Tanques ucranianos em Kiev, capital do país, em meio ao ataque da Rússia (Valentyn Ogirenko/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2022 às 09h44.
Os últimos dias foram de grande intranquilidade no tabuleiro geopolítico, com a pesada investida armada da Rússia contra a Ucrânia. À medida que assistimos a História se desenrolando perante nossos olhos, sem visibilidade sobre os próximos capítulos, é impossível não nos perguntarmos a repercussão disso tudo para os investimentos.
E, de fato, a semana foi de grande volatilidade nos mercados globais, com o Leste Europeu no centro do noticiário. E convenhamos: assim deverá continuar nas próximas semanas, como sina inevitável até que tenhamos indícios de desfecho.
Investidores menos experimentados assistem a isso tudo visivelmente preocupados, à medida que os mercados experimentam forte volatilidade. Como não poderia deixar de ser, sou frequentemente questionado sobre o que acho de vender posições para se proteger, retornando à bolsa quando as coisas estiverem mais tranquilas.
Pois permita-me dar algumas opiniões sobre isso.
O primeiro ponto é simples: vai ter volatilidade sim. E isso alcança todo mundo. As tensões geopolíticas repercutem nos mercados financeiros e de capitais, afetando o custo de capital por meio do aumento do famigerado prêmio de risco.
Tendem a ser mais afetadas as empresas que carregam em seus valuations maiores taxas esperadas de crescimento. São mais resilientes, por outro lado, as companhias que apresentam maior estabilidade em seus resultados. Resiliência, entretanto, não é imunidade: a volatilidade está ali para todos.
A tendência, também, é a de que investidores privilegiem investimentos de maior liquidez – justamente para contarem com maior margem de manobra para o caso de as coisas piorarem. Consequentemente, independentemente de seus fundamentos no mundo real, as small caps tendem a apresentar pior desempenho no curto prazo.
Aí vamos para riscos específicos, de setores que são direta ou indiretamente afetados não somente pelo canal financeiro mas também no mundo real. Os principais candidatos são petróleo e cadeias do agronegócio (trigo, milho, fertilizantes).
Muito bem. E aí?
Posso falar por mim: não vendi nada. Pelo contrário, minha tendência é aproveitar o momento para reforçar posições.
Se a aversão a risco decorrente do conflito, que impacta o custo de capital – e, em maior medida, afeta todo mundo – é um fenômeno passageiro, então me parece boa oportunidade para aportar. É o que estou fazendo do lado de cá.
Diz a velha máxima: compre ao som dos canhões; venda ao som dos violinos. Desnecessário dizer qual é o som que ecoa no momento, não é mesmo?
É em momentos assim que fica evidenciado de maneira mais latente algo que já disse e repeti em diversas ocasiões: investir é contraintuitivo; demanda de nós comportamentos que contrariam o que temos de mais arraigado do ponto de vista evolutivo, que é buscar proteção do perigo.
A ideia de sair agora e voltar “quando as coisas estiverem mais calmas” se traduz, no final do dia, em vender barato (em meio a um contexto de aversão a risco, com taxas de desconto nas alturas) e recomprar caro (quando tudo estiver bem, preços já terão avançado).
Em caso de dúvidas, fique onde está. Respire. E lembre que, como tudo, isso também vai passar.
*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Escreve a cada duas semanas na EXAME Invest. Twitter: @_rschweitzer; Instagram: @ricardoschweitzer