Dados da B3 mostram que o posicionamento comprado em dólar via derivativos dos fundos locais passou de quase zero no começo de julho para US$ 5,5 bilhões (Nelson A Ishikawa/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 16 de setembro de 2021 às 16h15.
Última atualização em 16 de setembro de 2021 às 16h38.
Gestores têm adotado uma postura mais cautelosa após o real ter se fortalecido mais do que qualquer outra principal moeda global nos últimos seis meses, antecipando ventos contrários que incluem revisões para baixo nas projeções para crescimento econômico e turbulência política.
A Kapitalo Investimentos, que tem mais de 20 bilhões de reais sob gestão, disse em carta a clientes que zerou posição comprada no real, citando o alto nível de tensão institucional e incerteza econômica elevada no Brasil. Dados da B3 mostram que o posicionamento comprado em dólar via derivativos dos fundos locais passou de quase zero no começo de julho para 5,5 bilhões de dólares.
O real avançou mais de 7% ante a moeda americana desde março, quando o Banco Central se tornou um dos primeiros a começar a elevar a taxa de juro, dando início a um ciclo de aperto monetário agressivo para combater a inflação.
Agora, bancos incluindo o J.P. Morgan estimam que a economia brasileira vá crescer abaixo de 1% no próximo ano. O país também enfrenta um impasse político sobre o orçamento e se prepara para o que podem ser eleições presidenciais altamente polarizadas em 2022.
O Bank of America, que ouviu 31 investidores de América Latina com 77 bilhões de dólares sob gestão, verificou uma redução das expectativas para o Brasil à medida que a política se torna o principal ponto de atenção. Agora, apenas 29% dos entrevistados veem o dólar abaixo de 5,10 reais no fim do ano, ante 45% em agosto.
“O debate eleitoral antecipado e os riscos fiscais nos impedem de ter posições significativas no real agora”, disse Bruno Marques, gestor da XP Asset Management, que administra cerca de 122 bilhões de reais. Marques disse que o fundo XP Macro está com posição neutra em relação à moeda no momento, após ter ficado comprado durante alguns momentos neste ano. “Não vejo oportunidade de grandes alocações no real”, disse Marques.
Contudo, alguns não estão convencidos de que o rali terminou. A combinação de juros mais altos e balança comercial robusta deve favorecer a moeda brasileira, disse Fabricio Taschetto, diretor de investimentos da Ace Capital.
Adicionalmente, o sinal do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de que a autoridade monetária poderá prover liquidez para o fluxo do overhedge no fim do ano também é positivo, disse Gustavo Pessoa, um dos sócios-fundadores da Legacy Capital. A Legacy carrega uma posição vendida simultaneamente em dólar contra real e no Ibovespa.
A valorização do real desde março é quase o dobro da registrada pelo peso mexicano, o segundo melhor desempenho entre as principais divisas do mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg. Mas esse ganho ocorreu do início de março ao final de junho, quando o dólar caiu cerca de 16% em relação ao real, chegando a 4,91 reais. Desde então, a moeda americana avançou para cerca de 5,28 reais, com períodos atípicos de volatilidade do real.