Incertezas na política e na economia afetam os ativos de renda fixa por meio da marcação a mercado (Jonathan Kitchen/Getty Images)
Marcelo Sakate
Publicado em 8 de março de 2021 às 06h20.
Refúgio do investidor conservador ou de quem tem uma reserva de emergência, a renda fixa enfrenta períodos desafiadores. A estabilidade associada ao ativo tem sido impactada no curto prazo por uma série de fatores internos e externos. Diante de tal cenário, como montar uma carteira para superar não só a inflação como também o CDI em horizontes de 12 meses ou mais? Esse é o tema do mais novo relatório da EXAME Invest Pro.
Primeiro, é importante entender quais fatores estão afetando a renda fixa. No cenário interno, as expectativas de inflação estão em alta como reflexo de pressões no atacado -- em boa parte por causa da valorização do dólar -- e da defasagem dos preços dos combustíveis. O aumento das incertezas politico-econômicas com a demissão do presidente da Petrobras de forma intempestiva e o agravamento da pandemia no país pressionam os juros futuros.
No front externo, o aumento dos juros de longo prazo dos Estados Unidos também acaba pressionando as taxas no Brasil, que precisam subir para que atrair compradores para títulos de maior risco. Tais efeitos se refletem na marcação a mercado dos papeis: se os juros sobem, o valor presente do título recua.
São fatores que impactaram os papeis de renda fixa e que permanecem de alguma forma em março. Por outro lado, a aprovação no Senado da PEC Emergencial na última semana, que fixa gatilhos para evitar o descontrole dos gastos públicos, ajuda a amenizar o risco fiscal, enquanto o avanço da vacinação nos Estados Unidos e em outros países reduz as incertezas, o que pode possibilitar a queda dos juros.
"Mas essa queda está longe de ser certa para apontarmos uma trajetória descendente dos juros, pelo contrário. O momento atual ainda é de bastante cautela para tomada de risco, o que justifica posições cautelosas na renda fixa", escrevem Renato Mimica, head de investimentos da EXAME Invest Pro, e Alan Ghani, head de renda fixa.
Diante de tal cenário, Mimica e Ghani promoveram uma alteração na carteira de renda fixa da EXAME Invest Pro para março, ampliando a fatia alocada em títulos do Tesouro Selic (LFT), que são pós-fixados. Eles mantiveram quase metade da carteira (45%) em fundos de crédito privado high grade, ou seja, composto por títulos privados com baixo risco de crédito, que apresentaram o melhor retorno da carteira em fevereiro.
Outra decisão importante, segundo os analistas, é não alocar recursos em papeis prefixados neste momento, "diante dos riscos inflacionários de curto prazo e da possibilidade de subida dos juros". A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central será na semana que vem, nos dias 16 e 17. A expectativa de boa parte do mercado é a de um aumento de 0,25 ou 0,50 ponto percentual na taxa Selic, que está em 2% ao ano.
Saiba mais sobre as recomendações dos analistas no relatório "Momento ainda é de cautela", da EXAME Invest Pro.