mercado está caindo e as pessoas querem fazer alguma coisa, tomar alguma atitude."

"Não se mexe no barco no meio da tempestade. Você se prepara para a tempestade, mas, quando ela chega, fica quieto e esperar passar. Faz parte passar por momentos assim. O erro foi não ter se preparado para isso."

Veja a seguir trechos da entrevista com Sigrid Guimarães:

Quais os aprendizados que o investidor teve com a crise da pandemia? 

Houve uma novidade na questão do colchão de segurança. É o dinheiro que você vai acessar quando tiver algum problema, que fica na categoria de renda fixa, mais líquida e disponível.

A pandemia fez as pessoas se darem conta de que é necessário ter um colchão de liquidez maior. O mercado falava muito em seis meses a um ano da renda, e eu sempre falei de três a cinco anos. E as pessoas tinham uma resistência enorme. Mas na pandemia pudemos ver casos em que o colchão ficou curto, pessoas que estão há dois anos com a receita muito comprometida. Esse foi um viés de comportamento que eu vi mudar.

A pandemia também mostrou a necessidade de planejamento. Houve uma busca maior por planejamento, também por questões sucessórias. É uma crise diferente das outras. Ela tem sido muito longa.

Quais os principais erros cometidos por investidores na crise?

Eu tenho casos de clientes que estão vindo de bancos e outras instituições, que precisam acessar a renda fixa, mas o dinheiro está preso em papéis: COE estruturado com vencimento longo, papéis pré [prefixados] em que, se você sair hoje, vai tomar prejuízo.

Ou seja, o cliente precisa acessar o colchão de liquidez por qualquer motivo, mas, do jeito como foi montado, se ele resgatar esses recursos, vai sair com prejuízo. Esse colchão foi alocado de maneira inadequada.

Colchão de liquidez é um dinheiro que tem que estar líquido, disponível, no mesmo preço original. 'Ah, eu tenho colchão de liquidez, mas se sair hoje, vou perder 20%', diz o cliente. Então era melhor estar em bolsa, ao menos ele poderia ter se apropriado dos ganhos. Esses são erros que eu vejo com muita frequência.

Que outros erros chamam a atenção? Houve muito 'efeito manada'?

Existem pessoas que sentem necessidade de correr atrás do mercado. Cai o mercado e o cliente acha que precisa trocar de produto, de distribuição ou fazer alguma coisa. Eu falo que tem que esperar passar. Se o cliente perdeu o emprego ou a empresa está mal, o colchão de liquidez serve para esperar passar. O resto da carteira vai chacoalhar.

Mas o cliente diz: 'vou realizar o prejuízo.' Você só faz isso por dois motivos: ou não aguentou e deixou a emoção tomar conta das decisões sobre os seus investimentos. E isso vai ser ruim para você sempre. Ou porque colocou em ações um dinheiro do qual você vai precisar. E isso é outro erro. Não deveria ser um dinheiro para daqui a seis meses.

As pessoas procuram por milagres que não existem. Eu sempre falo para os meus clientes: 'o bom gestor, a pessoa que vai cuidar do seu dinheiro, é aquele que vai tirar o melhor do mercado'.

Quando o mercado cai, é o momento em que você consegue notar a diferença do bom gestor do ruim. Porque quando o mercado sobe, todos ganham. Quando o mercado cai, muita gente não aguenta e quebra. E quem cai menos está fazendo um bom trabalho para você. Quando o mercado volta a subir, essa pessoa já está em melhor posição do que aquela que despencou.

E os investidores em geral assimilam as lições ou é grande o risco de voltar a agir com a emoção?

Na crise seguinte sempre é melhor. Tem cliente que está comigo há dez, doze anos e não me liga há cinco meses mesmo com o mercado caindo. Quando liga, eu falo 'vamos separar o risco do medo? Tem risco de alguma perda definitiva? Você está com a ação de alguma empresa que pode quebrar? Há algum risco sistêmico no país?'

Na Alocc, fazemos a seleção dos melhores gestores do mercado, acompanhamento qualitativo das carteiras, para evitar o risco de perdas definitivas. 'Por que está caindo? Por causa do mercado lá fora, da Ômicron, do governo etc. Uma empresa perdeu 15% do valor. Faz sentido? Aconteceu algo com ela?' Conversamos com os gestores que têm as ações, olhamos os fundamentos das empresas. 'O dinheiro é para hoje? Não?' Separamos o risco do medo.

Hoje a informação está muito mais acessível para os investidores, o que é algo positivo. Quais os cuidados a serem tomados?

Há o erro clássico do investidor que sempre tem um amigo com a melhor dica do mercado. 'Meu amigo, filho de fulano, disse que hoje é o dia para comprar a ação xpto.' Ah, quantos anos tem o seu amigo? '23 anos' O que ele faz? 'Acabou agora a faculdade e trabalha no escritório de agentes autônomos de uma corretora.'

O menino pode ser um gênio, mas não vai conhecer mais do que o gestor de ações que só faz isso há muitos anos, que estuda a empresa, olha o balanço, faz o fluxo de pagamento, desconta a valor presente, estuda os fornecedores, os executivos. Não tem milagre. O menino pode acertar um dia, mas de forma consistente não tem como dar certo.

No fim, como convencer o investidor a atravessar por momentos de crise sem entrar em desespero?

Eu busco tirar o foco do cliente do micro e levar para o macro, para o longo prazo. Proponho olhar o que já aconteceu em períodos mais extensos, com crises atravessadas e superadas. 'Você precisa do dinheiro para agora ou seis meses? Ou é para a sua aposentadoria? Porque para agora e para daqui a seis meses você tem o colchão de emergência.'

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